BOIAMA
“O
mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas
por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert
Einstein)
02/12/2015 06h13 - Atualizado em 02/12/2015 08h01
Policiais
deram mais de 100 tiros em carros de jovens mortos no Rio
Segundo a PM, 111 foram
disparados pelas armas dos quatro policiais.
PMs podem ser expulsos antes do
julgamento da Justiça comum.
Do G1 Rio
Mais de cem tiros foram disparados pelos policiais
envolvidos nas mortes dos cinco jovens fuzilados em Costa Barros, no Subúrbio
do Rio, na noite de sábado (28). Pelo menos cinquenta tiros atingiram o carro
onde estavam os rapazes, como informou o Bom Dia Rio.
A ação, que já estava sendo considerada exagerada
pelo própria polícia teve ainda mais disparos de armas de fogo do que foi
divulgado inicialmente. Além dos disparos que atingiram o veículo, outras
disparos foram efetuados mas não atingiram o carro em que os jovens estavam.
Segundo a PM, 111 tiros foram disparados pelas armas dos policiais, sendo 81 de
fuzil e 30 de pistola.
Os policiais podem ser expulsos da corporação antes
mesmo de serem julgados pela Justiça comum. O comando-geral da PM determinou
nesta terça a abertura imediata do processo administrativo para julgar a
expulsão dos quatro policiais militares por causa da ação. Também foi concedida
pela Justiça e a prisão preventiva dos quatro, que permanecerão do Batalhão
Especial Prisional (BEP).
Defensoria recebe famílias de jovens
A Defensoria Pública recebeu nesta terça-feira (1º) os familiares de dois dos jovens mortos. O Defensor Geral, André Castro, disse durante entrevista coletiva que manifestava indignação com o crime e disse que o episódio choca ate mesmo profissionais experientes.
Castro disse que a defensoria vai trabalhar para
que o Estado seja responsabilizado e para que outras familias não passem pelo
sofrimento que os parentes dos cinco jovens estão passando.
Defensoria Pública do RJ recebe parentes de jovens
fuzilados por PMs em Costa Barros (Foto: Káthia Mello / G1)
O defensor André Castro explicou que a Defensoria vai defender as famílias na área criminal e também na área cível. “Nós buscamos providências administrativas, de reparação dos danos materiais e morais sofridos por essas famílias. Pode ser no processo de entendimento com o estado do Rio para que todas essas medidas sejam adotadas para que a família seja devidamente amparada pelo gravíssimo prejuízo da perda dos seus entes queridos", destacou Castro.
A defensoria anunciou ainda que vai propor um
acordo extra-judicial para reparar danos as familias das vitimas. O órgão
também vai auxiliar a Polícia Civil na apuração e ainda colocar testemunhas no
programa de proteção às testemunhas.
Estiveram na Defensoria os parentes das vítimas
Wilton Júnior e Wesley Rodrigues. Os outros parentes ainda não procuraram o
órgão.
"Tudo que eu quero é justiça. Meu filho não
merecia isso. E eu não merecia ver meu filho da forma que eu vi. Não sei como e
nem quando vou conseguir superar isso. Não sei quanto tempo isso vai levar. Eu
fico me perguntando porque tanta violência e porque temos que viver num país
desse tipo. Por isso tanta gente vai embora criar seus filhos e netos.
Sinceramente, eu não tenho mais orgulho de fizer que sou brasileira”, desabafou
Rosilene Rodrigues, mãe de Wesley. Ela disse que o filho deixou para ela um
neto de 2 anos.
Rosilene disse ainda que acredita na punição dos
policiais. "Eu tenho que usar as últimas forças para defender meu
filho". Ela confirmou que o filho teve passagens pela polícia, mas nada
ficou provado e ele foi inocentado. O defensor Fábio Amado também confirmou que
Wesley teve passagem pela polícia por tráfico, mas foi absolvido.
A Justiça do Rio converteu a prisão dos policiais
em preventiva na tarde desta terça-feira (1°). O pedido foi feito pela Polícia
Civil.
Suposto roubo de carga
Os PMs envolvidos no assassinato dos cinco rapazes
disseram em depoimento que foram checar uma denúncia de roubo de carga. O RJTV
descobriu que um policial militar seria o responsável pela segurança do
referido caminhão.
Fontes da polícia dizem que no sábado à noite, dez
caminhões carregados de bebidas deixam a fábrica da empresa, em Nova Iguaçu. Os
veículos são rastreados por satélite e os equipamentos identificam que um dos
caminhões sai do comboio. A suspeita de roubo provoca a parada automática do
motor do caminhão. Um PM, que não teve o nome divulgado, trabalha para a
transportadora. Ele seria o responsável pela segurança do veículo.
No depoimento dado na delegacia, o soldado Antonio
Carlos Gonçalves disse que ele e os PMs Fabio Piza Oliveira da Silva, Thiago
Viana Barbosa e Marcio Darcy dos Santos foram checar essa denúncia de roubo na
Avenida José Arantes de Melo, em Costa Barros. O soldado também afirmou que o
caminhão estava sendo saqueado. E que ocupantes de uma moto e de um carro
passaram atirando.
O piloto da moto desmentiu essa versão e não citou nenhum caminhão no depoimento. Ele dissse que os jovens estavam indo comprar um lanche e que eles pararam depois da abordagem policial. Segundo ele, os policiais atiraram a uma distância pequena.
Nova perícia
Fontes da polícia informaram nesta terça-feira que
nova perícia no carro metralhado deverá ser realizada nesta quarta. O carro
está na 39ª Delegacia (Pavuna). De acordo com a polícia, as chaves do carro
metralhado foram encontradas no porta-malas do veículo. Os policiais também
serão ouvidos mais uma vez pela polícia.
Carro dos
rapazes ficou com diversas marcas de tiro. (Foto: Janaína Carvalho / G1)
A perícia preliminar feita no carro onde estavam os
cinco amigos apontou que a posição do corpo de um dos rapazes, que estava na carona
do banco da frente, não era compatível com a descrição dos policiais. No
depoimento, os policiais disseram que ele estaria com o o tronco para fora do
carro, com uma arma na mão. A perícia também informou que nenhum disparo foi
feito de dentro do carro para fora.
A polícia já sabe que o carro onde estavam os policiais não tem câmera, mas vai pedir as informações do GPS.
A polícia já sabe que o carro onde estavam os policiais não tem câmera, mas vai pedir as informações do GPS.
Cena do crime modificada
No dia do crime, a perícia encontrou a arma citada
no depoimento do policial perto dos corpos. Para a polícia, os PMs mentiram. A
mãe de um dos meninos também acredita nessa versão. Ela disse que viu quando um
dos policiais colocou a arma dentro do carro. “Ele botou a luva na mão, ficou
abaixadinho lá, mexendo no rapaz que estava no carona. Deu a volta por trás,
por outro lado, pegou a chave, botou no porta-malas. Por isso que ele não
estava deixando ele chegar perto, porque ele não queria que eu visse que eles
estavam fazendo aquilo, mas eu estava vendo tudo. Eu vi tudo”, disse.Os quatro
policiais militares foram presos em flagrante e levados pro Batalhão Prisional,
em Niterói. Três deles vão responder por homicídio doloso, quando há intenção
de matar. E todos por fraude processual, por alterar a cena do crime. Eles
podem ser expulsos da PM.
O comandante do batalhão, coronel Marcos Netto, foi
exonerado nesta segunda-feira (30). Em entrevista ao Bom Dia Rio ele havia dito
que a ocorrência em Costa Barros foi um fato isolado. Em nota, a secretaria de
Segurança Pública afirmou que exonerou o comandante por causa dos últimos
lamentáveis acontecimentos envolvendo policiais sob o seu comando, que
conflitam com as orientações da corporação.
O comandante Jorge Fernando de Oliveira Pimenta,
que atuava no batalhão de Macaé, vai assumir o comando do 41º BPM, em Irajá. O
governador Luiz Fernando Pezão disse que vai cobrar punição rigorosa ao caso.
MEU
COMENTÁRIO
ESTOURO
DA BOIADA
(Antônio
Miranda Fernandes)
Foi numa
tarde junina de sol suado!
Vinha emergindo a boiada profusa...
Surgindo sobre passos arrastados,
Despontando da poeira ocre difusa.
Saía a boiama confusa e cadenciada
Ruminando e olhando para o chão...
E de sinos dispersos, as badaladas,
Iam tocando a massa em procissão.
Em balada profética de triste agouro...
Com pegadas de sofrimento no sertão,
Caminhando resignada ao matadouro
Mugindo! Entoando, estranha oração.
Por vezes... Uma rês cheirava o vento
Com olhar incendiado de condenado,
Bramia profundo e mórbido lamento
Mas ia, indiferente ao destino traçado...
Volvia à marcha da sorte derradeira...
Entrecortando a lamentação chorada
Tangida pelo “tocador” da bandeira;
Vermelha... Manchada e esfarrapada!
E os chocalhos na poeira dispersos...
Entoavam canto lúgubre e intrigante!
Desalentos, de uma nota só, em verso,
Mais tristes com o tanger do berrante.
Do peão que com esporas prateadas,
Montava cavalo de suor e salgado olhar
Que escorria pó pelas ventas molhadas
E ferraduras faiscando fagulhas no ar...
Quando quebrou em instante preciso
O galho de árvore que cai estalando...
Em cima de uma rês que... sem aviso,
É assustada e escoiceia disparando...
Outras que mugem, tropeçam e rolam;
Alando chispas braseiras num clarão!
Cabeças e chifres confusos se tocam...
O sangue jorra vermelho para o chão!
Chifram entranhas e solo encarnado,
Quente. Portas do inferno apartando...
Cavalos e bois de olhos arregalados
Que se chocam e os ossos estalando.
Cheiro de sangue, excremento e suor;
Corpos jogados no ar se contorcem!...
Bulício de cães feridos ganindo de dor
E, de mugidos ruminantes que morrem.
Homens que deixam viúvas distantes;
Fica frágil o valente, entregue à sorte...
O destino silencia mais um berrante!...
O forte sabe quando é hora da morte.
Filhos que vão crescer órfãos de pai...
Da desgraça farão história de valentia!
O mundo gira... Sob patas... E não cai
Com certeza, serão boiadeiros um dia
Vinha emergindo a boiada profusa...
Surgindo sobre passos arrastados,
Despontando da poeira ocre difusa.
Saía a boiama confusa e cadenciada
Ruminando e olhando para o chão...
E de sinos dispersos, as badaladas,
Iam tocando a massa em procissão.
Em balada profética de triste agouro...
Com pegadas de sofrimento no sertão,
Caminhando resignada ao matadouro
Mugindo! Entoando, estranha oração.
Por vezes... Uma rês cheirava o vento
Com olhar incendiado de condenado,
Bramia profundo e mórbido lamento
Mas ia, indiferente ao destino traçado...
Volvia à marcha da sorte derradeira...
Entrecortando a lamentação chorada
Tangida pelo “tocador” da bandeira;
Vermelha... Manchada e esfarrapada!
E os chocalhos na poeira dispersos...
Entoavam canto lúgubre e intrigante!
Desalentos, de uma nota só, em verso,
Mais tristes com o tanger do berrante.
Do peão que com esporas prateadas,
Montava cavalo de suor e salgado olhar
Que escorria pó pelas ventas molhadas
E ferraduras faiscando fagulhas no ar...
Quando quebrou em instante preciso
O galho de árvore que cai estalando...
Em cima de uma rês que... sem aviso,
É assustada e escoiceia disparando...
Outras que mugem, tropeçam e rolam;
Alando chispas braseiras num clarão!
Cabeças e chifres confusos se tocam...
O sangue jorra vermelho para o chão!
Chifram entranhas e solo encarnado,
Quente. Portas do inferno apartando...
Cavalos e bois de olhos arregalados
Que se chocam e os ossos estalando.
Cheiro de sangue, excremento e suor;
Corpos jogados no ar se contorcem!...
Bulício de cães feridos ganindo de dor
E, de mugidos ruminantes que morrem.
Homens que deixam viúvas distantes;
Fica frágil o valente, entregue à sorte...
O destino silencia mais um berrante!...
O forte sabe quando é hora da morte.
Filhos que vão crescer órfãos de pai...
Da desgraça farão história de valentia!
O mundo gira... Sob patas... E não cai
Com certeza, serão boiadeiros um dia
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