Neste conturbado mundo, do fato tem-se a versão e da realidade, a ilusão. Quando miramos um objeto (“coisa”), sabemos dele por suas utilidades listadas; dos defeitos, saberemos no dia a dia, até que nos convençamos de que lidamos com coisa útil ou inútil. Enfim, a observação de uma coisa nos dá uma ideia dela; o seu uso nos dará a vivência dela. Então decidiremos se a descartamos ao lixo ou guardamo-la no armário para uso eventual, ou então a deixamos em exposição como enfeite. O formato da cafeteira, por exemplo, pode indicar sua utilidade nos dois últimos sentidos: providenciar o café e enfeitar a cozinha. Mesmo assim, nos dois casos sua utilidade é relativa: para quem não bebe café, a cafeteira lhe é algo indiferente e quiçá desagradável; e se esse alguém não tem o hábito de abstrair de coisas, ou enxergar mal, ambos os resultados pretendidos pelos que criaram a cafeteira serão inválidos.
A propaganda trabalha muito com a versão da coisa. Segue assim a tendência geral das pessoas, sabendo-as aptas a absorver na mente a versão de alguma coisa e não a kantiana noção subjetiva da “coisa em si”, que não se representa a partir de um nada, mas antes põe o sujeito como o centro do pensamento em detrimento do objeto. Mesmo assim, tudo permanece relativo, pois muitos objetos urbanos, também como exemplo, tendem a não ser reconhecidos por índios (sujeitos) que jamais os viram antes. Verdade é que somente depois de vista e testada sua utilidade, se for possível, é que o índio (sujeito) supostamente compreenderá o significado da “coisa em si”. A bem da verdade, é difícil senão impossível saber com exatidão que efeito causará o objeto numa pessoa, por mais que sejam conhecidas suas causas antecedentes. E mesmo que a pessoa externe sua opinião sobre a coisa, mesmo assim não saberemos se não se trata apenas de versão conveniente ao momento: eis a “persona” no sentido latino da “máscara”, tal como explorado em filme por Ingmar Bergmam. Mas “persona” também pode ser a pessoa como ser racional...
Racional?... Bem, quando se trata de pessoas observando pessoas o tema vira de ponta-cabeça. Pois as divergências interessam mais que as convergências neste mundo de disputas humanas que incluem até guerras de destruição em massa. Portanto, afirmar que seres humanos são mais racionais que emocionais é puro sofisma. No fim de contas, os acontecimentos por eles produzidos são tão incrivelmente cruéis que mais parecem surreais. Poderíamos aqui exemplificar com a Síria e suas matanças em nome de um poder que nos é desconhecido devido à distância. Em muitos países, o assunto nem é difundido por ordem governamental ou por outras razões que não sabemos. Daí, para muitas pessoas parece que nada ocorre na Síria, se é que sabem que a Síria existe: elas não têm vivência e nem ideia disso. E se a notícia chega até nós, não sabemos se traduz alguma realidade palpável. Enfim, o mundo é assim, irreal por excelência, de tal modo que não é incomum entre os físicos quânticos a afirmação de que não existe realidade e que tudo é “holograma”.
Com efeito, lidamos com versões disparadas em eloquência ou dispostas em fina propaganda pondo “famosos” a indicarem ser boa determinada coisa, que, no fundo, não nos serve para nada e ainda nos causa transtornos. Ainda assim nós a compramos, porque alguma pessoa que influencia nosso emocional nos convence de que a próxima compra comprovará que a coisa não cumpriu sua finalidade listada devido a problemas casuais. E ainda somos capazes de comprar pela terceira vez só para agradar a alguém em quem depositamos confiança ou, por último, temos algum interesse em influenciar esse alguém fingindo que somos por ele influenciados. Não é simples extrair dessa algaravia, ou manancial de hipocrisia, um ensinamento real e útil. Para muitos que pensam curtamente ou nem querem pensar é mais interessante acompanhar o modismo que o mestre Nelson Rodrigues tão genialmente parafraseou em crítica: “Toda unanimidade é burra”.
Ah, neste mundo massificado pela propaganda cercada de tecnologia capaz de alcançar grandes sertões não se há de negar que vivenciamos o pensamento unificado, como no romance de George Orwel (1984)... Somos primeiramente coletividades e secundariamente indivíduos com ideias e vivências próprias. Somos emocionais, tais como torcidas clubistas... Eis aí o caldo de cultura da campanha política em que o silêncio não merece crédito, por mais retumbante que o seja. Pois interessa o barulho da versão e não a silenciosa verdade traduzida por algum comportamento individualizado. E não há de ser diferente. Afinal, o voto é individual, mas é a massificação dele que garante a vitória. Sim, o voto (OBRIGATÓRIO) não tem qualidade, é mera quantidade segundo o princípio do “rebanho” nietzscheano. Por isso é que assistimos em campanhas políticas uma aluvião de discursos contendo promessas tão irreais que nos levam ao delírio. E nós, “pessoas”, como não temos nada além de “coisas” que nos são apresentadas por gentes sempre “bem-intencionadas”, acabamos sucumbindo à irrealidade tornada real por um golpe de borduna no nosso quengo de bugre com pinta de intelecto...
“Eis a questão”: “ser ou não ser”?... Esta é a fonte de todas as indecisões, pois o voto, grosso modo, seria “dinheiro” a comprar “pessoas” em vez de “coisas”. E o método de convencimento é o mesmo, pois, nos dois casos (“coisas” ou “pessoas”), empenha-se a propaganda em vender ilusões. E como se igualam na venda de ilusões, vencerá o melhor vendedor do inexistente que se materializa ante nossos atônitos olhos e conturbadas mentes. Mas, se nos ativermos apenas às pessoas e agirmos com racionalidade, não atenderemos aos apelos de campanha que transformam o candidato na melhor “coisa” a ser “comprada” como se “voto” fosse “cédula” no sentido de dinheiro. Devemos, sim, observar a trajetória do candidato como pessoa, a sua verdadeira história, num processo de escolha em que o racional sobrepuje o emocional. Deve ser assim porque, depois de “comprado” o candidato (como “coisa”), não há como devolvê-lo às trevas do ostracismo tão cedo. Melhor então é apontá-lo “pessoalmente” pelo voto na “pessoa”, único modo de a subjetividade kantiana sobrepujar o comportamento de rebanho nietzscheano...
A propaganda trabalha muito com a versão da coisa. Segue assim a tendência geral das pessoas, sabendo-as aptas a absorver na mente a versão de alguma coisa e não a kantiana noção subjetiva da “coisa em si”, que não se representa a partir de um nada, mas antes põe o sujeito como o centro do pensamento em detrimento do objeto. Mesmo assim, tudo permanece relativo, pois muitos objetos urbanos, também como exemplo, tendem a não ser reconhecidos por índios (sujeitos) que jamais os viram antes. Verdade é que somente depois de vista e testada sua utilidade, se for possível, é que o índio (sujeito) supostamente compreenderá o significado da “coisa em si”. A bem da verdade, é difícil senão impossível saber com exatidão que efeito causará o objeto numa pessoa, por mais que sejam conhecidas suas causas antecedentes. E mesmo que a pessoa externe sua opinião sobre a coisa, mesmo assim não saberemos se não se trata apenas de versão conveniente ao momento: eis a “persona” no sentido latino da “máscara”, tal como explorado em filme por Ingmar Bergmam. Mas “persona” também pode ser a pessoa como ser racional...
Racional?... Bem, quando se trata de pessoas observando pessoas o tema vira de ponta-cabeça. Pois as divergências interessam mais que as convergências neste mundo de disputas humanas que incluem até guerras de destruição em massa. Portanto, afirmar que seres humanos são mais racionais que emocionais é puro sofisma. No fim de contas, os acontecimentos por eles produzidos são tão incrivelmente cruéis que mais parecem surreais. Poderíamos aqui exemplificar com a Síria e suas matanças em nome de um poder que nos é desconhecido devido à distância. Em muitos países, o assunto nem é difundido por ordem governamental ou por outras razões que não sabemos. Daí, para muitas pessoas parece que nada ocorre na Síria, se é que sabem que a Síria existe: elas não têm vivência e nem ideia disso. E se a notícia chega até nós, não sabemos se traduz alguma realidade palpável. Enfim, o mundo é assim, irreal por excelência, de tal modo que não é incomum entre os físicos quânticos a afirmação de que não existe realidade e que tudo é “holograma”.
Com efeito, lidamos com versões disparadas em eloquência ou dispostas em fina propaganda pondo “famosos” a indicarem ser boa determinada coisa, que, no fundo, não nos serve para nada e ainda nos causa transtornos. Ainda assim nós a compramos, porque alguma pessoa que influencia nosso emocional nos convence de que a próxima compra comprovará que a coisa não cumpriu sua finalidade listada devido a problemas casuais. E ainda somos capazes de comprar pela terceira vez só para agradar a alguém em quem depositamos confiança ou, por último, temos algum interesse em influenciar esse alguém fingindo que somos por ele influenciados. Não é simples extrair dessa algaravia, ou manancial de hipocrisia, um ensinamento real e útil. Para muitos que pensam curtamente ou nem querem pensar é mais interessante acompanhar o modismo que o mestre Nelson Rodrigues tão genialmente parafraseou em crítica: “Toda unanimidade é burra”.
Ah, neste mundo massificado pela propaganda cercada de tecnologia capaz de alcançar grandes sertões não se há de negar que vivenciamos o pensamento unificado, como no romance de George Orwel (1984)... Somos primeiramente coletividades e secundariamente indivíduos com ideias e vivências próprias. Somos emocionais, tais como torcidas clubistas... Eis aí o caldo de cultura da campanha política em que o silêncio não merece crédito, por mais retumbante que o seja. Pois interessa o barulho da versão e não a silenciosa verdade traduzida por algum comportamento individualizado. E não há de ser diferente. Afinal, o voto é individual, mas é a massificação dele que garante a vitória. Sim, o voto (OBRIGATÓRIO) não tem qualidade, é mera quantidade segundo o princípio do “rebanho” nietzscheano. Por isso é que assistimos em campanhas políticas uma aluvião de discursos contendo promessas tão irreais que nos levam ao delírio. E nós, “pessoas”, como não temos nada além de “coisas” que nos são apresentadas por gentes sempre “bem-intencionadas”, acabamos sucumbindo à irrealidade tornada real por um golpe de borduna no nosso quengo de bugre com pinta de intelecto...
“Eis a questão”: “ser ou não ser”?... Esta é a fonte de todas as indecisões, pois o voto, grosso modo, seria “dinheiro” a comprar “pessoas” em vez de “coisas”. E o método de convencimento é o mesmo, pois, nos dois casos (“coisas” ou “pessoas”), empenha-se a propaganda em vender ilusões. E como se igualam na venda de ilusões, vencerá o melhor vendedor do inexistente que se materializa ante nossos atônitos olhos e conturbadas mentes. Mas, se nos ativermos apenas às pessoas e agirmos com racionalidade, não atenderemos aos apelos de campanha que transformam o candidato na melhor “coisa” a ser “comprada” como se “voto” fosse “cédula” no sentido de dinheiro. Devemos, sim, observar a trajetória do candidato como pessoa, a sua verdadeira história, num processo de escolha em que o racional sobrepuje o emocional. Deve ser assim porque, depois de “comprado” o candidato (como “coisa”), não há como devolvê-lo às trevas do ostracismo tão cedo. Melhor então é apontá-lo “pessoalmente” pelo voto na “pessoa”, único modo de a subjetividade kantiana sobrepujar o comportamento de rebanho nietzscheano...
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