quinta-feira, 11 de julho de 2013

As manifestações: “sonho de uma noite de verão”


 
As manifestações realizadas durante a Copa das Confederações funcionaram como bolhas de sabão, não que fossem totalmente inúteis, seu propósito imediato foi alcançado: a redução da tarifa de transportes coletivos.  Demais disso, a Câmara dos Deputados deu um “show de eficiência” ao sepultar a PEC 37, esta que, segundo renomados especialistas, era de conteúdo inócuo. Sem muito adentrar os méritos e deméritos do movimento, é válido contabilizar os atos de vandalismo, com as lideranças das manifestações insistindo serem “isolados”. Ora, nada é isolado no mundo!...
 
A verdade é que houve o amadorismo de ambas as partes conflitantes. De um lado, os manifestantes sem discurso; do outro, uma polícia esquecida dos métodos de contenção de distúrbios e carente de meios materiais. Formaram-se, assim, algaravias aqui, ali e acolá, com a tropa e manifestantes saindo no tapa em cenas tão grotescas quanto burlescas.
Deixadas de lado as extravagâncias, o que restou foi o cinismo governamental no seu maior nível, com a impoluta presidente da República, terrorista assumida, avocando a “ordem” do Pavilhão Nacional e deixando claro seu incômodo com algo tão corriqueiro na vida dela quando estava do outro lado (da desordem interna), segundo ela “defendendo a democracia”. Que democracia então ela defendeu? A de Cuba, que alardeava como o melhor sistema político de vida, mas que não passa de tirania comunista?... Bolas, ela ficou restrita ao anúncio de medidas inócuas, enquanto a bola rolava distraindo o povo!... Sim, que houve de concreto em sua decisão? Ora, nada além do anúncio de um inconstitucional Plebiscito visando a uma nebulosa reforma política, como, aliás, é nebuloso todo o contexto da vida nacional. Não sem insistir que trará médicos cubanos para suprir carências nacionais na saúde, como se fosse este o maior de todos os óbices do setor...
Sim, vivenciamos o blefe jorrado em caradura, ao lado de eloquentes silêncios, como o do governante do RJ em vista de sua longa gestão marcada por farras turísticas e mordomias impunes. Quanto ao blefe, basta lembrar a entrevista do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no Jornal O GLOBO, singelamente anunciando que as desonerações nas tarifas de transportes vão gerar alta de impostos. Ou seja, tira-se de um lado, mas se complementa do outro, em mais uma afronta à classe média, por sinal a mesma que esteve nas ruas (não havia povoléu nas manifestações, mas estudantes bem-vestidos e bem alimentados).
Tudo muito estranho, até mesmo a conotação ideológica que, resumindo, foi nenhuma, os partidos políticos foram expurgados das manifestações. Não sei se isto é bom ou ruim, mas sei, salvo melhor avaliação, que se trata de rejeição ao modelo político pátrio, cujo Estado é exageradamente interventivo e a sociedade é por demais conformada e clientelista. Esta combinação de distorções sociais, que remontam ao Brasil Colônia, não pode gerar nenhuma sociedade democrática, mas apenas sua deformação histórica que perdura ainda hoje.
Há, na verdade, uma conturbação na tessitura social que ainda não se expôs totalmente à luz. Vemos, sim, muitos fragmentos de anseios e frustrações sendo cobrados pontualmente, como foi o caso da tarifa de transporte coletivo, não se considerando em igual animação as demais e exorbitantes tarifas de água, luz, telefone, IPVA, IR, IPTU e outras mais. Por isso eu digo que até agora tudo não passou de “sonho de uma noite de verão”. Mas pode ser que esse tudo renasça das cinzas e se torne perigosa realidade...

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