quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

RIO EM GUERRA – O QUE EXPLICARIA O GESTO TRESLOUCADO DE QUATRO PMS?



BOIAMA
 
“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

02/12/2015 06h13 - Atualizado em 02/12/2015 08h01

Policiais deram mais de 100 tiros em carros de jovens mortos no Rio

Segundo a PM, 111 foram disparados pelas armas dos quatro policiais.

PMs podem ser expulsos antes do julgamento da Justiça comum.

Do G1 Rio

Mais de cem tiros foram disparados pelos policiais envolvidos nas mortes dos cinco jovens fuzilados em Costa Barros, no Subúrbio do Rio, na noite de sábado (28). Pelo menos cinquenta tiros atingiram o carro onde estavam os rapazes, como informou o Bom Dia Rio.
A ação, que já estava sendo considerada exagerada pelo própria polícia teve ainda mais disparos de armas de fogo do que foi divulgado inicialmente. Além dos disparos que atingiram o veículo, outras disparos foram efetuados mas não atingiram o carro em que os jovens estavam. Segundo a PM, 111 tiros foram disparados pelas armas dos policiais, sendo 81 de fuzil e 30 de pistola.
Os policiais podem ser expulsos da corporação antes mesmo de serem julgados pela Justiça comum. O comando-geral da PM determinou nesta terça a abertura imediata do processo administrativo para julgar a expulsão dos quatro policiais militares por causa da ação. Também foi concedida pela Justiça e a prisão preventiva dos quatro, que permanecerão do Batalhão Especial Prisional (BEP).

Defensoria recebe famílias de jovens

A Defensoria Pública recebeu nesta terça-feira (1º) os familiares de dois dos  jovens mortos. O Defensor Geral, André Castro, disse durante entrevista coletiva que manifestava indignação com o crime e disse que o episódio choca ate mesmo profissionais experientes.
Castro disse que a defensoria vai trabalhar para que o Estado seja responsabilizado e para que outras familias não passem pelo sofrimento que os parentes dos cinco jovens estão passando.




Defensoria Pública do RJ recebe parentes de jovens fuzilados por PMs em Costa Barros (Foto: Káthia Mello / G1)

O defensor André Castro explicou que a Defensoria vai defender as famílias na área criminal e também na área cível. “Nós buscamos providências administrativas, de reparação dos danos materiais e morais sofridos por essas famílias. Pode ser no processo de entendimento com o estado do Rio para que todas essas medidas sejam adotadas para que a família seja devidamente amparada pelo gravíssimo prejuízo da perda dos seus entes queridos", destacou Castro.
A defensoria anunciou ainda que vai propor um acordo extra-judicial para reparar danos as familias das vitimas. O órgão também vai auxiliar a Polícia Civil na apuração e ainda colocar testemunhas no programa de proteção às testemunhas.
Estiveram na Defensoria os parentes das vítimas Wilton Júnior e Wesley Rodrigues. Os outros parentes ainda não procuraram o órgão.
"Tudo que eu quero é justiça. Meu filho não merecia isso. E eu não merecia ver meu filho da forma que eu vi. Não sei como e nem quando vou conseguir superar isso. Não sei quanto tempo isso vai levar. Eu fico me perguntando porque tanta violência e porque temos que viver num país desse tipo. Por isso tanta gente vai embora criar seus filhos e netos. Sinceramente, eu não tenho mais orgulho de fizer que sou brasileira”, desabafou Rosilene Rodrigues, mãe de Wesley. Ela disse que o filho deixou para ela um neto de 2 anos.
Rosilene disse ainda que acredita na punição dos policiais. "Eu tenho que usar as últimas forças para defender meu filho". Ela confirmou que o filho teve passagens pela polícia, mas nada ficou provado e ele foi inocentado. O defensor Fábio Amado também confirmou que Wesley teve passagem pela polícia por tráfico, mas foi absolvido.
A Justiça do Rio converteu a prisão dos policiais em preventiva na tarde desta terça-feira (1°). O pedido foi feito pela Polícia Civil.

Suposto roubo de carga

Os PMs envolvidos no assassinato dos cinco rapazes disseram em depoimento que foram checar uma denúncia de roubo de carga. O RJTV descobriu que um policial militar seria o responsável pela segurança do referido caminhão.
Fontes da polícia dizem que no sábado à noite, dez caminhões carregados de bebidas deixam a fábrica da empresa, em Nova Iguaçu. Os veículos são rastreados por satélite e os equipamentos identificam que um dos caminhões sai do comboio. A suspeita de roubo provoca a parada automática do motor do caminhão. Um PM, que não teve o nome divulgado, trabalha para a transportadora. Ele seria o responsável pela segurança do veículo.
No depoimento dado na delegacia, o soldado Antonio Carlos Gonçalves disse que ele e os PMs Fabio Piza Oliveira da Silva, Thiago Viana Barbosa e Marcio Darcy dos Santos foram checar essa denúncia de roubo na Avenida José Arantes de Melo, em Costa Barros. O soldado também afirmou que o caminhão estava sendo saqueado. E que ocupantes de uma moto e de um carro passaram atirando.

O piloto da moto desmentiu essa versão e não citou nenhum caminhão no depoimento. Ele dissse que os jovens estavam indo comprar um lanche e que eles pararam depois da abordagem policial. Segundo ele, os policiais atiraram a uma distância pequena.

Nova perícia

Fontes da polícia informaram nesta terça-feira que nova perícia no carro metralhado deverá ser realizada nesta quarta. O carro está na 39ª Delegacia (Pavuna). De acordo com a polícia, as chaves do carro metralhado foram encontradas no porta-malas do veículo. Os policiais também serão ouvidos mais uma vez pela polícia.


Carro dos rapazes ficou com diversas marcas de tiro. (Foto: Janaína Carvalho / G1)

A perícia preliminar feita no carro onde estavam os cinco amigos apontou que a posição do corpo de um dos rapazes, que estava na carona do banco da frente, não era compatível com a descrição dos policiais. No depoimento, os policiais disseram que ele estaria com o o tronco para fora do carro, com uma arma na mão. A perícia também informou que nenhum disparo foi feito de dentro do carro para fora.
A polícia já sabe que o carro onde estavam os policiais não tem câmera, mas vai pedir  as informações do GPS.

Cena do crime modificada

No dia do crime, a perícia encontrou a arma citada no depoimento do policial perto dos corpos. Para a polícia, os PMs mentiram. A mãe de um dos meninos também acredita nessa versão. Ela disse que viu quando um dos policiais colocou a arma dentro do carro. “Ele botou a luva na mão, ficou abaixadinho lá, mexendo no rapaz que estava no carona. Deu a volta por trás, por outro lado, pegou a chave, botou no porta-malas. Por isso que ele não estava deixando ele chegar perto, porque ele não queria que eu visse que eles estavam fazendo aquilo, mas eu estava vendo tudo. Eu vi tudo”, disse.Os quatro policiais militares foram presos em flagrante e levados pro Batalhão Prisional, em Niterói. Três deles vão responder por homicídio doloso, quando há intenção de matar. E todos por fraude processual, por alterar a cena do crime. Eles podem ser expulsos da PM.
O comandante do batalhão, coronel Marcos Netto, foi exonerado nesta segunda-feira (30). Em entrevista ao Bom Dia Rio ele havia dito que a ocorrência em Costa Barros foi um fato isolado. Em nota, a secretaria de Segurança Pública afirmou que exonerou o comandante por causa dos últimos lamentáveis acontecimentos envolvendo policiais sob o seu comando, que conflitam com as orientações da corporação.
O comandante Jorge Fernando de Oliveira Pimenta, que atuava no batalhão de Macaé, vai assumir o comando do 41º BPM, em Irajá. O governador Luiz Fernando Pezão disse que vai cobrar punição rigorosa ao caso.





MEU COMENTÁRIO

ESTOURO DA BOIADA
(Antônio Miranda Fernandes)

Foi numa tarde junina de sol suado!
Vinha emergindo a boiada profusa...
Surgindo sobre passos arrastados,
Despontando da poeira ocre difusa.

Saía a boiama confusa e cadenciada
Ruminando e olhando para o chão...
E de sinos dispersos, as badaladas,
Iam tocando a massa em procissão.

Em balada profética de triste agouro...
Com pegadas de sofrimento no sertão,
Caminhando resignada ao matadouro
Mugindo! Entoando, estranha oração.

Por vezes... Uma rês cheirava o vento
Com olhar incendiado de condenado,
Bramia profundo e mórbido lamento
Mas ia, indiferente ao destino traçado...

Volvia à marcha da sorte derradeira...
Entrecortando a lamentação chorada
Tangida pelo “tocador” da bandeira;
Vermelha... Manchada e esfarrapada!

E os chocalhos na poeira dispersos...
Entoavam canto lúgubre e intrigante!
Desalentos, de uma nota só, em verso,
Mais tristes com o tanger do berrante.

Do peão que com esporas prateadas,
Montava cavalo de suor e salgado olhar
Que escorria pó pelas ventas molhadas
E ferraduras faiscando fagulhas no ar...

Quando quebrou em instante preciso
O galho de árvore que cai estalando...
Em cima de uma rês que... sem aviso,
É assustada e escoiceia disparando...

Outras que mugem, tropeçam e rolam;
Alando chispas braseiras num clarão!
Cabeças e chifres confusos se tocam...
O sangue jorra vermelho para o chão!

Chifram entranhas e solo encarnado,
Quente. Portas do inferno apartando...
Cavalos e bois de olhos arregalados
Que se chocam e os ossos estalando.

Cheiro de sangue, excremento e suor;
Corpos jogados no ar se contorcem!...
Bulício de cães feridos ganindo de dor
E, de mugidos ruminantes que morrem.

Homens que deixam viúvas distantes;
Fica frágil o valente, entregue à sorte...
O destino silencia mais um berrante!...
O forte sabe quando é hora da morte.

Filhos que vão crescer órfãos de pai...
Da desgraça farão história de valentia!
O mundo gira... Sob patas... E não cai
Com certeza, serão boiadeiros um dia


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