“O mundo está perigoso para se viver! Não por
causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta
de que não viram.” (Albert Einstein)
O
EXERCÍCIO DO MEDO
No meu rol de amizades ou entre familiares, ou atento
a eventuais diálogos entre pessoas estranhas, sempre noto uma espécie de
angústia ante o fato de que todas se sentem ameaçadas por uma descontrolada criminalidade,
desfraldando de imediato suas críticas à PM. Por outro lado, vejo a PM sempre a
indistintamente absorver todos os reclamos que se lhe dirigem, e a anunciar que
“reforçará o policiamento” em resposta a eventos que já aconteceram e
produziram seus inevitáveis males. Enfim, a PM vive improvisando a troca da
fechadura de portas arrombadas, sem, porém, apontar ao público os verdadeiros
chaveiros...
Ressalta-se atualmente a impune ação criminosa de
menores nas ruas: traficando drogas, cheirando coca, fumando crack e maconha, e
esfaqueando pessoas ao assaltá-las. E assim o fazem porque não se contentam com
a passividade das vítimas, e ferem-nas, e matam-nas! Ora, são mais cruéis que
adultos, apesar de menores de idade ante a legislação vigente, que não é nada
mais que superado conceito sociopolítico.
Algumas reclamações se demonstram tão dramáticas que
até nos assombram. Deste modo, constato que as pessoas se sentem frágeis. Não
sabem como reagir ao problema da insegurança. Ficam arrasadas, balbuciam
discursos sem nexo, perdidas em si mesmas. Afirmam ainda que deixaram de
caminhar nas ruas e dispensaram afazeres inadiáveis. Enfim, todas externam um
terrível e incontrolável medo!...
No contexto de atrozes narrativas, percebo, todavia,
que nenhuma pessoa ultrapassa o limiar do seu próprio problema ou do
acontecimento havido com parentes e amigos, em especial envolvendo menores
infratores, insisto neste detalhe. E, na superfície deste cenário, o linguajar
geral é o de crítica à polícia, mormente à PM. É como se somente a PM existisse
e respondesse por todos os males saídos da “boceta de Pandora”, sendo
desnecessário listar os adjetivos desabonadores da conduta policial, eis que
sempre generalizados no seu máximo em catarse individual e grupal.
Sim, esse tipo de desabafo é constante nas rodas que
frequento. E minha postura é a do cauteloso silêncio, engolindo muita irritação
ante uma realidade que me não deveria calar, pois, afinal, há algo de errado
com esta sociedade da qual sou parte. Porque, na verdade, ninguém se assume
como responsável por nada. Todos se resumem a cobrar afazeres do Estado, entregues
à ilusória ideia de um clientelismo extremado. Exigem do Estado um irrestrito
cumprimento do dever, sem, porém, atentar para suas próprias obrigações, substituindo-as
por críticas à já exaurida corporação, esta que, no fim de contas, não possui pernas
tão longas, embora todos pensem em contrário e lhe exijam o que não pode
suprir: segurança total e absoluta. E não aventam nenhuma sugestão de ação no
âmbito de suas obrigações constitucionais enquanto cidadãos, o que insistem em desconhecer
e desconsiderar.
Por sua vez o Estado, – através de seus gestores
burocráticos e políticos, – age como se fosse pai: intervém em tudo que deve e
que não deve. Arroga-se protetor de todos, e, paradoxalmente, impõe restrições
endereçadas aos cidadãos já acuados por problemas que ele, Estado, não resolve.
Afinal, o proselitismo político não o permite, as cínicas pressões da mídia não
lhe dão espaço, os ideólogos de esquerda abrem vozes contra ele e “em favor dos
fracos e oprimidos”... Mesmo que eles estejam de armas em punho assaltando e
matando pessoas indefesas porque querem viver exatamente assim: incapazes de
reagir. E conseguintemente carregam como fardo o medo de viver livres e seguras.
A verdade é que nunca se trata do problema da
criminalidade na sua extensa e profunda raiz. Há muitas críticas vazias, muito
reducionismo, muitas falácias estatísticas. E abundam desvios do problema por
meio de discursos em favor da melhoria da educação, da saúde etc. E a esses
proselitismos acrescem outros a defenderem melhor qualidade de vida para os
despossuídos, direitos humanos para os que se comportam como animais
irracionais. Sim, tudo numa cínica postura burguesa que se encaixa como luva em
quem se integra a esta “esquerda caviar” que atualmente desordena o país.
Grosso modo, tal comportamento social lembra os primórdios da Revolução
Francesa: o Terror.
Sim, sim, existe uma profusa calamidade social do
banditismo urbano e rural no Brasil, que dispensa exemplos. É prenúncio do
Terror... Mas a sociedade brasileira a ignora e põe a solução na conta de um
Estado preguiçoso, temerário e larápio. Ora, isto jamais acontecerá nesta
conjuntura hipócrita a que os cidadãos brasileiros se entregam em
impressionante e perturbador autismo!...
Tal situação me faz lembrar a mim a oportuna frase de
Erich Fromm: “A calamidade é ruim para o povo, mas boa para a sociedade.”.
Sim, é o que nos falta: acordar o Brasil para a ideia
de que o banditismo é problema calamitoso a ser resolvido de modo alheio a
ideologias, sejam de esquerda, de direita ou de centro. Mas a solução está mui longe
no espaço e no tempo, embora demande ações urgentes e de enorme porte,
englobando simultaneamente todos os organismos (sistemas e subsistemas) que se
integram ao Sistema Nacional de Segurança Pública (União, Estados e
Municípios), que, por enquanto, só existe no conceito. Seriam eles, em tese:
Justiça, Ministério Público, Polícias Civis e Militares, Forças Armadas,
Subsistema Carcerário, Leis Penais e Processuais Penais, Guardas Municipais,
Departamentos de Trânsito, Defensoria Pública, Advogados Criminais etc. E a
sociedade através de muitos segmentos... Mas falta aos brasileiros um grande
líder...
Como se vê, é sistema social complexo e desdobrado em
subsistemas nos três níveis de poder do Estado, que hoje permanecem desunidos e
isolados da sociedade, e quando unidos entram em curto-circuito, o que importa
dizer que não são sistemas no sentido conceitual e prático.
Já o outro lado, o do calamitoso banditismo, este representa
um sistema sofisticadíssimo, embora dissimulado em desorganização, nada mais
que tática de ação sob o manto de uma firme e indiscutível autoridade, esta,
que falta ao Estado. Sim, no sistema situacional criminoso tudo funciona nos
limites predeterminados, incluindo-se o controle de áreas habitadas por
populações carentes e submetidas ao Terror. Já a sociedade... Bem, a sociedade
também não é sistema!
Cá entre nós, a culpa é só da polícia?...
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