Bastaria existir a Via
Láctea no inexplicável Universo para caracterizar o absurdo da existência
humana no planeta Terra. Porque todos os conceitos existenciais esbarram nesta
invencível constatação do absurdo; e, mesmo que tudo seja irrealidade, e que a
existência humana seja uma ilusão, nós, mortais supostamente pensantes, insistimos
em distinguir o natural do sobrenatural, ignorando o primeiro por ser complexo e
cultuando o segundo muitas vezes por imitação do outro. Olvidamos o natural também
porque a ciência e a filosofia não ultrapassaram o limite do “só sei que nada
sei”. Resta-nos então o sobrenatural como via de escape. Mas quando nos
remetemos a ele em profundidade, vemo-lo tão incrível quanto o natural. Alenta-nos,
nesta hora de difícil opção, a Fé na existência de uma Entidade criadora do Universo,
ou de Multiversos, tanto faz. Mas o absurdo insiste em nos atordoar, e nem
sempre a Fé em Deus o supera. Sorte daquele cuja Fé é capaz de transpor todos
os absurdos imagináveis e inimagináveis.
Tornando ao enigma, (quase
um dilema?), imaginar que o Universo sempre existiu ou que teria nascido de um
Nada, sem intervenção divina, não dirime a dúvida fundamental, e cá nos
mantemos diante o absurdo. Mais enigmático ainda é conceber esse Nada anterior à
criação do Universo e aceitar como verdade insofismável a existência de uma
Entidade criadora fora desse Nada representado pela ausência de tempo, e espaço,
e energia, e matéria. Essa Entidade, claro, é o nosso Deus ocidental, ou são as
Entidades com outras denominações mundo afora. Cada qual com sua Verdade... Enfim,
qualquer via de escape sobrenatural nos leva ao absurdo e nos trancafia no
maior de todos os absurdos: a nossa existência por obra de Deus. Não crer na Criação
é absurdo! Crer na Criação é absurdo! Enfim, só nos é dado crer no absurdo ou
nos entregarmos a uma Fé tão convicta que dispensa absurdos.
Pensar na existência
humana a partir da Criação significa aceitar a racionalidade diferenciadora dos
animais e dos vegetais e crer em Deus. Tal posicionamento me parece menos
absurdo do que crer na Evolução a partir de um big-bang cuja teorização somente
tem servido para afagar egos científicos muito além do entendimento simples do
povo da Terra... Hum, que racionalidade é esta a que me refiro? Será a que
conduz este texto sem pé nem cabeça?... Como saberemos, enfim, que realmente
raciocinamos? Quantos movimentos repetitivos executamos enquanto supostamente
raciocinamos? Por que há tanta semelhança biofísica entre humanos e animais?
Como negar tantas outras similitudes orgânicas entre seres humanos e animais?
Bem, a diferença estaria no exercício da razão, apenas, pois a emoção afeta também
os animais, e cada qual a manifesta do seu modo repetitivo. Ora, a emoção afeta
o nosso corpo físico e psíquico, sim, e a repetição dessa emoção é comum aos humanos
e aos animais. Ou seria mais um absurdo que aqui grafo em dúvida angustiante?...
Hoje a mecânica
quântica absurdamente assegura que a pedra pensa. E agora? Que dizer disso?
Será que os cientistas enlouqueceram? Não, não enlouqueceram, somos todos nada
mais que átomos a transmigrarem de um para outro corpo mineral, vegetal ou
animal ao longo de sua existência, seja efêmera ou eterna. Sim, para o átomo
não há contagem de tempo. Aliás, tudo que existe apenas representa o que
conceituamos em relação ao que sentimos ou não sentimos, bem como imaginamos
que as demais coisas ou pessoas sentem ou não sentem. É tudo, afinal, clichê de
comunicação repetitiva, tal como fazem os animais para se comunicar abrindo asas,
balançando rabos, emitindo sons etc. É tudo átomo!...
Vivenciamos um mundo
absurdo. Praticamos o absurdo desde o nascimento até a morte, com ressalva de
que no prelúdio de nossas vidas comemos e borramos como quaisquer animais
irracionais. Sim, somos instintivos na maior parte do tempo, este que
aparentemente nos transforma em seres pensantes porque o delimitamos em
convenção simplória, embora saibamos que tudo no início é imitação, e é como
nos comportamos: imitando o outro até a morte. Claro que um médico pensa
diferente de um engenheiro, se quisermos raciocinar com diferenças. Mas
fundamentalmente são seres humanos forjados do modo de sempre no mundo animal
(racional e irracional). Mas, se o animal não pensa em nada, também nós,
humanos, evitamos pensar no absurdo de o nosso planetinha gravitar num sistema
tão minúsculo em relação à Via Láctea que nem dá para imaginar que são bilhões
de bilhões de Galáxias no Universo infinito. Ou finito?... Ah, quem somos
nós?...
Com efeito, não há como
não nos descambarmos para o espanto ante o absurdo. E talvez o maior de todos
os absurdos resida no fato de nos situarmos dentro de nós mesmos e nos
deliciarmos com o que designamos subjetividade. Vemos coisas e pessoas e as
distinguimos segundo a nossa aparente vontade. E parece que é o que nos basta,
até que miramos o céu distante e nos damos conta de nossa insignificante
pequenez diante de nossa absurda existência, se é que existimos... Bem, não
posso negar certa angústia ante a vida e o mundo. Espanta-me o absurdo da
ignorância em que vivemos. Não somos nada mais que hipóteses improváveis até
materializarmos a hipótese extrema da inexistência: a morte. E mais ainda me
espanta a arrogância, o extremismo fanático e a crueldade dos seres humanos,
mesmo certos de que, humildes ou arrogantes, sensatos ou extremados, tornar-se-ão
pó de estrela, tais como no início de tudo...
Um comentário:
Sim, podemos divagar horas sobre esse enigma ou simplificá-lo aceitando a fé na existência de algo superior a nós, afinal o nada não poderia criar coisa alguma por uma questão lógica. Somos racionais, portanto esta lógica não nos conduz a algo sobrenatural e, sim, a algo natural, mas que desconhecemos. Até o big-bang pode ser considerado natural nessa linha de raciocínio.
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