Sobre as UPPs nos dias de hoje
“O mundo está perigoso para se viver! Não por
causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta
de que não viram.” (Albert Einstein)
“DO G1 RIO
29/06/2015
06h36 - Atualizado em 29/06/2015 06h42
Tiroteio em comunidade pacificada deixa mortos e
ferido no Rio
Dois suspeitos morreram e outro foi baleado em troca de tiros com o
Bope.
Outras 2 comunidades pacificadas tiveram confrontos neste domingo (28).
Um tiroteio no Morro da Coroa, na região Central do
Rio, deixou dois suspeitos mortos e um terceiro ferido durante uma troca de
tiros com policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na noite deste
domingo (28).
De acordo com a polícia, o ferido é Marcelo Francisco,
conhecido como "Ná do Salgueiro", chefe do tráfico no Morro da Coroa.
Ele levou dois tiros e foi encaminhado para o Hospital Souza Aguiar, no Centro.
A comunidade tem uma Unidade de Polícia
Pacificadora desde fevereiro de 2011 e durante a ação do Bope foram apreendidas
duas pistolas com numeração raspada e cinco granadas de fabricação caseira,
munição e ainda celulares.
Outros
tiroteios em áreas pacificadas
No final de semana outros tiroteios voltaram a assustar moradores de comunidades pacificadas do Rio. Na manhã de domingo, criminosos e policiais da UPP Nova Brasília trocaram tiros. De acordo com a polícia, eles estavam realizando patrulhamento na localidade conhecida como Praça do Terço quando viram traficantes armados. Não há informações de feridos.
Durante a madrugada policiais também trocaram tiros
com traficantes do Morro do Borel, na Tijuca, Zona Norte da cidade. Policiais
da UPP contaram que um carro da PM faziam ronda na comunidade, quando surgiram
bandidos armados. Ninguém se feriu e os traficantes fugiram.
PMs foram
rendidos no Morro do Fallet
Na mesma região do Morro da Coroa, outro problema ocorreu na sexta-feira (26) no Morro do Fallet. Policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade foram rendidos e tiveram as armas tomadas por criminosos que invadiram a base da UPP. Áudios mostram que sete PMs tiveram as pistolas tomadas para que os traficantes pudessem passar pelo local. Em conversas pelo whatsapp, os policiais contam como foi a ação.
“Pelo o que foi passado agora aqui, não foi na base
mesmo do Fallet, não. Foi em um dos conteiner que tem lá espalhado, que
acontece essa situação que eu falei ai, fica um ou dois policiais só. Os caras
renderam, tomaram a pistola de todo mundo, colocaram na mochila e depois
devolveram tudo”, disse um policial.
As mensagens dizem ainda que os criminosos estariam
ameaçando os PMs: “Amigo aqui passou um informe que tomaram uma base avançada
que tem lá no Fallet, que só fica os 104 mil. Tomaram as armas dos 104 mil,
botaram sentados no meio fio, deram tapa na cara e foram embora”.
MEU COMENTÁRIO
A
notícia parece ficção saída de algum roteiro de cinema. Não sugere ser verdade,
tão tamanhona é a contradição ela encerra: tudo aconteceu em favelas
“pacificadas”.
Pode
ser que muitos não se lembrem da badalação em torno do programa de UPPs, casualmente
iniciado no Morro Dona Marta, Zona Sul do Rio, conforme confessou o secretário
Beltrame em livro sobre a sua vida. Nem vou comentar sobre a euforia das gentes
finas com a “abiogênese”, em especial da mídia e da segurança pública, que em
uníssono se aplaudiam por terem redescoberto a pólvora.
O
vocábulo “pacificação” tornou-se voz corrente. Os PMs das primeiras UPPs eram entusiasticamente
chamados “espartanos”, ou seja, jovens “idealistas”, “honestos, “fortes”, “sem
vícios”, tais como os “300 de Esparta” que morreram como heróis defendendo a
pátria contra os ataques sírios.
Mas
há, sim, uma semelhança com os “300 de Esparta”: a desproporção de forças
daqueles remotos tempos se iria reproduzir na Cidade Maravilhosa, na medida em
que os “espartanos” se decidiram manter na primeira colina onde estavam
entrincheirados, mas avançar para “pacificar” outras colinas e planícies
(favelas dominadas pelo tráfico), sem mais se preocuparem com a retaguarda, tal
como fez o exército de Napoleão em solo russo. Morreram os soldados de frio e
fome e perderam um combate que nem se iniciara. Venceu então a astúcia dos
russos, que recuaram, não sem antes destruírem cidades inteiras, depois de
esvaziá-las, de modo que não havia nada para saquear quando os franceses chegaram
empolgados com a falsa vitória. Encontraram o nada!...
Os traficantes aqui na
Cidade Maravilhosa não fazem outra coisa desde o início. Na conquista do Morro
Dona Marta, eles recuaram segundo a tática do velho general norte-vietnamita Vo Nguyen Giap, ou do outro (Ho Chi Minh), ou de
ambos, talvez se reportando a Mao Tsé-Tung, ou (quem sabe?) ao estrategista
chinês Sun Tzu, cuja frase adiante reproduzo grosso modo, sugerindo ainda a leitura de antigo texto meu (http://emirlarangeira.blogspot.com.br/2010/08/sobre-o-avanco-das-upps.html): “Se o inimigo ataca, recuamos; se o inimigo para, inquietamos;
se o inimigo recua, atacamos."
Mas, até
as Olimpíadas do ano que vem, o aplauso ressoará mais que vaia, pois interessa
à mídia e a seus articulados xerimbabos propagar a grandiosidade do programa de
UPPs, este que chega ao ponto culminante de os traficantes “sentirem pena” dos
pobres diabos dos PMs, que de “espartanos” nada têm: tomaram-lhes as armas e
depois devolveram-nas como inutilidade, indicando o insólito gesto de clemência
a inegável superioridade deles em relação aos efetivos das UPPs, que não mais podem
crescer sob pena de o cobertor curto terminar agasalhando apenas parte dos pés
da tropa da PMERJ. Pois este é o sentido real da concentração abrupta de
efetivos em territórios específicos, que hoje são dezenas devido à desabalada
carreira da PMERJ a submissamente atender à onda midiática. Ah, como todos
sabem, todas as ondas oceânicas, por mais altas que o sejam, se desfazem em
mansidão na areia da praia, exceto quando se trata de tsunâmi...
Um comentário:
Emir disse:
Ainda não houve nenhum comentário. Acrescento, porém, a matéria do Jornal O GLOBO de hoje, que dispensa comentário:
"29 jun 2015 O Globo
ANTÔNIO WERNECK werneck@ oglobo.com. br
PMs de UPP são suspeitos de negligência
Policiais rendidos por traficantes no Fallet ficam presos 24 horas
Sete policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro do Fallet, em Santa Teresa, rendidos por traficantes na noite de sexta-feira, foram liberados ontem de manhã depois de terem ficado presos administrativamente por 24 horas. Os PMs são considerados suspeitos de negligência porque estariam dormindo quando os bandidos chegaram. Eles estão sendo investigados pela 8 ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar.
Seis criminosos, fortemente armados, cercaram a base avançada da UPP na Rua Fallet, na localidade de Campo do Capitão, e renderam os PMs que estavam no contêiner. As armas, incluindo fuzis, teriam sido recolhidas pelos criminosos e devolvidas em seguida, mas sem munição. O ataque seria para a passagem de um grupo de traficantes em frente à base da UPP. Pelo menos dois policiais teriam sido agredidos.
Em nota enviada ao GLOBO, a PM negou que os bandidos tenham roubado as armas dos policiais. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) informou que os PMs do Morro do Fallet estão recebendo atendimento psicológico e que os traficantes já foram identificados e estão sendo procurados. O Fallet conta com uma UPP desde fevereiro de 2011."
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