segunda-feira, 14 de novembro de 2011

“A PM TEM QUE ACABAR!”



A frase é do ator Wagner Moura encenando o papel dum tenente-coronel da PMERJ no filme Tropa de Elite II. Proferida do alto da Tribuna da ALERJ para uma platéia de deputados estaduais representados por figurantes e alguns atores, a cena seria impossível na realidade. Daquele lugar, e nas circunstâncias do filme, a encenação jamais ocorreria. Por outro lado, desde que concretizada, há nela uma objetiva intenção de torná-la verossímil para derrocar ainda mais a imagem da PMERJ; aliás, aflora igual motivação no primeiro filme, cujo mentor, sem dúvida, foi o antropólogo Luiz Eduardo Soares, que renasceu do seu frustrado intento de mudar a polícia do Rio inserindo-se na SSP/RJ, em alto cargo comissionado, durante o Governo Garotinho. Suas peripécias na SSP/RJ foram por ele reproduzidas num livro intitulado “Meu Casaco de General”, oportunidade em que destila rancor contra a instituição policial que o expurgara por não aceitar seus métodos de mudança, não sei se bons ou ruins, não lhe deram poder nem tempo para nada.
Li o supracitado livro quando lançado e estou certo de que não se tratou de dissertação acadêmica. Pareceu-me lamento por sua infrutífera experiência política no âmbito da segurança pública. Por que ele se enfiou na realidade policial como gestor, não sei dizer. Daí talvez o acurado texto do referido livro não passe de desabafo, mera chiadeira de criança vitimada por bullying na escola sem conseguir provar nada depois... Mas, na esteira de incomprovadas ameaças de morte e do exílio voluntário, o autor retornou em apoteose. Já então despreocupado com os tais “atentados”, uniu-se a dois ex-oficiais do BOPE que da PMERJ se afastaram por motivos que desconheço. Também não me ocorre saber que mecanismos administrativos enfrentaram ou fizeram uso para abandonar a profissão, de modo que lhes respeito as razões mesmo as desconhecendo. Igualmente não vi nas informações que eles prestaram ao antropólogo nada que destoe da vida real da PMERJ. Na verdade, tudo até se superpõe tal e qual decalque da vida corporativa, ressalvados, porém, os desvios para mais ou para menos, que fazem parte de qualquer inferência bem ou mal intencionada. Mas são meros detalhes, o conjunto da obra (Tropa de Elite I e II) explodiu em sucesso, quiçá em virtude do enredo bem bolado, do magnífico desempenho dos atores e atrizes, do cenário real e dos mistérios desvelados... Enfim, uma gama de curiosidade que os livros e os filmes mui bem atenderam e fizeram jorrar público pagante nas livrarias e nos cinemas. Negar mérito a tal fenômeno é maluquice ou recalque. Não é meu caso...
Com efeito, o impacto da obra “Tropa de Elite” é inegável. Mesmo assim, e este é o ponto, minha impressão é a de que a obra não afetou a rotina da PMERJ. Tudo lá permanece estático, indiferente, como se insignificantes formigas tentassem morder sem êxito um distraído paquiderme... Sim, é impressionante que a PMERJ não se tenha reunido para discutir as estrondosas críticas refletidas na mente de milhões de brasileiros e estrangeiros. Ignorou-as e continua a ignorá-las, permanecendo fiel ao seu lema, que se resume a cumprir ordens superiores sem jamais as questionar. Sim, a PMERJ parece serviçal de políticos, e não uma instituição de preservação da ordem pública, como regra, e de restauração desta ordem pública, como exceção. Nos dois casos, porém, obedecendo aos ditames constitucionais, legais e doutrinários, e não se submetendo a vontades avessas à sua equânime finalidade de prestadora de serviços à população, claro que limitada por seus meios materiais e humanos. Quanto aos meios materiais e humanos, aliás, se postos ante os problemas que a PMERJ enfrenta no exercício cotidiano da manutenção da ordem pública, está evidente o seu fracasso organizacional, pois ela atua exaurindo homens e materiais para atender às demandas gananciosas da política, esta que, por sorte, consegue no momento encabrestar as Forças Armadas e outras instituições federais em desvio de função, tudo legitimado, em tese, até 2016 (Copa do Mundo e Olimpíadas). Passados esses anos dourados, seja o que Deus quiser!...
Mas não reclamo, apenas constato o fenômeno para afirmar que o ordenamento jurídico pátrio precisa mudar para não ser abalroado tão desmedidamente. Pois esse jogo político, se hoje parece bom, poderá ser frustrante no futuro. Porque a PMERJ é um isolado jogador diante da roleta dum cassino a vencer até sumir atrás das fichas; mas, de súbito, e num só lance de entusiasmo, e crendo no seu sucesso de semideus, ele empurra toda a montanha de fichas num número de sorte. E perde, e se mata... Sente o mesmo vazio dum piloto de avião que embica ao chão logo após os paraquedista saltarem e abrirem seus paraquedas... E o avião se espatifa ante o aplauso dos paraquedistas que acabara de transportar em segurança. E desaparece o aviador tal como o jogador... Enquanto isso, um prudente poupador de fichas e trunfos, que de longe torce contra o “jogador-aviador”, ao ver o avião projetar-se contra o implacável chão, brada em veemência: “Ele tem que acabar!” E são acesas as luzes do salão, e irrompem no cinema os entusiásticos aplausos dos que passam a almejar para a PMERJ um fim trágico: “A PM tem que acabar!”





FIM

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