quarta-feira, 3 de maio de 2017

VIOLÊNCIA URBANA NO RJ – COM A PALAVRA OS ESPECIALISTAS, SEM PALAVRAS O GOVERNANTE



“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)


Importante o depoimento de especialistas, agora afinados com a realidade, enquanto o governante Pezão, “sem palavras”, abre a boca para pedir à União uma ajuda que já se sabe desgastada desde a sua criação como um programa do Ministério da Justiça: a Força Nacional de Segurança Pública (FSN), formada por bombeiros e PMs que em maioria não conhecem o terreno onde vai supostamente combater traficantes, nem sabem quem são os traficantes, ferindo assim a secular lógica de combate que determina aos comandantes o conhecimento prévio do terreno e do inimigo, além do “conhece-te a ti mesmo”, o que põe o já desgovernado Pezão “sem palavras”.
A PMERJ, nesta sensacional operação de emergência, provou o que efetivamente sabe: conhece o terreno (batalhão da área), conhece o inimigo (parte mais fácil porque os experimentados PMs flagraram o inimigo com a mão na botija) e se conhece (conhece-te a ti mesmo) como a melhor tropa combatente de Unidades Operacionais, claro que em circunstâncias contrárias à “lógica” do fugidio Beltrame, que apostou tudo nos novatos que até agora só fizeram morrer como morreram os cadetes do Sul na Guerra da Secessão norte-americana: como patos numa desconhecida lagoa.
Contudo, o mais importante foi a apreensão de armas de guerra que bem provam o poderio bélico dos traficantes, e não como sugeriu o especialista José Vicente na matéria em comento, mas como a PMERJ vê rotineiramente em muitas favelas: bem mais fuzis do que a impressionante quantidade apreendida, que realmente fica às vezes esperando oportunidade de uso para não desfalcar a maior quantidade que se usa na rotina de defesa dos territórios de facções vendedoras de drogas. Portanto, e sem considerar a lógica genérica do Coronel José Vicente, essas armas são usadas para conquistas e também para a defesa de territórios ameaçados por facções inimigas no rentável comércio de drogas que assola o país e tem no Rio de Janeiro o seu exemplo talvez máximo em função da cultura da violência e do sangue.
É esta cultura da violência e do sangue, - que atua como redemoinho a sugar a PMERJ, que reage em braçadas, mas a um alto preço de mortes diárias de seus integrantes – é esta cultura que está posta num cenário de grave perturbação da ordem pública, porém solenemente ignorada por um presidente ilegítimo, que, além disso, e por razões até pessoais, detesta o “sem palavras” Pezão. E quem paga é a população do RJ e sua PMERJ, esta, que por mais que se desdobre para prender os criminosos em vez de matá-los, não é valorizada pela mídia defensora da “bandidolatria”, vocábulo que merece ser dicionarizado de tão significativo nos dias de hoje no RJ.
Porque, como sabemos, a “bandidocracia” já existe desde que os fundadores do PDT negociaram com o Comando Vermelho, no Presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande, as eleições do caudilho no RJ com o slogan “Brizola na cabeça”. Com tudo isso, porém, e como o povo não tem memória a não ser para criticar a PMERJ, um deputado estadual, major PM inativo, deu o título de “herói” ao caudilho que prestigiou os criminosos da facção Comando Vermelho, como nos informou com todas as letras o jornalista Carlos Amorim, que durante muito tempo foi diretor no sistema Infoglobo, o que denunciei faz tempo em texto do qual reproduzo o que aqui interessa, sendo certo que o texto é meu e não estará entre aspas, a não ser as citações:

O BRIZOLISMO EM AÇÃO



Apenas como referência central de um imaginário continuum histórico, reporto-me aos nefastos episódios de PMs e moradores de Vigário Geral brutalmente assassinados respectivamente em 28/29 ago 93 (sábado/domingo) e 30/31 ago 93 (domingo/segunda). Esses dois fatos bem refletiram o resultado de uma série de desmandos estatais por obra consciente de uma facção política que em muito contribuiu para a desordem pública no Estado do Rio de Janeiro. Como essa facção será muito citada, devo explicar seu significado escudado no notável historicista e cientista político Moisés I. Finley, em sua obra "Democracia Antiga e Moderna", Ed. Graw Ltda, 1988, págs. 60/1:

“A facção é o maior mal e o perigo mais comum. Facção é a tradução convencional da palavra grega stasis, uma das mais extraordinárias que podem ser encontradas em qualquer língua. Sua raiz significa colocação, montagem, estatura, estação. Sua gama de significados políticos pode ser mais bem ilustrada apenas pela relação de definições dicionarizadas que podem ser encontradas: partido, partido formado com fins sediciosos, facção, sedição, discórdia, divisão, dissensão e, finalmente, um significado bem abonado que os dicionários incompreensivelmente omitem, a saber: guerra civil ou revolução.”

No início, tudo parecia fruto do pânico generalizado entre as atônitas e incompetentes autoridades públicas e seus agentes – a facção – designados para apurar a chacina de Vigário Geral, pois o assassinato dos 04 (quatro) PMs na véspera foi imediatamente esclarecido e atribuído a traficantes homiziados na favela. Mas hoje, passados os anos, vencido o momento mais turbulento, e aprofundada a reflexão, vê-se que outras variáveis frias e calculistas, de cunho meramente político e ideológico, já estavam engendradas na cabeça daquelas autoridades públicas. Na verdade, tudo funcionou "por música", tendo apenas os dirigentes e auxiliares da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Ministério Público – a facção – servido voluntariamente como instrumentos da diabólica solução (fabricação de culpados), tudo para livrar o atônito governante Brizola de sua própria tragédia já anunciada: a intervenção federal.
A facção, formada por subservientes oficiais e praças da PMERJ, por policiais civis e por alguns promotores de justiça, vinha adrede motivada por diversos incentivos pessoais e profissionais, amparada pela tese brizolista dos "direitos humanos", via unívoca que sempre visou a imposição da inércia do aparelho policial em detrimento da pujança do crime organizado, especialmente do CV.
Na época florescia na PMERJ a cultura do "operacional" e do "administrador", preconceito instalado no transcurso do primeiro comando do Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira, aliás, muito conveniente durante o primeiro período de brizolismo (1983-1986). E o que era apenas cultura passou a ser nesse segundo momento de poder brizolista (1991-1994) um objetivo mais claro: quem era "operacional" –"fodão" – passou a ser "bandido" e perseguido como tal pela facção. Em compensação, os "administradores" – "bundões" – eram privilegiados por promoções e cargos de confiança. Dividiu-se a PMERJ, deste modo, em dois segmentos distintos, instituindo-se um cisma que atingiu limites insuportáveis.
O preconceito contra os "fodões" foi elevado ao extremo de o oficial não poder mais portar arma, pois servia para designá-lo como possível "bandido" (“fodão”). Mas isto não era por acaso... Neste ponto, vale sublinhar algumas reflexões escudadas na obra sobre o CV, do Jornalista Carlos Amorim, com o título "COMANDO VERMELHO A História Secreta do Crime Organizado", de onde serão feitas abstrações na sequência desta abordagem. Desta maneira, os leitores poderão comparar fatos concretos com os registros históricos do livro em sublinha, com ressalva do autor de que tudo o está escrito fora fruto de "doze anos de pesquisa", que "não é uma obra de ficção", e que "todos os nomes e locais são verdadeiros". E assim se reporta Carlos Amorim à questão dos direitos humanos no período de governo Brizola:

“Anunciou uma política de preservação dos direitos humanos, numa cidade onde os grupos de extermínio agem abertamente. Colocou na Secretaria de Justiça um ex-perseguido político e companheiro de partido, Vivaldo Barbosa (...). Brizola chega a nomear um ex-preso político da Ilha Grande, José Carlos Tórtima, Diretor de Presídio. O crime organizado explorou com habilidade cada uma dessas demonstrações de civilidade do governo estadual.”

Ainda nesta linha de raciocínio, Carlos Amorim faz outra afirmação: 

“Os limites impostos à ação policial nos morros da cidade permitiram o enraizamento das quadrilhas (...). A paz no morro é sinônimo de estabilidade nos negócios (...). Mas o respeito ao eleitor favelado que decide eleições no Grande Rio ajudou indiretamente na implantação das bases de operação do banditismo organizado (...). Estava determinado a consolidar a base política que se apoiava enfaticamente nos setores pauperizados. Na eleição de 82, pesou o apoio da Federação das Favelas (FAFERJ) e da Federação das Associações de Moradores (FAMERJ). Mas o fato é: o crime organizado usou tudo isso para crescer (...). O desenvolvimento do Comando Vermelho foi o subproduto de uma Administração que respeitou o cidadão.”

[...]

Um dos fatos mais aberrantes ocorridos durante o brizolismo foi a fuga – pela porta da frente – de um presídio de segurança mínima, do "Dênis da Rocinha", em 13 de abril de 1993. Este fato foi registrado por Carlos Amorim: "Ele saiu pela porta da frente, vestindo um terno fino, e ainda se deu ao trabalho de despedir-se dos guardas". Isto não ocorreu ao acaso...
Outro organismo providencialmente ocupado pelos sectários brizolistas de modo estranho foi a Defensoria Pública, entregue ao Dr. José Carlos Tórtima, e que mereceu a observação de Carlos Amorim:
Na opinião de muitas pessoas ligadas à polícia no Rio, o advogado José Carlos Tórtima teve influência sobre certo número de prisioneiros que se envolveram na formação do Comando Vermelho. Hoje ele é o Procurador-Chefe da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.
Brizola negava a existência do CV como organização criminosa estruturada, assim como outros membros do PDT mantinham esse conveniente discurso em uníssono com a ideia central do caudilho.
Carlos Amorim destaca em seu livro que o CV surgiu do "encontro dos integrantes das organizações revolucionárias com criminosos comuns" e que "o encontro rendeu um fruto perigoso: o Comando Vermelho". E, com rara capacidade de abstração e de síntese, apontou a reflexão para um dos cérebros do CV: o "Professor", William da Silva Lima:
Sobre isso há um depoimento inquestionável: o primeiro e mais importante líder do Comando Vermelho, William da Silva Lima o Professor , diz que leu muitos livros na cadeia. Como nessa história todo mundo escreveu memórias, William não ia ficar de fora. O fundador do Comando Vermelho publicou QUATROCENTOS CONTRA UM UMA HISTÓRIA DO COMANDO VERMELHO, pela Editora Vozes.
Carlos Amorim, em seu livro, reporta-se a alguns trechos da obra do líder do CV William da Silva Lima, publicada sob os auspícios da Editora Vozes: 

“(...). Quando os presos políticos se beneficiaram da anistia que marcou o fim do Estado Novo, deixaram na cadeia presos comuns politizados, questionadores das causa de delinquência e conhecedores dos ideais do socialismo. Essas pessoas, por sua vez, de alguma forma permaneceram estudando e passando suas informações adiante (...). Na década de 60 ainda se encontrava presos assim, que passavam de mão em mão, entre si, artigos e livros que falavam de revolução (...). O entrosamento já era grande, e 1968 batia às portas. Repercutiam fortemente na prisão os movimentos de massa contra a ditadura, e chegavam notícias da preparação da luta armada. Agora, Che Guevara e Régis Debray eram lidos. Não tardaria contatos com grupos guerrilheiros em vias de criação.”

A propósito da citação do líder do CV sobre a "década de 60", vale rememorar Brizola e seus movimentos políticos com vistas à conquista do poder pelas armas. Em 1962, ele tentou formar seu "Exército de Libertação Nacional", assim como em 1961 protagonizou o famoso movimento de Goiânia, cujo manifesto denominado "Declaração de Goiânia" sugeria a criação da "Frente de Libertação Nacional FLN", tudo inspirado nos "ideais socialistas" citados por William da Silva Lima. Esse movimento não prosperou porque os militares fizeram-no abortar e iniciaram um novo período político no Brasil, tão afastado da democracia quanto aquele que pretendia Brizola. Na verdade, trocou-se uma provável ditadura de esquerda, talvez sangrenta devido aos caminhos exacerbados que buscavam seus defensores, dentre os quais Brizola, por uma ditadura de direita que certamente não sangrou menos o país, assim como foi muito sangrada por movimentos clandestinos caracterizados pela insistência da esquerda em promover a luta armada na cidade e no campo.
Toda essa explanação exige o retorno às informações contidas na obra de Carlos Amorim, livro que precisa ser lido por todos os cidadãos que desejam construir uma democracia no Brasil de forma transparente e sem conluios desastrosos. Ao lançar o livro, em julho de 1993, Carlos Amorim salienta, conforme já dissemos no início, que "não é uma obra de ficção" e que "todos os nomes e locais são verdadeiros". E surge a primeira e grave denúncia no prefácio rubricado pelo Jornalista Jorge Pontual ("palavra de leitor"):

 “(...). O Comando Vermelho pôde parodiar impunemente as organizações de esquerda da luta armada, seu jargão, suas táticas de guerrilha urbana, sua rígida linha de comando. E o que é pior: com sucesso.”

Esta categórica afirmação de Jorge Pontual leva-nos a rememorar as insistentes declarações de Brizola e outros do PDT assegurando que "o Comando Vermelho não existe". O livro de William da Silva Lima recebeu grande alarde por parte do governante Brizola, pela Pastoral Penal e pela ABI (seu local de lançamento com pompas de obra produzida por "gênio literário"). Segundo informa Carlos Amorim:
O livro de William da silva Lima foi lançado no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no dia 05 de abril de 1991, durante seminário sobre criminalidade dirigido pelo Instituto de Estudos de Religião, de orientação católica. O texto final foi copidescado por César Queiroz Benjamim, um ex-militante do Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), que trabalhou sobre um original de mais de quatrocentas páginas.
Nota-se a perplexidade de Carlos Amorim diante das constatações que fez em sua pesquisa, o que torna a sua obra única no gênero. Assim, ele ainda afirma que:

As palavras do Professor dão bem a ideia do quanto ele se desenvolveu nos contatos que manteve na cadeia. Dizem que, ao contrário da maioria dos militantes da esquerda, ele leu O CAPITAL – conhecimento que ainda hoje falta a muito comunista de carreira. 

Com efeito, a história costuma encaixar as ideias e os fatos delas decorrentes, como num quebra-cabeça cujas peças espalhadas custam a encontrar seu lugar no tabuleiro, mas acabam se encaixando e formando o desenho adrede determinado. Também não foi por acaso que a ABI foi escolhida. É só retornar ao passado e aos idos de 1962 para constatar que uma das brilhantes presenças no movimento que gerou a "Declaração de Goiânia" era o ilustre e respeitado Jornalista Barbosa Lima Sobrinho. Por isso a ABI foi escolhida como palco e o conluio de Brizola e seus sectários com o CV não terminou no apoteótico lançamento da mais importante iniciativa intelectual do CV. Segundo ainda Carlos Amorim, outro fato surpreendente ocorreu e foi por ele assim sintetizado:

Duas semanas após o lançamento, no dia 19 de abril, o fundador do Comando Vermelho, com autorização do DESIPE, manteve um encontro com jornalistas estrangeiros no Hospital Penitenciário. Esta foi a segunda vez na história do sistema penal brasileiro que um preso comum deu entrevista coletiva à imprensa. Na noite de autógrafos na ABI, quem assinava os livros era a mulher dele, Simone Barros Corrêa Menezes.

Somente para aguçar a curiosidade e a reflexão daqueles que tiverem acesso à leitura deste texto, informa ainda Carlos Amorim a respeito desse personagem do CV alçado à condição de "gênio literário" pelos sectários brizolistas: 

William da Silva Lima, um pernambucano de cinquenta anos, se considera um guerrilheiro, (...) Hoje ele está preso em BANGU I.

Aparece também no livro de Carlos Amorim talvez a mais impressionante revelação de William da Silva Lima, gravada pelo Detetive João Pereira Neto, da Divisão Antissequestro do Rio: 

William comenta que alguns intelectuais pretendiam usar o Comando Vermelho na luta política. (...). Alguns deles, pequeno-burgueses, pretendiam usar nossas comunidades e nossa organização com finalidades políticas. À medida que não deixamos usar, comprovamos, sem soberba, que conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu, o apoio da população carente. Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente elas serão três milhões de adolescentes que matarão vocês (a polícia) nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões de adolescentes e dez milhões de desempregados em armas? Quantos BANGU I, II, III, IV, V... terão que ser construídos para encarcerar essa massa?...

William da Silva Lima era tão importante líder do CV que Carlos Amorim teve que dedicar a ele muita atenção, principalmente porque as ligações políticas e os conluios de sectários brizolistas com o CV alcançaram um incrível pragmatismo nos bastidores desses contatos, pois é certo que, até assumir publicamente a paternidade dessas perigosas ligações, como no caso do lançamento do livro do líder do CV, muitos conluios devem ter ocorrido fora do domínio público. Prova disso é o prefácio escrito por Rubens Cesar Fernandes, do Movimento Viva Rio, que de pronto considera sua decisão de editar e prefaciar o livro do bandido “uma tarefa arriscada”... Hum!... Neste ponto é imprescindível destacar outra revelação de Carlos Amorim, contida em seu livro:

Na Ilha Grande, diante de toda a imprensa, um acontecimento insólito: a autoridade pública é recebida por um dos Vermelhos, um dos novos xerifes da prisão, Rogério Lemgruber, o Bagulhão. O representante do Comando Vermelho veste bermudas, camisetas e sandálias havaianas. Mete o dedo na cara do Secretário de Justiça e comunica a ele que os presos estão cansados de ouvir o blá-blá-blá do governo...

Eu me poderia estender e me aprofundar mais neste assunto, mas creio que basta a observação da matéria deste reduzido comentário de assunto bem mais profundo, e que bem explica aos estudiosos de fora o que ninguém quer ver com olhos realmente de ver e não de fingir que está vendo em nado de superfície numa piscina o que está em profundidade abissal...


Um comentário:

Anônimo disse...

O Sr conhece....o Sr viveu isso na pele...