quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

VIOLÊNCIA URBANA NO RJ - OCUPAÇÃO DO VAZIO DEIXADO PELAS UPPs - JORNALISTA MISHA GLENNY



“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Alb’ert Einstein)
 

MEU COMENTÁRIO



Não foi uma nem duas, mas muitas vezes eu desdobrei neste blog diversos raciocínios sobre as UPPs e sua tendência futura ao fracasso. Fi-los ainda na sua fase áurea, indo na contramão de opiniões de alto peso na mídia e nos meios acadêmicos e políticos, digladiando, na verdade, com pessoas que nunca foram do ramo. Hoje, vejo a situação das UPPs com um misto de tristeza por sua já inocultável falência, e de regozijo por eu ter tido a coragem de dirigir minhas reflexões no sentido contrário de opiniões unânimes sobre as virtudes da “pacificação”. Digo-o, sim, pois para mim era muito claro que as UPPs se tratavam da maior maquiagem que já vi no complexo âmbito da segurança pública conceitual e instrumental, de um lado, tendo do lado oposto a dura realidade da pujança do banditismo de facções que permeia insidiosamente a tessitura social do RJ desde o advento da Falange Vermelha no Presídio da Ilha Grande e de sua evolução ao longo dos anos como Comando Vermelho ou facções rivais instaladas nas principais favelas do RJ. E hoje, em todo o RJ, não há uma só favela que não esteja dominada pelo tráfico, mesmo nos seus recantos mais longínquos.


Não posso negar meu pessimismo nem me arrisco a apontar soluções. Atenho-me ao problema, e assim o faço para não me enfiar numa polêmica sem fim. Penso, sim, que focar o problema, como venho fazendo, sempre escorado em notícias jornalísticas e em opiniões de estudiosos, como é este caso, deva servir como orientação para estudos mais acurados dessa grave situação de banditismo urbano e rural que proliferou a mais e mais, como sugere em acerto a articulista, enquanto o sistema situacional estadual insistia na tese midiática de “salvador da pátria”, ocultando uma floresta de acontecimentos criminosos atrás de uma só árvore denominada pomposamente como Unidade de Polícia Pacificadora (“A árvore oculta a floresta.” – provérbio alemão).


Não pretendo me alongar sobre essa vertente crítica, já o fiz muitas vezes e outras vezes o farei. Penso, porém, ser bom momento para levantar a questão mais crucial: como sair desse “xeque-mate”? Como recuar com as UPPs?... Bem, pelo menos houve uma parada no avanço do erro, sem dúvida uma providência corajosa por parte do sistema situacional estatal, em especial o que cuida da segurança pública. Agora é saber como desativar as UPPs para reestruturar os efetivos das unidades operacionais e partir para outras estratégias e táticas de controle da violenta criminalidade que assola o RJ como calamidade social. Pelo menos exercitando eficiente e eficazmente o “feijão com arroz”...


Claro que para recuar com as UPPs muitas edificações terão de ser reaproveitadas para outros fins sociais, de modo que se garanta sua utilidade e sua integridade como bens imóveis do Estado. Como não há nenhum trabalho social de vulto, creio que uma articulação entre o Estado-membro e a Prefeitura da Capital poderia suprir rapidamente esta lacuna. É questão a se diagnosticar em conjunto para traçar novos rumos na segurança pública, decerto não mais se pensando em concentrar indefinidamente efetivos nos moldes de UPPs em prejuízo do todo, mas antes garantindo a retomada dos princípios básicos do policiamento ostensivo que aqui não vejo necessidade de expor, há muitas gentes na ativa que conhecem até mais que eu como aquele “feijão com arroz” funciona.


2 comentários:

Inconfomado disse...

poderia destrinchar o artigo, mas so uns detalhes...."nova geração de traficantes"..., será so a nova, ou a nova agregada a antiga que é presa e logo sai? Geração criada ja entendendo que ficar preso é algo bem passageiro, logo vale a pena o crime. "A policia e as milicias reagiram com igual violencia." Serio isso, a policia age com a mesma violencia q os bandidos? Colocar em oposição numa mesma sentença os bandidos de um lado e do outro lado a lado os milicianos e os policiais, e estes dois ultimos no memo barco não me parece razoavel da parte de alguem que supostamente quer que as coisas melhorem. De reto as obviedades de sempre. Me desculpe ae o comentário cmt.

Anônimo disse...

Emir disse: seu comentário faz muito sentido, embora o meu foco tenha sido bem mais no fato do reconhecimento do fracasso das UPPs, algo que venho denunciando faz tempo e só agora vejo uma pessoa de fora (não policial) admitir isto com todas as letras. Acho um absurdo expor a um sistema de inferioridade de forças milhares de PMs lotados em UPPs, muitos ainda ingenuamente defendendo que estão no lugar certo ignorando o todo. Por outro lado, sei que seria absurdo esses PMs atuarem com o foco num todo que não é da alçada deles. Quem tem de alertar para esse todo prejudicado pela parte somos nós, que podemos observar os cenários como quem observa um aquário, mesmo que, de certo modo, sejamos também peixes a serem pescados pelo tubarão da criminalidade