quarta-feira, 24 de junho de 2015

RIO EM GUERRA LXXXVII

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)


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23/06/2015
 às 21:21 \ BrasilCultura

Brasil é, no mínimo, o 34º em número de presos por 100 mil, mas jornais caem na maquiagem do relatório do Infopen

José Eduardo Cardozo conseguiu emplacar na imprensa, em pleno período de discussão sobre a redução da maioridade penal, a notícia de que o Brasil tem a 4ª maior população carcerária do mundo, com 607 mil presos, ficando atrás apenas de China, Estados Unidos e Rússia.
Os dados são de um relatório do Infopen, divulgado pelo Ministério da Justiça, e também mostram a superlotação em presídios nacionais.
Como sempre, os jornais reproduzem o release oficial, sem informar os leitores de que, bem, o Brasil tem a 5ª maior população do mundo, atrás apenas de China, Índia, EUA e Indonésia, de modo que ficar em 4º em número absoluto de presos é absolutamente natural.
No ranking mundial de número de presos por habitantes, o Brasil ocupa, na verdade, a vergonhosa 36ª posição, com 289 presos por 100 mil habitantes, de acordo com o Centro Internacional de Estudos Prisionais (ICPS, na sigla em inglês).
O relatório do Infopen aumentou esse número de 289 para 300 presos por 100 mil, o que não melhora em praticamente nada a posição do Brasil, que ficaria então em 34º.
Acontece que o relatório faz parecer que o Brasil ficaria em 4º também neste quesito, como “acreditou” uma parte da imprensa. É mentira. E eu provo.
O Infopen apresenta na figura abaixo “um panorama geral da situação prisional dos vinte países com maior número de presos no mundo”. Veja:
Captura de Tela 2015-06-23 às 20.16.33
Em seguida, vem a maquiagem sutil do Infopen: “Cotejada a taxa de aprisionamento desses países, constata-se que, em termos relativos, a população prisional brasileira também é a quarta maior: somente os Estados Unidos, a Rússia e a Tailândia têm um contingente prisional mais elevado.”
O relatório dá margem à confusão, porque indica a posição do Brasil em número de presos por 100 mil habitantes não no ranking de todos os países do mundo, mas no dos 20 países com maior número absoluto de presos. E esses 20 países não são necessariamente os que têm o maior número de presos por 100 mil.
As listas são diferentes, é claro, e eu mostro a verdadeira, que o Infopen faz questão de não mostrar, embora cite o ICPS quando lhe convém.
Captura de Tela 2015-06-23 às 20.10.14
Na lista correta do ICPS, Estados Unidos (em 2º), Rússia (em 8º) e Tailândia (em 10º) também estão obviamente na frente do Brasil, com a diferença de que há mais algumas dezenas de países à frente do nosso, que não estavam na figura do relatório.
O Estadão e o UOL, no entanto, noticiaram a falsa posição do Brasil em termos proporcionais no ranking mundial (embora os números de cada país sejam praticamente os mesmos da lista correta, repare):
“Em termos proporcionais, o Brasil possui 300 presos para cada 100 mil habitantes, uma taxa menor apenas à verificada nos Estados Unidos (698 presos para cada 100 mil habitantes), na Rússia (468) e na Tailândia (457).”
Mentira. O Brasil está, no mínimo, em 34º lugar.
Mas o conto da 4ª posição é útil à militância de esquerda, ávida em mostrar que prender mais bandido é uma coisa assim muito ruim para o Brasil e, se o país está prendendo mais, é porque algo está errado, não porque ele precisa.
Levando-se ainda em conta que o Brasil é o líder isolado em número absoluto de homicídios, e que apenas 8% dos casos chegam a ser solucionados, obviamente conclui-se que a polícia prende muito menos do que deveria, ao contrário do que petistas e demais esquerdistas querem provar.
Com frequência, como já mostrei aqui, eles também usam o velho expediente de relacionar a taxa nacional de encarceramento – elevada pelos estados que prendem mais – à taxa nacional de homicídios – elevada pelos estados que prendem menos – para fazer parecer que prender bandido não reduz a criminalidade e o Brasil “precisa de menos pessoas presas”.
Na verdade, precisamos é de mais e melhores prisões, mas há 12 anos o PT prefere usar a precariedade do sistema prisional para legitimar que os bandidos – integrantes da classe revolucionária, como ensinava Herbert Marcuse – fiquem soltos aterrorizando a população brasileira.
Como disse o deputado Efraim Filho (DEM-PB) há uma semana, na comissão da maioridade penal:
“O governo aqui falou, por exemplo, que os presídios são medievais, mas foi ele que contingenciou os recursos para construir os presídios.”
Pois é. Os jornais não deveriam contingenciar essas informações.
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MEU COMENTÁRIO

O artigo me veio em comentário sobre o meu texto imediatamente anterior. Devo então dizer ao amigo que me enviou o seguinte: 
1) Não sou contrário á diminuição da maioridade penal, mas questiono a forma como se prende o cidadão no Brasil, ou seja, muitas vezes com os operadores do Direito defendendo falácias distantes da verdade. Sim, muitas vezes eles acusam mediante falsas opiniões e sentenciam na escuridão de mentiras postas no papel em eloquência ou discursadas para jurados sujeitos a influências de quem melhor expõe suas teses, sejam ou não verdadeiras. 
2) O sistema carcerário pátrio é falido, não suporta mais tanta quantidade de presos, muitos deles inocentes sujeitos aos azares do júri popular ou vítimas de vinditas. Infelizmente, isto não pode ser negado, a pressa tem levado muita gente inocente ao cárcere, como vimos recentemente no caso do menor acusado de ter esfaqueado o médico na Lagoa Rodrigo de Freitas, caso encerrado pela polícia e logo reaberto em virtude da confissão de outro menor que assumiu a autoria do crime. Enfim, faltam boas investigações e quem acusa errada ou falsamente não responde por seus atos. 
3) Por derradeiro, afirmo que a melhor forma de concluir com acerto sobre a questão carcerária nacional é a que aqui desenvolvemos, pondo à disposição dos leitores todas as versões. Destaco esta, postada pelo anônimo, com a qual concordo em gênero, número e grau, ainda sublinhando como importantíssimo o fato de a maioria dos crimes praticados em solo pátrio nem ser relatada em sede policial e muito menos investigada. 
4) Enfim, não sou contra encher as cadeias, desde que elas existam e acolham os verdadeiramente criminosos, sejam adultos ou menores de quaisquer idades. Mas sou contra inocentes amargando a cadeia porque os operadores do Direito agem desmedidamente e não respondem por isto, ademais de serem investigados somente por seus pares. E, claro, não sou "de esquerda", muito pelo contrário, nem "de direita, muito pelo contrário! Ponho-me no centro e me declaro amante da democracia, não a que existe por aqui, esta, que não respeita o cidadão e mantém organismos com poderes ditatoriais a pretexto de "defenderem a coletividade"...

2 comentários:

Anônimo disse...

O objetivo foi apenas alertá-lo sobre a gravidade da situação do país; não podemos confiar nas estatísticas apresentadas ou mesmo nas conclusões inferidas de supostas estatísticas, o mais das vezes inexistentes. Políticas públicas são engendradas tendo por base falsos argumentos, sendo os seus resultados previsíveis e, na atualidade, já consagrado o erro pelo tempo decorrido desde a concepção há mais de 30 anos e pela percepção de quem sofre na pele as consequências.
Confiemos apenas na nossa moral objetiva, não na relativista dos que comandam a nação: lugar de bandido é na cadeia, seja ela boa, ruim, existindo ou não. Lugar de inocente é no seio da sociedade, pensando e agindo (em segurança) na solução dos problemas, inclusive nos elencados por V.Sa..

Anônimo disse...

Emir disse: o problema é que não confio na lisura da Justiça nem creio que o Ministério Público seja feito de deuses intangíveis, como hoje acontece. Também não confio em estatísticas, em especial nas produzidas por aqui. Mas estou certo de que há muitos inocentes presos ou respondendo a processos por conta dos caprichos dessas gentes de gravata e de toga, que não são responsabilizados por seus erros, muitos deles deliberados. Em países sérios há a cobrança individualizada. Aqui o erro individual se reverte para o Estado. Não concordo com isto! Por isso defendo que todo o sistema seja revisto e cada um receba o ônus correspondente ao seu bônus de poder, que não pode ser desmedido. Realmente, lugar de bandido é na cadeia e lugar de inocente é no seio da sociedade. Mas no Brasil isto é utopia. Desculpe-me, mas não confio apenas na moral subjetiva. Prefiro o exercício da razão, o que sei ser difícil, senão impossível. Enfim, estamos perdidos!...