Depois de comentar
durante a semana a matéria publicada em página inteira do Jornal EXTRA, dando
ênfase no aumento dos índices de criminalidade em áreas com UPP, com uma tabela
destacando uma crescente letalidade (homicídios), deparo hoje no Jornal O GLOBO
com uma espécie de “desmentido” a partir de dados estatísticos do ISP
informando que o índice de homicídios aumentou no Estado, mas foi menor no
Município do Rio de Janeiro. Ora, as UPPs estão instaladas na capital, donde se
conclui que uma das duas estatísticas está equivocada, para não concluirmos que
uma delas foi manipulada, mesmo que minimamente, restando ao leitor do EXTRA
uma verdade, e outra verdade ao leitor de O GLOBO, o que nos permite inferir
que alguém está a abraçar mentiras... Pode ser até que boa parte dos leitores
não seja a mesma, assim como é certo que as diferenças entre uma informação e
outra não são significativas, o que põe o predomínio do entendimento no título
das matérias. No caso do Jornal EXTRA, de 02 de setembro, o título não deixa
dúvidas: “CRIME CRESCE EM
CINCO DAS SETE ÁREAS COM UPP” , vindo em destaque em subtítulo do
mapa desenhado: “A ESCALADA DO CRIME EM ÁREAS PACIFICADAS”. Vejam o desenho:
Agora publica
o Jornal O GLOBO, de 06 de setembro, matéria inversa com o seguinte título: “NÚMERO
DE HOMICÍDIOS CAI NO MUNICÍPIO”, claro que se referindo à capital. Vejam o
gráfico apresentado como “NÚMEROS DO ISP”, comparando homicídios no estado em cotejo
com homicídios na capital, transferindo a desgraça para o interior e acenando
alvíssaras para onde as UPPs estão instaladas:
Enfim, entra
em cena a velha máxima estatística da pedra de gelo na cabeça e a fogueira nos
pés indicando que na média (abdome) está tudo bem... Mas não quero polemizar
com o ISP nem penso que seja tão importante a espécie de “desmentido” estampada
no O GLOBO, mas importa clarear que o vocábulo “ESCALADA” utilizado pelo Jornal
EXTRA com o foco nas UPPs tem o significado único de aumento progressivo e não
pode haver outra conclusão. Portanto, é no mínimo estranho que o assunto volte
à baila em outro subsistema do mesmo sistema jornalístico (GLOBO e EXTRA
pertencem à INFOGLOBO), porém destronando a informação anterior, não mais se
sabendo quem está com a verdade. Este é o problema da estatística como um fim
em si mesma e não como meio, dentre muitos outros, para o planejamento e a ação
de uma organização, seja pública, seja privada.
O problema é
que a confusão desmerece o leitor, em especial os que ingenuamente apostam nas
UPPs como panacéia para todos os males da criminalidade, e não apenas onde
estão instaladas, mas também nos seus entornos. Ora, isto é pura falácia!... As
UPPs são úteis, sim, mas não há como ocultar suas limitações, principalmente
porque o modelo contraria o princípio fundamental do policiamento preventivo,
que se caracteriza pela máxima frequência do patrulhamento ostensivo, o que
implica fragmentar maximamente os efetivos da PMERJ de modo a garantir aquela
máxima frequência a inibir oportunidades de os delinquentes, que existem,
praticarem delitos. Se esta presença ostensiva máxima funciona na prática é
outra discussão. Mas que a ausência do patrulhamento por falta de efetivos
estimula a prática de crimes, não se há de pôr dúvida. E o sucesso das UPPs
como policiamento preventivo comprova em parte que a concentração de efetivos
realmente inibe a oportunidade do crime, sendo certo, todavia, que não inibe a
vontade dos criminosos em delinquir. Inibição de vontade, segundo a doutrina, é
tarefa da polícia judiciária, ou seja, da PCERJ, que não está ombreada com a
PMERJ no projeto das UPPs. Dentro desta lógica, é fácil entender o porquê de a
criminalidade (homicídios) aumentar onde o policiamento que já era insuficiente
ainda mais se tornou rarefeito em vista da necessidade de deslocamento de PMs
do interior para a capital, o que não mais se pode negar de tão notório o fato.
Reduz-se tudo, portanto, à velha teoria do “cobertor curto”, que cobre os pés e
descobre a cabeça, tal como a estatística que aquece os pés e esfria a cabeça para
que na “média” fique tudo como está, e que cada leitor escolha se está tudo bem
ou tudo está mal, ou prefira a média e com ela se satisfaça...
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