Retrospecto das UPPs
“O mundo está
perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa
dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Alb’ert Einstein)
“Do G1
Rio
09/07/2015 06h45 -
Atualizado em 09/07/2015 12h34
Um policial morre a cada 40 dias em UPPs do
Rio desde 2014
Em 2015, 53 policiais de
UPP foram baleados e sete foram mortos.
Coordenadoria de Polícia
Pacificadora reconhece aumento da violência.
Henrique Coelho
Entre 1º de janeiro de
2014 e 8 de julho de 2015 – período em que se agravou a crise nas Unidades de
Polícia Pacificadoras – 15 policiais lotados em nas UPPs morreram em serviço no
Rio de Janeiro. A média é de um policial morto a cada 40 dias neste intervalo,
incluindo o soldado Alex Amâncio, de 34 anos, que morreu
quando patrulhava a região próxima à UPP Andaraí, na última segunda-feira (6).
O G1 inicia nesta quinta-feira (9)
uma série de três reportagens para contar a história dos policiais que morreram
dentro de comunidades que contam com a presença de UPPs no Rio.
Policiais
reclamam da falta de condições de trabalho e a Coordenadoria de Polícia
Pacificadora (CPP) reconhece o aumento da violência, mas defende o projeto, que
enfrenta seu pior momento desde a implantação da primeira unidade, no morro
Dona Marta, em dezembro de 2008.
Em 2014,
o numero de policiais mortos em serviço em áreas de UPP chegou a oito, o maior
desde o início do projeto. Em 2015, foram sete até a noite de terça-feira (7).
Em 2012
foram registradas as primeiras mortes de policiais em áreas de UPP: quatro. No
ano seguinte, mais três, somando 22 policiais mortos desde o início do projeto.
O número
de policiais feridos em operações, patrulhamentos ou ataques às sedes e pontos
fixos das UPPs também assusta. Segundo fontes do G1, 87 policiais lotados em UPPs foram baleados em 2014. Em
2015, até de 8 de julho, 53 policiais que pertencem às UPPs foram feridos a
bala. Desde 2014, portanto, a média é de 1 baleado a cada quatro dias. A PM e a
Coordenadoria da Polícia Pacificadora não informam números oficiais de feridos.
Até a publicação desta reportagem, a Secretaria de Estado de Segurança e o secretário José Mariano Beltrame não responderam ao G1.
'Projeto falido', diz viúva de PM
Em 2015, foram dois policiais mortos na UPP Cidade de Deus (Zona Oeste), mais precisamente na localidade conhecida como Apartamentos, em um intervalo de apenas 20 dias. Um deles era Bruno Miguez, de 30 anos, que levou um tiro na cabeça durante patrulhamento no dia 29 de janeiro. Um PM que estava com ele foi baleado no ombro, mas Miguez não resistiu. No dia 18 de fevereiro, Rogério Pereira da Silva, de 39 anos, foi baleado ao sair da base da UPP Apartamentos e também morreu.
O soldado da UPP Cidade de Deus morreu após levar um tiro na cabeça
durante patrulhamento
Michelle
Miguez, viúva de Bruno, conta em entrevista exclusiva ao G1 sente como se ele ainda
estivesse presente em sua vida, e lembrou que o soldado estava havia pouco
tempo na unidade.
"A UPP é um projeto falido, feito para os policiais morrerem. Pedi para ele não ir para lá, pois ele estava no Turano e lá era tranquilo. A Cidade de Deus é muito mais complicada, e ninguém nunca o ensinou a se movimentar lá", diz ela, que se emocionou ao lembrar do enterro de Bruno. "Quando eu olhei para o caixão, naquele momento queria ter ido com ele. E acho que não vai demorar muito para reencontrá-lo. Nosso amor é além da vida", garante.
Alemão é ponto crítico
Das 15 mortes ocorridas entre janeiro de 2014 e de 2015, 53% delas foram em comunidades dos conjuntos de favelas do Alemão e da Penha, vizinhos na Zona Norte do Rio: O soldado Wagner Vieira Cruz e o tenente Leidson Acácio (Vila Cruzeiro); a soldado Alda Rafael Castilho (Parque Proletário); o soldado Rodrigo Paes Leme e o capitão Uanderson Manoel da Silva (Nova Brasília); e o soldado Fábio Gomes da Silva (Fazendinha), todos em 2014. Em 2015, morreram o cabo Anderson Fernandes (Fazendinha); e o soldado Marcelo Soares do Reino (Alemão).
Comandante da UPP Nova Brasília, capitão Uanderson morreu em 2014 (Foto:
Divulgação / Polícia Militar)
“Lá é o inferno. Tive que me esconder várias vezes
para não morrer”, resumiu um ex-soldado da UPP Fazendinha, que não se
identificou à reportagem do G1 por motivos de segurança. No
ano passado, um PM expulso pela corporação após críticas ao na época comandante
das UPPs, Frederico Caldas, já havia dito que "o
Alemão era um castigo"para os
soldados.
"Não temos treinamento contínuo de tiro e
muitos de nós não somos preparados para atuar em área conflagrada. Essa é a
verdade.", confessou outro soldado da UPP Alemão.
Em 2015, foram feridos policiais de 20 UPPs diferentes, com destaque para a UPP Alemão, com 10 feridos. De janeiro até 6 de julho, 25 policiais foram baleados apenas nos conjuntos de favelas do Alemão e da Penha, de um total de 53 feridos a bala.
Em 2015, foram feridos policiais de 20 UPPs diferentes, com destaque para a UPP Alemão, com 10 feridos. De janeiro até 6 de julho, 25 policiais foram baleados apenas nos conjuntos de favelas do Alemão e da Penha, de um total de 53 feridos a bala.
'Precisamos de mais parceiros'
O coordenador operacional da CPP, Ivan Blaz, reconheceu que, desde meados de 2013, as UPPs vêm passando por eventos críticos que causaram o aumento da violência nas comunidades.
"Já temos cabines blindadas e anteparos balísticos simples na UPP São João, do Alemão, de Nova Brasília e da Fazendinha, e estamos montando na Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) para levar a outras comunidades. Nossa estratégia é a ocupação nas partes elevadas dos morros", afirma Blaz.
As novas
medidas, no entanto, já encontraram um avanço, segundo ele: "Os ferimentos
em 2014 foram mais graves do que os que estão acontecendo em 2015 [tiros de
raspão, por exemplo]. Isso mostra uma melhora no preparo dos policiais",
analisa.
Blaz fez um apelo para que mais empresas privadas ajudem a UPP a criar projetos sociais e mantê-los dentro das comunidades.
Ameaças do tráfico
Em entrevista ao G1, um morador do morro Dona Marta, que recebeu a primeira UPP em dezembro de 2008, falou sobre a desistência de muitos moradores de participar de projetos sociais dentro da comunidade.
"Tudo por medo do tráfico, né? Das ameaças que a pessoa pode receber", avalia. Blaz ressalta que este é um dos principais desafios das UPPs neste sétimo ano de projeto, principalmente com o público entre 12 e 18 anos.
"Precisamos da participação popular, que o Alemão demonstrou este ano após 100 dias de conflito armado, e que a Maré já demonstra há muito tempo. Temos parcerias com a LBV [Legião da Boa Vontade] em Manguinhos e o Ação Social Pela Música em 19 comunidades, mas precisamos de mais como estes. Precisamos de mais pessoas e empresas que nos ajudem, porque vários dos projetos tocados hoje ocorrem graças aos próprios policiais das unidades", avaliou.
Imagem aérea do Conjunto de Favelas da Maré: desafio para UPPs (Foto:
Ricardo Moraes/Reuters)
Na Maré,
os problemas vividos entre a Força de Pacificação e os moradores, além dos
tiroteios frequentes envolvendo traficantes, transformam a instalação de UPPs
em um desafio.
"Vamos fazer encontros quinzenais com as associações de moradores da Maré para saber das demandas de segurança naquela área, além de simplesmente enfrentar criminosos armados e criar uma relação de confiança com as comunidades", garantiu Blaz.
A
previsão é de que as quatro UPPs previstas para a região fiquem prontas até o
primeiro trimestre de 2016. Veja abaixo vídeo do enterro do PM Alex
Amâncio, nesta terça-feira (7).” (OBs. Vide este vídeo no G1)
MEU COMENTÁRIO
É pacífico o entendimento, na Doutrina do Direito
Administrativo da Ordem Pública, no que se refere à missão constitucional das
Polícias Militares, que é a de Polícia Administrativa precipuamente preventiva
e secundariamente repressiva, eis a síntese da função primordial das corporações militares estaduais.
Baseia-se esta prevenção na máxima frequência do
patrulhamento ostensivo, ou seja, na presença do PM fardado e embarcado em
viaturas caracterizadas, ou a pé, ou a cavalo, ou em bicicletas, ou em lanchas,
ou em aeronaves, tudo, porém, visível aos olhos dos destinatários dos seus
serviços: o povo em geral. E, se de um lado esta máxima frequência ostensiva
institui certa sensação de segurança na tessitura social, é certo também que
inibe a oportunidade de os delinquentes contumazes praticarem seus crimes.
Porque os delinquentes, antevendo a real probabilidade de serem presos em
flagrante delito, preferirão não cometê-los, adiando sua ação criminosa ou se
deslocando para outros lugares sem a presença ostensiva da PM. Mas se presume,
pelo menos em tese, que esta presença dinâmica do patrulhamento acabe demovendo
muitos delinquentes de suas más intenções.
Não significa que os delinquentes desistirão. Eles
existem, continuarão existindo e cometerão seus delitos enquanto não forem
alcançados pela investigação criminal (função constitucional precípua da
Polícia Judiciária, in casu da PCERJ)
ou presos em flagrante delito. Por conseguinte, não há como conceber esta
prevenção ao delito sem a ampliação máxima da frequência do patrulhamento ostensivo,
assim como é certo que os delinquentes existem desde que o mundo é mundo. Daí é
que concentrar efetivos no contexto da missão constitucional da PMERJ, como ela
vem fazendo com as UPPs, é mais que contrassenso, é desobediência formal aos
preceitos constitucionais, legais e doutrinários.
Fazendo coro com muitos doutrinadores pátrios e
alienígenas, o mestre do Direito Administrativo, Professor Diogo de Figueiredo
Moreira Neto, afirma, grosso modo,
que nenhuma doutrina vale a tinta que gasta se não for consumada na ação. Pois
eu afirmo que é o que ocorre com a PMERJ faz tempo. Sim faz tempo que a PMERJ
ignora a sua missão constitucional básica. Na verdade, desde que o senhor
Sérgio Cabral transformou um golpe do acaso em “política de segurança pública”,
mudando como golpe de vento seu discurso anterior do “enfrentamento”, clamado
aos quatro ventos após a PCERJ abater 19 traficantes no Complexo do Alemão. Ou “supostos
traficantes”, para ficar mais ao gosto da grande mídia e dos apologistas dos
direitos humanos...
Digo que as UPPs foram frutos do acaso com certeza
absoluta, pois assim se lhes reporta em livro sobre a sua vida o próprio
secretário Beltrame, quando explica o surgimento da primeira delas, no Morro
Dona Marta, por mero acaso. Foi daí que os aplausos não mais cessaram e as UPPs
explodiram no RJ como o “Big Bang”. Mas agora estão mais para “Big crunch”,
como nem a própria mídia que a aplaudia pode negar e agora arregaça a sua
crítica indo ao ponto mais nevrálgico: a absurda quantidade de PMs mortos e
feridos em virtude das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que nada
pacificaram. Porém, seus mentores permanecem indiferentes aos mais trágicos de
todos os seus resultados, estes, que não se justificam por nenhum argumento de
todos até agora habilmente explorados por aqueles que querem que o PM se dane!
Pois o que lhes importa é o bafo do sucesso em seus
ouvidos, o que lhes alegra é ver seus nomes elevados ao máximo sucesso nas
páginas dos jornais e das revistas, o que lhes anima é ver suas fisionomias vencedoras
na telinha das tevês. Mas nunca seus semblantes tristonhos serão vistos nos
enterros dos pobres diabos que perderam o direito à vida só por serem PMs, nunca
terão coragem de chorar diante dos familiares dos PMs mortos em tocaia em áreas
supostamente pacificadas. Ora, nada disso lhes importa! Interessa-lhes, sim, a
manutenção de seus corpos e espíritos mergulhados num sistema situacional que
fede, fede muito, muito mesmo!...
Não sei se terei fígado para suportar o que mais virá
por aí. O Jornal O GLOBO (G1) já anunciou a suíte de mais duas matérias
correlatas. Se vierem fervendo, como esta, com suas estatísticas horripilantes,
não sei se conterei o meu ímpeto de dizer mais claramente o que penso. Não sei
se irei mais uma vez ao infarto!...
Ah, isto não mais me importa, vivo cada dia como se
fosse o último, e o seguinte como se tudo começasse do zero, sem futuro, nada...
Mas não posso ignorar o tenebroso passado que se acumula em mortes e ferimentos
de PMs desde o primeiro aplauso por conta do Morro Dona Marta, provocando a
súbita mudança de hábito de um governante amante dos afagos da mídia por ser um
dos seus membros por sorte de berço e por cursar alguma universidade distanciada
da ética jornalística e da ética em geral, especialmente da ética na política.
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