terça-feira, 26 de março de 2013


Fonte: O GLOBO de 26 mar 2013

Finalmente brota a boa notícia dando conta de que a PCERJ acordou para um problema a respeito do qual reclamo faz tempo. Não sei se a estrutura anunciada será suficiente, pois a ação da especializada é de natureza global e abrange todo o RJ. Não se trata de estrutura desenhada em vista de objetivos específicos relacionados somente com as UPPs. Mas não posso afirmar, ainda, que haja uma dissonância entre a forma e a função, talvez seja melhor a solução como está posta na mesa, o tempo dirá. Todavia, não vou deixar passar em branco a alfinetada do delegado sobre a corrupção envolvendo alguns PMs lotados em UPPs, lembrança talvez inoportuna tendo em vista que a PMERJ não compactua com desvios de conduta e tem demonstrado indispensável rigor contra a promiscuidade entre PMs e traficantes que ainda atuam em favelas com UPPs; aliás, até com maior desenvoltura, embora discretamente, e sem ostentação de armamento pesado. Afinal, esses bandidos estão também protegidos pelas UPPs dos ataques de bandos rivais e de incursões repressivas do policiamento normal da PMERJ geralmente violentas e a custo do sangue de inocentes. E, mais que protegidos, os traficantes não vêm sofrendo nenhuma repressão por parte da polícia judiciária desde que a primeira UPP foi instalada. Portanto, a presença velada de traficantes nas favelas com UPPs decerto pode materializar, mesmo que em grau mínimo, a velha alegoria: “A ocasião faz o ladrão.” Cá entre nós, na verdade ele nasce feito, pois as instituições policiais não geram do seu ventre nenhum filho, eles vêm do seio da sociedade, e lá antes adquirem vícios e virtudes, e os enfiam nas instituições.

Como dizia Manuel López-Rey, o crime é inerente ao ser humano, tal como o amor e o ódio. Enfim, o crime existe desde que o mundo é mundo, e só não corre livre, leve e solto porque a sociedade inventou o estado e adotou um sistema legal (ou ilegal) de freios, com ou sem contrapesos, dependendo do regime por ela adotado ou a ela imposto em tirania. Quanto mais democracia, mais contrapesos; quanto menos democracia, menos contrapesos. No caso do Brasil, que não possui regime definido, ainda está em transformação, num continnum que se finge socialista e democrata sem ser uma coisa nem outra, o crime vai de vento em popa: se diminui aqui, aumenta ali, ou seja, move-se tal como a Terra se movia sob a ótica de Galileu Galilei, contra a vontade tirana da Igreja que a determinava estática. O cientista quase foi torrado na estaca da Inquisição. Para se livrar do fogaréu, porém, ele negou que a Terra se movesse perante os inquisidores; mas na saída afirmou: eppur si muove (“e, no entanto, se move”)... É como aqui nas plagas tupiniquins acontece: nega-se a tendência descarada do sistema político ao socialismo stalinista ou castrista, e se defende acirradamente uma inexistente democracia. Aliás, essa história de negar o que existe nos remete ao brizolismo, que negava a existência do Comando Vermelho...

Mas, desânimo à parte, dúvidas às favas, a chegada da PCERJ no ambiente policiado preventivamente por UPPs é alvissareira. Alfinetadas de lado, torço para que o titular da Delegacia de Combate a Drogas (Dcod), Dr. Márcio Mendonça, logre êxito em sua empreitada funcional, assim como almejo sorte à sua equipe. Também torço para que o Secretário de Segurança e a Chefe de Polícia Civil não economizem meios materiais e humanos em apoio à especializada. Também rogo que a PMERJ proporcione o máximo de informações sobre os ambientes pacificados, sem essa de “beicinhos despeitados”, de modo que o relacionamento entre as coirmãs seja sinérgico e voltado para o objetivo maior de prestar mais segurança às sofridas populações faveladas, assim como solidificá-la além dos tempos e das festas desportivas.

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