sábado, 25 de janeiro de 2014

Eleições e segurança pública


Em ano eleitoral discussões sobre a violência assumem proporções gigantescas, discursos críticos se avolumam e soluções mágicas emergem de varas de condão, mangas e cartolas. Entra ano e sai ano, porém, nada muda a não ser para pior ante o espanto geral de uma sociedade desinformada. Atordoada, esta sociedade então se satisfaz com opiniões midiáticas que não guardam relação com nenhuma realidade, mas atendem a interesses inconfessáveis de estruturas endinheiradas. Enfim, o grave assunto da violência é sempre tratado como se fosse não mais que “tese”, enquanto é reinventado em novas formas aceitas como “democráticas”, como assistimos nas ruas num passado próximo os Black Blocs e recentemente os tais “rolezinhos” em Shoppings, nos dois casos evidenciando-se a lenidade das autoridades políticas e a deliberada omissão de subservientes burocratas empoleirados na segurança pública, todos se deliciando das “boquinhas”.

Este é o resumo da ópera bufa que mais uma vez assistiremos com a passividade de sempre. Aplaudiremos, enfim, e efusivamente, o mesmíssimo estado excessivamente interventivo e falacioso, de um lado, e, do outro, faremos coro com preguiçosa e amedrontada clientela a que nos integramos como gado. Curioso é como esse corpo social carcomido pela sujeira acumulada em décadas de clientelismo consegue vestir roupa nova sem se limpar minimamente. Sim, o corpo social segue em frente a mais e mais maculado pelas drogas e ensanguentado por crimes violentos. Incrível, mas nada disso incomoda o passivo cidadão, porque, quando se lhe há o espanto, ele dura um átimo, e todos imediatamente se ligam às faraônicas festas pagas com seus tributos e tudo vai bem assim, pois tudo foi bem assim ontem, tudo está bem assim hoje, e melhor ainda ficará amanhã...

Neste cenário de violência urbana e rural que mata mais que muitas guerras atuais surgem os candidatos apenas mais avelhantados, mas todos curiosamente chiques, embora jamais deixassem de ocupar cargos políticos com salários fixos. Todos, porém, enricaram, são donos de fazendas e boiadas; enfim, são “empresários” porque fizeram multiplicar seus salários limitados mais que Jesus fez ao multiplicar os peixes. Sim, estão todos ricos, milagrosamente ricos, e seus discursos enviesam conforme a situação ou a oposição às quais se integram, sendo certo que muitas vezes mudaram de lado só para garantir as algibeiras cheias. São eles que surgirão como arautos da esperança. Surgirão com soluções quixotescas tão bem elaboradas e a escudar discursos elegantes sobre como finalmente conter a onda de violência que assola a sociedade sem qualquer pejo ou temor real. Ah, a violência corre solta por aí...

Se a segurança pública é complexa e mal entendida, assim permanecerá, pois enquanto a estrutura policial é designada como “segurança pública”, quem será capaz de concluir que o vocábulo encerra muito mais complexidade? Quem será capaz de sustentar que a segurança pública, sujeito da ação da qual a ordem pública é objeto, deve ser conceitualmente vislumbrada como o somatório globalístico de no mínimo os seguintes órgãos públicos: polícia, ministério público, justiça, sistema carcerário, defensoria pública, leis penais e processuais penais? Ora ninguém, o preconceito semântico contra a segurança permeia esta sociedade pós-ditadura e a moda agora é ser “de esquerda”, o que significa ser benevolente com criminosos tidos como “vítimas da desigualdade”. E por esta via deformada proliferam os crimes de fraude e sangue acobertados por muitos membros, burocratas, de organismos públicos que deveriam coibi-los energicamente em benefício da sociedade ordeira, mas não o fazem...

Cá entre nós, que candidato terá a coragem de assumir que administrará a segurança pública como manda este figurino? Que candidato assumirá que um menor que assalta, trafica e mata deve receber pena de adulto? Quem terá coragem de cobrar desses subsistemas de segurança pública isenção e cumprimento fiel da lei? Quem calará a voz dos mentirosos? Quem será capaz de assumir o ônus de investir no sistema carcerário e no instrumental policial para efetivamente vencer o crime? Quem cobrará o real cumprimento da lei penal sem proselitismo, e, mais ainda, sem as palhaçadas que assistimos atualmente, promovidas por detentores de altos cargos públicos acobertados pelo falso discurso dos direitos humanos? Ah, nenhum candidato terá essa coragem porque será logo tachado como “de direita” e demonizado até ganhar o prêmio do inferno.

Confesso que me move desta vez uma curiosidade mórbida. Porque não sei como a sociedade tomará assento para ouvir os candidatos a não ser do modo sempre: passivamente. Imaginar outra postura me parece mui difícil, quase que impossível, um milagre às avessas. Pois o milagre deve ser o de sempre, aquele promovido pelos milagreiros de sempre, que conseguem dizer que tudo vai bem diante de cabeças decapitadas em presídios nacionais, e diante do eloquente silêncio de seus aliados “de esquerda”... Sim, é de se esperar certa concordância entre os candidatos de situação e de oposição, ou vice-versa, no sentido de que tudo está bem entre eles e só precisa melhorar... Afinal, estão todos atrelados ao governo maior e recebendo benesses por baixo e por cima dos panos, o que tornará seus discursos uma espécie de trem cujos vagões correm na mesma velocidade, mas não conseguem ultrapassar o que lhes vai à frente rolando rodas no mesmo trilho e numa só direção predeterminada por quem detém o poder maior...

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