“O
mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas
por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert
Einstein)
Revista ISTOÉ de
15ABR/2015
É forte a imagem inicial destacando um PM de fuzil, um oficial tapando a boca e o nariz com a mão, e a palavra “comportamento” como se fosse um “sol”...
A foto sugere guerra, contrariando o raciocínio da
cientista social Silvia Ramos de que a guerra é “discurso fracassado”. Quem
dera!... Porque o “discurso fracassado” é ainda o que chamam de “polícia de
proximidade”, que o programa de UPPs, embora bem-sucedido em comunidades menos
populosas, não consolidou na prática. Portanto, a lógica infelizmente é a dos
confrontos bélicos, que, se tecnicamente sopesados, se encaixariam nos
parâmetros da ONU, deste modo exigindo intervenção de força de pacificação
militar. O resto, por enquanto, é UTOPIA, quem manda nas comunidades é o
tráfico militarmente organizado e portando armas de guerra, impondo por meio de
métodos cruéis uma forte liderança entre os favelados. Sim, o tráfico em
favelas é hoje o Terror.
A matéria da Revista ISTOÉ com o destaque da foto e o
título com a sigla UPP perfurada a bala é deveras sugestivo. Na
verdade, contraria o otimismo em irônica provocação, apontando o impasse que
o programa enfrenta atualmente. A foto do miolo da matéria destaca a indignação
da comunidade do Alemão, o inverso da UTOPIA; por fim, o discurso aparentemente
vazio de um governante que não mais sabe que falar em vista do fato de que está a
mais e mais sozinho nesta empreitada...
Enfim, estamos diante do contraste entre o ideal e o
real, só que postos num continuum cuja
linha que o contém é traçada com a pena da incerteza e da turbulência, em
virtude principalmente da criminalidade cada dia mais violenta, fato
insistentemente camuflado, em reducionismo, no “índice” ou na “taxa” de
homicídios, prendendo-se o discurso a este conceito unívoco, ignorando o real contexto
em que a criminalidade se situa atualmente, e em todo o ambiente social (não
apenas em favelas), demandando, por conseguinte, ações globalísticas de todo o
Sistema de Segurança Pública representado pelos respectivos organismos
federais, estaduais e municipais listados na Carta Magna, sem desprezar a
participação ativa da sociedade.
Cá entre nós, o viés do governante parece ser patético
neste andar da carruagem. Melhor seria, talvez, que ele não falasse nada e deixasse
a palavra com os gestores da segurança pública e com os anônimos
“especialistas”, embolados num discurso improvável, que nada acrescenta além de
palavras a reforçarem a UTOPIA.
Para salvar a fala do governante, todavia, poderíamos traduzi-la como reclamação direta e endereçada ao Planalto Central. Neste caso, ele teria de sair do seu lugar-comum de que incluir mais PMS resolverá o assunto, embora ele acerte quando admite a inferioridade de forças, curiosamente provada quando a PMERJ reforça o efetivo no Alemão, como força de dissuasão, a ponto de inibir momentaneamente os bandidos.
Para salvar a fala do governante, todavia, poderíamos traduzi-la como reclamação direta e endereçada ao Planalto Central. Neste caso, ele teria de sair do seu lugar-comum de que incluir mais PMS resolverá o assunto, embora ele acerte quando admite a inferioridade de forças, curiosamente provada quando a PMERJ reforça o efetivo no Alemão, como força de dissuasão, a ponto de inibir momentaneamente os bandidos.
Numa visão técnica bastante simples, o que a PMERJ fez
foi selecionar suas forças além da dos bandidos, que prudentemente recuaram,
fragmento tático dos guerrilheiros norte-vietnamitas que já expliquei aqui (se
o inimigo ataca, recuamos...). A questão, porém, é manter o inimigo em recuo
até eliminá-los (ou dominá-los), o que os EUA não conseguiram no Vietnã e
saíram de lá escorraçados. E nem aqui se conseguirá, já que aqui não pode ser
guerra. Seria então o quê?...
Salve-se a fala prudente do comandante da PM, que se
fixa na incerteza de um programa ainda experimental de aproximação da PM às
comunidades faveladas dominadas pelo poderoso tráfico de drogas. Porém, é bom
lembrar que independentemente da denominação (agora a moda academicista é a tal
“polícia de proximidade”), foram muitas no passado as tentativas de articulação
comunitária da PM com populações faveladas. Reportam-se elas ao primeiro
governo Brizola e ao primeiro comando do Cel PM Carlos Magno Nazareth
Cerqueira, mentor de alguns projetos interessantes, mas que se desmancharam no
ar, como, por exemplo, o projeto de oficinas para adolescentes favelados
aprenderem profissões de mecânico, marceneiro e outras dentro dos quartéis.
Outra iniciativa importante de aproximação da PM com o público foi o Programa
Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), aplicado em escolas públicas e
privadas no RJ e estendidas para todo o Brasil. Será que ainda existe?...
Com efeito, o Cel Nazareth Cerqueira
pensou e agiu com mais profundidade. Buscou atuar com sua PM no campo das
atitudes para mudar comportamentos, processo evolucionário bem diverso do
programa de UPPs, nitidamente revolucionário, que começa com batalhas campais
de conquista e ocupação, tais como sugerem os manuais de antiguerrilha urbana
ou rural. Em outras palavras, as UPPs não são mais que conquista e ocupação militares
do território inimigo, para depois se tentar reverter o apoio da população.
Sim, ações militares (não policiais), que a história das guerras não conseguiu
registrar como bem-sucedidas a não ser em raros casos de pressão violenta sobre
as populações conquistadas, como é o caso do Tibete...
Deste modo, ficam então assim as UPPs:
no “gargalo”... Destacando-se na primeira foto um precioso vocábulo, nem tão
solto num espaço sem sentido, eis que comum à Psicologia Social e profundo em
sua insinuação: “Comportamento”...
Seria um recado aos “academicistas de
palavras mortas”?...
(Vide Tomazio Aguirre – ACADEMICISMO:
O CEMITÉRIO DAS PALAVAS MORTAS – http://www.overmundo.com.br/overblog/academiscismo-o-cemiterio-das-palavras-mortas).
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