“O
mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas
por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert
Einstein)
“20/07/2015
05h58 - Atualizado em 20/07/2015 05h58
Violência
deixa 16 mil estudantes sem aulas em apenas 15 dias no Rio
Em julho, troca de tiros
suspendeu aulas na Maré, Chapadão e Antares.
Docentes dizem que operações não deveriam ocorrer no horário escolar.
Janaína
CarvalhoDo G1
Rio
Caveirão no portão de entrada, armas escondidas na
quadra e policiais nos pátios fazem parte da rotina dos alunos da rede pública
de ensino do Rio de Janeiro. Apenas nos primeiros 15 dias do mês de julho, a
violência na cidade deixou, pelo menos, 16.853 mil alunos fora das salas de
aula por, no mínimo, um dia.
As escolas afetadas ficam em áreas nas quais houve
confronto entre policiais e bandidos: Maré e Favela do Chapadão (Costa Barros),
na Zona Norte, e nas comunidades do Rola e Antares (Santa Cruz), na Zona Oeste.
“Nos dias 30, 1°, 2 e 3 não tivemos aula. Semana
passada também perdemos dois dias de aula e essa semana tivemos apenas meio
período. É sempre uma situação de muita instabilidade para quem está na
escola”, afirmou uma professora do Ciep Elis Regina, que fica no conjunto de
favelas da Maré, que está ocupado desde o dia 30 de junho pela PM para a
instalação da Unidade de Polícia Pacificadora.
Para professores de escolas situadas em área de
risco, as operações policiais não poderiam ocorrer durante o horário escolar
mas, quando fosse inevitável, deveria haver um entendimento entre as
secretarias e governos para que as escolas fossem avisadas e as aulas
previamente suspensas.
“Já peguei situações na minha escola do caveirão
parado na porta trocando tiros e a aula acontecendo”, ressaltou a professora.
De acordo com a PM, reuniões mensais são feitas pelos comandantes dos batalhões
com diretores e/ou professores de colégios para discutir os problemas ligados a
segurança local.
Desde o início do mês, quando aconteceu a troca das
tropas do Exército por PMs que vão atuar nas UPPs da Maré, os moradores têm
sofrido com intensos tiroteios. Apenas no dia 1° de julho, 7.008 alunos da rede
municipal e outros 700 da estadual não tiveram aulas. Na última terça-feira
(14), durante um confronto no conjunto de Favelas do Chapadão, onde uma mulher
morreu e uma professora foi baleada, 5.645 alunos de oito escolas, três creches
e dois espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI) não tiveram aula. No dia 6 de
julho, três mil alunos da rede municipal e 500 da rede estadual nas comunidades
do Rola e Antares foram afetados.
Corredor
vira abrigo
Em Santa Cruz, alunos e professores também enfrentam problemas sérios. Traficantes
invadiram a quadra do Ciep Primeiro de Maio, que fica entre as comunidade do
Rola e Antares, e fizeram buracos no muro para colocar as armas e se proteger
durante confrontos com criminosos rivais ou policiais. “Eles ficam ali de
vigia. A direção já tentou fechar diversas vezes, mas nunca conseguiu, pois
eles mandam parar de colocar o tijolo e abrem novamente”, contou uma docente da
unidade.
Segundo os professores, quando o tiroteio começa, os alunos são levados para os
corredores e, de acordo com eles, em um mesmo dia a aula chega a ser
interrompida diversas vezes. “Os tiros param e recomeçam o tempo todo. Às
vezes, mal começamos a escrever no quadro e precisamos sair da sala com as
crianças novamente. Fico no corredor tentando distraí-los e tranqulizá-los”,
revela a professora.
Em nota, a PM informou que o comandante do 27°BPM (Santa Cruz) ressaltou que o
patrulhamento na região é feito diariamente e que operações são realizadas
constantemente para reprimir o tráfico de drogas e crimes. A PM ainda destacou
que, até o momento, não recebeu nenhum contato de alunos ou professores do
colégio sobre a invasão de criminosos na unidade escolar.
Base da
UPP fica no pátio de escola
A atual base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília, no conjunto
de favelas do Alemão, na Zona Norte, está sediada no pátio do colégio estadual
Teófilo de Souza Pinto. A unidade foi inaugurada em 2012 e, desde então, a
evasão escolar aumentou muito. Quando a UPP foi inaugurada, cerca de 1.400
alunos estavam matriculados na unidade escolar e, atualmente apenas 700 jovens
continuam na escola.
De acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), a base será
desativada e passará a funcionar em outro local, assim que as obras da futura
sede terminarem. No entanto, a CPP informou que não há prazo definido para que
a mudança ocorra. A região de Nova Brasília é uma área muito sensível que
enfrenta constantemente situações de confronto entre criminosos e policiais
militares. Diversas vezes as paredes da escola foram alvejadas por traficantes.
Menino
morreu dentro de colégio em 2010
Em julho de 2010, o menino Wesley Gilbert Rodrigues de Andrade, de 11 anos,
morreu após ser atingido no peito por uma bala perdida dentro de uma sala de
aula no Ciep Rubens Gomes, em Barros Filho, no Subúrbio.
A criança chegou a ser levada para o Hospital Estadual Carlos Chagas, em
Marechal Hermes, mas já chegou morto à unidade. No momento em que o menino foi
atingido havia outras 30 crianças na classe. Segundo a polícia, neste dia era
realizada uma operação nas favelas da Quitanda e da Pedreira.
De acordo com o Sindicato dos Professores do Rio
(Sepe), diversas audiências públicas já foram solicitadas à Câmara para tratar
da situação de vulnerabilidade e interferência da violência no aprendizado dos
alunos, mas o pedido nunca foi aceito. “Um aluno que teve uma noite de sono
tranquila vai ter um rendimento bem diferente daquele que passou a noite
ouvindo tiroteio. Mas essas questões nunca são levadas em consideração. A única
alternativa que o governo apresenta é: ‘Se quiser, fecha a escola’”, afirmou
Susana Gutierrez, diretora do Sepe.
Segundo o Sepe, na rede estadual não há nenhum ato normativo que dê tratamento
a questão do funcionamento das unidades escolares durante uma situação de conflito
armado. Já na rede municipal há um regimento escolar que orienta o que deve ser
feito na unidade escolar em situações de risco. A secretaria Municipal de
Educação destacou que cabe a direção da escola decidir sobre o funcionamento ou
não da unidade durante os confrontos armados.
“O problema é que isso é uma autonomia perversa, pois muitas vezes a direção
fecha a unidade e não há um conflito armado. Então, você é culpabilizado porque
perdeu um dia de aula a troco de nada. Outras vezes, se você abre, acontece o
conflito armado e todos ficam em situação de risco”, disse Susana, destacando
que as secretarias de Educação e de Segurança deveriam definir entre elas se há
ou não condições de haver aula na região durante os momentos de conflito
armado.
Aulas são
repostas
A Secretaria Municipal de Educação informou que o conteúdo perdido em função
dos casos de violência no entorno das escolas são repostos e para garantir
assistência aos alunos e professores, a secretaria mantém o Núcleo
Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares (NIAP), que é composto por
pedagogos, psicólogos e assistentes sociais.
A Secretaria de Estado de Educação informou que a
interrupção de aulas, quando necessária, é pontual e em período parcial, sem
prejuízos educacionais. Os conteúdos perdidos são repostos, de acordo com o
planejamento elaborado pela direção. A Seeduc ressaltou, ainda, que a direção
da unidade escolar tem autonomia para tomar providências no sentido de garantir
a integridade física e moral de seus alunos, professores e funcionários.”
MEU COMENTÁRIO
No meu tempo de atividade na PMERJ tal cenário seria
considerado como de grave perturbação da ordem pública a demandar ações
operativas no sentido de sua restauração definitiva. Em vez disso, porém, os
organismos públicos municipais e estaduais, emitem explicações que vão às raias
do absurdo, pondo nos ombros de professores um problema que é policial e de
elevado risco. E a União se omite...
Esse cinismo do poder público ao lidar com a
segurança dos cidadãos, mormente das crianças, como se os bandidos fossem desenhados
em papel, soma-se ao o aleatorismo de uma corporação estadual cujo efetivo se exaure a
mais e mais para dar conta de UPPs, sem que estas cumpram suas finalidades,
sendo uma delas, simples, a de garantir o direito de ir e vir das pessoas.
A imprensa, por sua vez, noticia o drama, mas evita
a investigação jornalística e foge da crítica mais severa diante do fracasso à frente dos seus olhos e ao lado de seus ouvidos. Enfim, todos ganham tempo
e apostam nas UPPs em vista das Olimpíadas, já que não podem apostar em mais
nada. E o povo que se dane!
O estudioso alemão Erich Fromm dizia que “a
calamidade é ruim para o povo, mas boa para a sociedade.” Só que ele se referia
às calamidades agudas, como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, ou a destruição
da Alemanha durante a II Grande Guerra. Segundo Fromm, o impacto psicológico
coletivo fez japoneses e alemães reagirem e reconstruírem em tempo razoável o que parecia impossível.
O mesmo não ocorre nas calamidades crônicas, e o banditismo urbano se
encontra no seu pior estágio de calamidade social nos grandes centros brasileiros, demandando ações
à altura desses confrontos bélicos que, se fosse em alguns países integrantes
da ONU, já estariam recebendo Forças de Pacificação em moldes militares. Ou
seja, haveria operações de guerra ou contraguerrilha no sentido de garantir a liberdade
dos povos oprimidos por grupos radicais armados e militarizados
(paramilitares). É o caso dos traficantes no RJ!
Abundam em derredor do planeta esses confrontos
bélicos. E eles não diferem muito da realidade do RJ, caracterizada por morte gratuita
de policiais em confronto ou quando surpreendidos em assaltos, com os marginais
eliminando-os sumariamente só porque são policiais. E balas perdidas matando inocentes diariamente...
E a polícia, - sem poder
ultrapassar os limites a ela impostos em proselitismos políticos típicos desta
sociedade corrupta e leniente com a criminalidade, - apolícia só faz morrer enquanto
enxuga gelo em relação a uma gravíssima situação de desordem pública que nem as
Forças Armadas foram capazes de vencê-las em área restrita. Quanto mais em todo
o território nacional...
Mesmo assim, mesmo perdendo feiamente a batalha
contra o crime, a PMERJ encontra tempo para efetuar estrondosas blitze, como a
que assisti na Linha Vermelha, sentido centro da cidade, no último sábado pela manhã, produzindo congestionamento monstro num horário em que muitas pessoas pegavam estrada
para buscar o lazer, e outras ainda indo ao trabalho, porém todas incomodadas
por conta de não mais que meia dúzia de PMs garimpando algum desatento usuário
com IPVA vencido ou coisa parecida. Assim realmente não dá! É demais querer que
a população apoie uma corporação que age sem qualquer sensibilidade e se torna
a mais e mais desmoralizada e detestada junto ao povo que paga caro por seus
serviços. Ora!
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