sábado, 5 de setembro de 2009

Quem avisa amigo é...







Entrei no site do Exército Brasileiro e me surpreendi com a franqueza dos seus dizeres sobre as “Características da Profissão Militar” (sic):


2. Características da Profissão Militar

a. Risco de vida

Durante toda a sua carreira, o militar convive com risco. Seja nos treinamentos, na sua vida diária ou na guerra, a possibilidade iminente de um dano físico ou da morte é um fato permanente de sua profissão.
O exercício da atividade militar, por natureza, exige o comprometimento da própria vida.

b. Sujeição a preceitos rígidos de disciplina e hierarquia


Ao ingressar nas Forças Armadas, o militar tem de obedecer a severas normas disciplinares e a estritos princípios hierárquicos, que condicionam toda a sua vida pessoal e profissional.

c. Dedicação exclusiva

O militar não pode exercer qualquer outra atividade profissional, o que o torna dependente de seus vencimentos, historicamente reduzidos, e dificulta o seu ingresso no mercado de trabalho, quando na inatividade.

d. Disponibilidade permanente

O militar se mantém disponível para o serviço ao longo das 24 horas do dia, sem direito a reivindicar qualquer remuneração extra, compensação de qualquer ordem ou cômputo de serviço especial.

e. Mobilidade geográfica

O militar pode ser movimentado em qualquer época do ano, para qualquer região do país, indo residir, em alguns casos, em locais inóspitos e destituídos de infraestrutura de apoio à família.

f. Vigor físico

As atribuições que o militar desempenha, não só por ocasião de eventuais conflitos, para os quais deve estar sempre preparado, mas, também, no tempo de paz, exigem-lhe elevado nível de saúde física e mental.
O militar é submetido, durante toda a sua carreira, a periódicos exames médicos e testes de aptidão física, que condicionam a sua permanência no serviço ativo.

g. Formação específica e aperfeiçoamento constante

O exercício da profissão militar exige uma rigorosa e diferenciada formação. Ao longo de sua vida profissional, o militar de carreira passa por um sistema de educação continuada, que lhe permite adquirir as capacitações específicas dos diversos níveis de exercício da profissão militar e realiza reciclagens periódicas para fins de atualização e manutenção dos padrões de desempenho.

h. Proibição de participar de atividades políticas

O militar da ativa é proibido de filiar-se a partidos e de participar de atividades políticas, especialmente as de cunho político-partidário.

i. Proibição de sindicalizar-se e de participação em greves ou em qualquer movimento reivindicatório

O impedimento de sindicalização advém da rígida hierarquia e disciplina, por ser inaceitável que o militar possa contrapor-se à instituição a que pertence, devendo-lhe fidelidade irrestrita. A proibição de greve decorre do papel do militar na defesa do país, interna e externa, tarefa prioritária e essencial do Estado.

j. Restrições a direitos trabalhistas

O militar não usufrui alguns direitos trabalhistas, de caráter universal, que são assegurados aos trabalhadores, dentre os quais incluem-se:
- remuneração do trabalho noturno superior à do trabalho diurno;
- jornada de trabalho diário limitada a oito horas;
- obrigatoriedade de repouso semanal remunerado; e
- remuneração de serviço extraordinário, devido a trabalho diário superior a oito horas diárias.

k. Vínculo com a profissão

Mesmo quando na inatividade, o militar permanece vinculado à sua profissão.
Os militares na inatividade, quando não reformados, constituem a "reserva" de 1ª linha das Forças Armadas, devendo se manter prontos para eventuais convocações e retorno ao serviço ativo, conforme prevê a lei, independente de estarem exercendo outra atividade, não podendo por tal motivo se eximir dessa convocação.

l. Conseqüências para a família

As exigências da profissão não ficam restritas à pessoa do militar, mas afetam, também, a vida familiar, a tal ponto que a condição do militar e a condição da sua família se tornam estreitamente ligadas:
- a formação do patrimônio familiar é extremamente dificultada;
- a educação dos filhos é prejudicada;
- o exercício de atividades remuneradas por cônjuge do militar fica, praticamente, impedido; e
- o núcleo familiar, não estabelece relações duradouras e permanentes na cidade em que reside, porque ali, normalmente, passará apenas três anos.



Como se pode depreender do texto, há poucos atrativos a motivar o abraço à profissão, ficando no ar certa dúvida em relação à verdadeira intenção do alerta, que mais parece um oximoro a serviço da inteligência dos cidadãos que pretendam se arriscar a vestir uma farda verde-oliva. Porque não se há de negar que, embutida na exaltação, existe a reclamação indicando aos interessados que somente aguentarão o sacrifício do militarismo praticado pelo Exército Brasileiro em tempo de paz se houver verdadeira vocação. Terá sido esta a intenção?... De qualquer modo, louve-se a iniciativa dos militares federais, que não querem entre eles os aventureiros nem os desesperados atrás de emprego. Lá a vocação tem de ser real, na medida em que as agruras profissionais, familiares e sociais são explícitas no site e anteriores a qualquer decisão individualizada. A canoa é furada, nela embarca quem quiser...
Tal exposição frontal pode ser vista, talvez, como protesto, daí “oximoro”, porque realmente produz no espírito a dúvida: não me parece definida como boa causa a aceitação de tanta desgraça profissional pelos militares federais. Afinal, embora seja o sacerdócio típico da profissão, o papel do militar não é o de sofrer para ganhar os céus. Pelo contrário, tendo em vista a importância da defesa da pátria e da soberania nacional contra agressões externas, bastaria isso para a profissão ser valorizada acima e além dos direitos sociais comuns e acessíveis a todos os trabalhadores brasileiros. Mas a contrapartida apontada é inversa: salários baixos, desintegração familiar e social, risco máximo nos treinamentos em tempo de paz, rigor disciplinar, ameaça permanente de perda do emprego depois de estável e até mesmo após a passagem para a inatividade etc.
Se fôssemos traçar o perfil da profissão policial-militar aqui no Rio de Janeiro, como seria?... Ora bem, não sei se o faço ou deixo aos leitores apontar cada uma das cruéis realidades que os candidatos ao ingresso na PMERJ enfrentarão desde o primeiro dia. De certo modo, já dei a dica no meu romance O Espião, disponível no meu site (
www.emirlarangeira.com.br). Portanto, vou aguçar a observação do leitor para listar nossas desgraças ao modo do Exército Brasileiro. Quem sabe depois conseguiremos postá-las no site da PMERJ?... Vamos ao twitter...

2 comentários:

Rose Mary Motta Prado disse...

Na verdade eu diria que não vi atrativo nenhum para se ingressar no exército!!!
Agora para entrar para a PM hoje em dia só vejo 3 motivos:
sangue azul nas veias, loucura ou interesses excusos!!!
Quanto ao livro o Espião,realmente é muito bom e não consegui sair da frente da tela do noteboook até chegar ao final! Recomendo!!!

Marcio disse...

A cada dia que passa vejo que o militarismo esta ultrapassado para a seguranca publica, não suporto o militarismo mais me enquadro.

Um grande abraço