segunda-feira, 9 de março de 2015

RIO EM GUERRA XXIV

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)



A PACIFICAÇÃO TEM VEZ?

Tem vez, sim! E não me incomoda que alguns estranhem a minha opinião, muitas vezes confundida devido às fortes críticas que de longe em longe faço às UPPs. Mas, se observarem atentamente, os leitores perceberão que sou apenas contrário à desinformação inicial e à celeridade com que o programa avançou, sem maiores preocupações com a retaguarda. Inclui-se nesta retaguarda a reposição de homens e equipamentos, assim como releva a falta de um processo permanente de estudo de cada situação havida desde o início, para que todos saibam qual terá sido até agora o custo-benefício do programa.
Isto, sim, talvez seja uma “caixa-preta” a ser aberta, doa a quem doer, haja o que houver. Afinal quantas são as baixas desde a primeira UPP? Onde ocorreram? Quantos mortos e feridos contabilizados, não apenas em serviço, mas na folga e em decorrência dele?...
Claro que há informações que não devem ser de domínio público. Porém, não há como negar as difundidas pela mídia ao longo do tempo, e creio que o sistema se lhe deveria antecipar, pois é certo que a qualquer momento esses dados pontuais serão contabilizados e divulgados. No fim de contas, não basta dizer que houve queda nos índices de homicídio dentro das favelas com UPP sem compará-los com as baixas sofridas pela PMERJ. Sim, tudo deve ser cotejado, repisado, esmiuçado, de modo que as UPPs sempre tenham vez como possibilidade de intervenção positiva nesta complicada contextura do crime, em especial do tráfico em favelas, que é volumoso, organizado e lucrativo, a ponto de sustentar milhares de criminosos armados.
Mais ainda se há de considerar que os bandidos não atuam em escalas de serviço, como os PMs. Eles moram na comunidade e estão sempre aptos ao combate, não lhes faltando armas curtas de sofisticada letalidade e fuzis de última geração. Sim, falamos de exércitos paramilitares que vêm sendo enfrentados por policiais jovens e formados às pressas. Porque é certo que não falamos de BOPE, cuja tropa dispensa apresentação. Mas o BOPE é tropa de conquista, não é de pacificação. Nem se pode compará-lo com as forças militares federais de pacificação, não há conflito bélico no país e até o Exército dentro de favelas se submete aos limites do Estado de Direito, ou seja, não atua agasalhado por nenhuma exceção legal (Estados de Defesa e de Sítio). O BOPE é tropa excelente, mas não pode ser onipresente...
O secretário Beltrame, inegável defensor das UPPs, não se cansa de reclamar da ausência da tal “UPP Social”, “batata quente” que todos lembram ter sido mote de Sérgio Cabral e Eduardo Paes, mas que agora está queimando as mãos do atual governante, sendo certo que também nem ele nem o ainda prefeito do Rio assumem o risco de tocar no assunto. Silenciam em caradura, deixando o secretário num misto de atônito e irado, sem, porém, poder avançar na pressão, a mídia não o ajuda na cobrança. Ajuda, sim, como na matéria em comento, espécie de “afago” para o secretário não perder de zero. De resto, a “batata quente” está com ele...
Que maldade!... Porque a tal “invasão social”, como ficou conhecida e é ainda esperada pelas comunidades com UPP, não avançou quase nada além do badalado teleférico, este que é constantemente paralisado por conta dos violentos confrontos que ainda ocorrem no Complexo do Alemão. E me cabe supor que os encantados turistas usem o teleférico em dia de trégua senão para conhecer um dos mais concentrados focos de pobreza, indigência e miséria do país, ainda assolado por uma violência cuja dimensão não se sabe, muita coisa acontece longe dos olhos da hipócrita e indiferente sociedade formal.

Não falo da sociedade mais ou menos formalizada que ocupa a periferia das favelas, pois esta interage de fato com as comunidades faveladas e se comporta conforme a vontade do traficante-mor, e assim se torna uma “comunidade orgânica” (nos moldes ensinados pelo eminente cientista político Paulo Bonavides). Refiro-me à sociedade dos altos andares de luxo, distante do lixo das favelas, que somente sabe o alinhavado por jornais, revistas e programas de televisão que enfeitam as favelas em falso glamour. E para esta sociedade de fato tanto faz que as UPPs tenham ou não vez, a “batata quente” não lhe pertence, está nas mãos do secretário Beltrame enquanto perdurar a hipocrisia da elite, o que, aliás, não tem prazo de validade...

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