terça-feira, 24 de março de 2015

RIO EM GUERRA XXXII

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

Trecho de matéria do Jornal EXTRA ONLINE, dia 24/03/2015


Local da reunião dos traficantes armados com os moradores do conjunto habitacional

‘Minha casa, minha sina’

(...)

Após três meses de apuração, o EXTRA constatou que todos, absolutamente todos, os 64 condomínios do “Minha casa, minha vida” destinados aos beneficiários mais pobres — a chamada faixa 1 de financiamento — no município do Rio são alvo da ação de grupos criminosos. Neles, moram 18.834 famílias submetidas a situações como expulsões, reuniões de condomínio feitas por bandidos, bocas de fumo em apartamentos, interferência do tráfico no sorteio dos novos moradores, espancamentos e homicídios.

Mais de 200 pessoas foram ouvidas, entre moradores, síndicos, policiais civis e militares, promotores, funcionários públicos e terceirizados, pesquisadores e autoridades. Além disso, foram analisados documentos da Polícia Civil, do Ministério Público, da Secretaria de Habitação, do Disque-Denúncia, da Caixa Econômica e do Ministério das Cidades, parte deles obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. O material deu origem à série “Minha casa, minha sina”. (...)


MEU COMENTÁRIO

Trata-se de investigação jornalística sequencial, o que no meio da mídia chamam de “suíte”. Interessante sob todos os aspectos, pois desmorona a ideia de que a criminalidade é feita somente de homicídios, embora não se possa negar que os crimes de sangue são efetivamente mais graves, eis que extremos. Mas não é possível ignorar os crimes contra a honra das pessoas em virtude de submissão a bandos armados de traficantes, porque isto pressupõe outras possibilidades além do controle de conjuntos residenciais.

Na verdade, é possível que muitas famílias se submetam a extremos como ter de “autorizar” que filhas e filhos sejam utilizados até sexualmente por traficantes, em especial pelos chefões. Lembro um caso em minha época de comandante do nono batalhão (1989-1990): o traficante Zé Penetra, um dos líderes do tráfico em Vigário Geral, se dava a si como “presente de aniversário” algumas adolescentes faveladas, sem que seus familiares pudessem abrir a boca a não ser para concordar.

É fácil imaginar o desespero das pessoas assim atingidas pelo mando tirano do bandido, que, por sua vez, nos faz retrogradar aos tempos em que os reis desvirginavam as moças que pessoalmente escolhia, antes do casamento delas, tendo o noivo e toda a família a obrigação de reverenciá-lo sob pena de execução sumária, sendo certo que à virgem escolhida somente cabia aceitar com alegria a “honrosa escolha”, senão morria...

Mas, tornando aos dias de hoje, quando vejo o foco de muitas matérias somente na diminuição (?) dos crimes de sangue, tudo para sublinhar as UPPs como panaceia de todos os males do imenso RJ, mesmo que elas só existam na Capital, ocorre em mim um misto de espanto e ira. Mais ainda quando o discurso de algum “especialista em segurança pública” (já grafei o que penso sobre eles no RIO EM GUERRA XXXI) põe em xeque a ação da PMERJ como se fosse o único e exclusivo subsistema de segurança pública a responder por erros e acertos deste complexo e alarmante vetor contrário à paz social.

Quem dera o problema da criminalidade se resumisse à prática de homicídios! Quem dera fossem todos decorrentes de confrontos entre policiais e bandidos, mesmo que ocorressem alguns excessos! Ora, o que mais se vê são casos como o do vereador Magaldi, de Niterói, barbaramente assassinado em Camboinhas (Zona Oceânica) por jovens e sanguinolentos bandidos com homizio no distante Morro do Castro (comunidade periférica situada no outro extremo da cidade), provavelmente porque vinham impunes da adolescência praticando crimes de morte nos moldes deste, apenas para atender à sanha assassina que trazem dentro da alma como marca do inferno. Porque esse tipo de crime de sangue é perpetrado por bandidos que têm o perfil daqueles que enfrentam a PM em confronto direto, e quando morrem se tornam “estudantes” ou “trabalhadores” sem anotações policiais, como bradam seus parentes e amigos por determinação expressa de quem manda mais: o tráfico. 

Mas é nesta hora, infelizmente, que surgem os “especialistas em segurança pública” atribuindo à PMERJ a pior parte da tragédia, embora ela seja generalizada e desdobrada em situações como a que o Jornal EXTRA denuncia e prova. Só falta agora dizer que também esta vertente de crime é culpa da corporação, como se somente a ela coubesse investigar, singularizar os déspotas e puni-los devidamente nas barras dos tribunais. Ora, também isto seria papel exclusivo da PMERJ?

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bem destacado-crime contra a honra-,importante frisar que o condomínio em questão é do lado do Instituto Félix Pacheco, da polícia civil, e fica a menos de 500 metros do hospital da polícia militar e ainda a menos de 1 kilómetro da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Em suma : vagabundo de favela tá deitando e rolando mesmo no asfalto.
que vergonha.