O cartaz é bom exemplo da desatenção do niteroiense com a segurança pública. É nada mais que efeito de manipulação midiática, tudo agora é UPP! De modo que essas manifestações emocionais, como Niterói é cidade praiana, “morrerão na praia”... Porque, mesmo sendo justa a reclamação, a insegurança pública de Niterói não difere da de São Gonçalo, Maricá, Itaboraí e algures. Na realidade, prende-se ao aberrante esvaziamento do antigo RJ desde a fusão (1975). Portanto, reduzir tão tamanhão problema à instalação de UPP em Niterói sugere nada mais que inútil chiadeira. Até põe em dúvida o fato de Niterói ser uma das cidades mais escolarizadas do país. Que o seja, mas não se comporta como tal ao questionar a segurança pública com o reducionismo que se vê nessas manifestações de poucas gentes. Ora, elas são inócuas e receberão respostas não mais que imediatistas, até que a onda de protesto se desfaça na areia de nossas poluídas praias ofertadas ao banho em placas otimistas, desde que os banhistas se desviem do cocô...
A verdade é que enquanto Niterói reclamar do que desconhece e seus políticos jactarem-se de muito terem feito pela cidade, sem, aliás, comentarem o quanto gastaram de polpudas verbas públicas, pondo seus atos quase que como favor ou milagre, o niteroiense sofrerá a mais e mais. E não apenas eles, mas os gonçalenses, os maricaenses, os itaboraienses, enfim, os fluminenses de um modo geral. Cá entre nós, estamos todos conformados durante décadas com o descaso de governantes e gestores da maquinaria estatal que só pensam na Capital, e acomodados com a inércia dos políticos fluminenses, que, quando muito, cuidam de seus currais interioranos sem preocupação com o todo. Só não vê quem não quer, somando ainda ao absurdo a caradura dos políticos cariocas que atravessam a baía em campanha eleitoral e depois tornam ao seu nicho em deslembrança formidável.
Tudo, afinal, é interesse local, que existe lá e cá, e os interessados de lá e de cá são imutáveis, e assim o serão até o fim dos tempos, com o lado mais fraco a puxar sem força o cabo de guerra da fusão. Pior ainda, o lado fraco vai ao chão devido à corda ardilosamente solta das mãos daqueles que fingem puxá-la do lado de lá esperando o esforço ingênuo do lado de cá fazer a corda atingir seu ponto de máxima tensão. E deste modo todos caem de quatro grotescamente, e sofrem o tombo previsível, porém simploriamente ignorado. Tem sido assim, e o atual clamor por UPP bem demonstra como os fluminenses são ignaros em segurança pública, embora famosos pela competência em outros campos do conhecimento científico: eis como o sistema estatal carioca seguirá na sua meta de policiar o lado de lá fingindo dar atenção ao lado de cá... Sim, promete saídas mirabolantes enquanto anuncia a formação de milhares de PMs com vistas à implantação de UPPs do lado de lá, pois o capitalismo está voltado para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e é só o que interessa aos grandes mentores e executores da manipulação midiática.
Que sofra então o lado de cá, porque o povo tem a polícia e o político que merece. Em sendo ambos, policiais e políticos, ineficientes ou insuficientes, azar de quem mora do lado de cá, havendo, todavia, a possibilidade de o povo daqui se mudar para o outro lado, que, por sinal, continua com milhares de favelas dominadas pelo tráfico e sofre também os dissabores diários de uma violência criminal que apenas está fora de foco: não é interesse do capitalismo selvagem mostrar a floresta destruída pelo descaso geral do Brasil com a segurança pública. Mostra então algumas árvores frondosas em propaganda que no meio militar é chamada de “generalização brilhante”: se milhões de pessoas veem a árvore (UPP), eu também devo dizer que a vejo, mesmo não a vendo. Assim, fico “na moda”, sem qualquer preocupação com a visão da floresta destruída (o gritante e talvez irrecuperável esvaziamento da segurança pública no antigo RJ desde a fusão de 1975).
Um comentário:
Brilhante análise. Não há como tapar o Sol com peneira. Sem uma adequada relação entre população/PMs e um adequado número de quartéis com estratégica distribuição geográfica será ineficiente a pirotecnia dos governantes para dar segurança à população, similarmente ao que se observa na saúde pública onde faltam profissionais e hospitais com estruturas adequadas.
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