sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Dois pesos, duas medidas?...

Depois de comentar durante a semana a matéria publicada em página inteira do Jornal EXTRA, dando ênfase no aumento dos índices de criminalidade em áreas com UPP, com uma tabela destacando uma crescente letalidade (homicídios), deparo hoje no Jornal O GLOBO com uma espécie de “desmentido” a partir de dados estatísticos do ISP informando que o índice de homicídios aumentou no Estado, mas foi menor no Município do Rio de Janeiro. Ora, as UPPs estão instaladas na capital, donde se conclui que uma das duas estatísticas está equivocada, para não concluirmos que uma delas foi manipulada, mesmo que minimamente, restando ao leitor do EXTRA uma verdade, e outra verdade ao leitor de O GLOBO, o que nos permite inferir que alguém está a abraçar mentiras... Pode ser até que boa parte dos leitores não seja a mesma, assim como é certo que as diferenças entre uma informação e outra não são significativas, o que põe o predomínio do entendimento no título das matérias. No caso do Jornal EXTRA, de 02 de setembro, o título não deixa dúvidas: “CRIME CRESCE EM CINCO DAS SETE ÁREAS COM UPP”, vindo em destaque em subtítulo do mapa desenhado: “A ESCALADA DO CRIME EM ÁREAS PACIFICADAS”. Vejam o desenho:
 
 

Agora publica o Jornal O GLOBO, de 06 de setembro, matéria inversa com o seguinte título: “NÚMERO DE HOMICÍDIOS CAI NO MUNICÍPIO”, claro que se referindo à capital. Vejam o gráfico apresentado como “NÚMEROS DO ISP”, comparando homicídios no estado em cotejo com homicídios na capital, transferindo a desgraça para o interior e acenando alvíssaras para onde as UPPs estão instaladas:



Enfim, entra em cena a velha máxima estatística da pedra de gelo na cabeça e a fogueira nos pés indicando que na média (abdome) está tudo bem... Mas não quero polemizar com o ISP nem penso que seja tão importante a espécie de “desmentido” estampada no O GLOBO, mas importa clarear que o vocábulo “ESCALADA” utilizado pelo Jornal EXTRA com o foco nas UPPs tem o significado único de aumento progressivo e não pode haver outra conclusão. Portanto, é no mínimo estranho que o assunto volte à baila em outro subsistema do mesmo sistema jornalístico (GLOBO e EXTRA pertencem à INFOGLOBO), porém destronando a informação anterior, não mais se sabendo quem está com a verdade. Este é o problema da estatística como um fim em si mesma e não como meio, dentre muitos outros, para o planejamento e a ação de uma organização, seja pública, seja privada.
O problema é que a confusão desmerece o leitor, em especial os que ingenuamente apostam nas UPPs como panacéia para todos os males da criminalidade, e não apenas onde estão instaladas, mas também nos seus entornos. Ora, isto é pura falácia!... As UPPs são úteis, sim, mas não há como ocultar suas limitações, principalmente porque o modelo contraria o princípio fundamental do policiamento preventivo, que se caracteriza pela máxima frequência do patrulhamento ostensivo, o que implica fragmentar maximamente os efetivos da PMERJ de modo a garantir aquela máxima frequência a inibir oportunidades de os delinquentes, que existem, praticarem delitos. Se esta presença ostensiva máxima funciona na prática é outra discussão. Mas que a ausência do patrulhamento por falta de efetivos estimula a prática de crimes, não se há de pôr dúvida. E o sucesso das UPPs como policiamento preventivo comprova em parte que a concentração de efetivos realmente inibe a oportunidade do crime, sendo certo, todavia, que não inibe a vontade dos criminosos em delinquir. Inibição de vontade, segundo a doutrina, é tarefa da polícia judiciária, ou seja, da PCERJ, que não está ombreada com a PMERJ no projeto das UPPs. Dentro desta lógica, é fácil entender o porquê de a criminalidade (homicídios) aumentar onde o policiamento que já era insuficiente ainda mais se tornou rarefeito em vista da necessidade de deslocamento de PMs do interior para a capital, o que não mais se pode negar de tão notório o fato. Reduz-se tudo, portanto, à velha teoria do “cobertor curto”, que cobre os pés e descobre a cabeça, tal como a estatística que aquece os pés e esfria a cabeça para que na “média” fique tudo como está, e que cada leitor escolha se está tudo bem ou tudo está mal, ou prefira a média e com ela se satisfaça...

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