sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Autocrítica para o fim de semana




Há quem diga que costumo dar meu pescoço à forca. Não creio, tento fazer alarde dos meus pensamentos, mas não ofendo pessoas, apenas emito opinião sobre sistemas situacionais destinados a servir ao contribuinte; são, portanto, merecedores de críticas ou elogios por parte de qualquer cidadão. Também não me enfio em assuntos pessoais, mas não posso impedir que alguns detentores de cargos públicos os pessoalizem em arrogância a ponto se ofenderem diante de críticas que faço aos sistemas que eventualmente eles dirigem.
Num sistema hierárquico-piramidal, ainda mais o militarizado, − situação que põe o poder interno num limite próximo ao do semideus, embora seus detentores não passem de simples mortais se comparados com os autênticos semideuses (dos andares mais altos), − as reações chegam a ser tragicômicas. Pois o poderoso de hoje, que retalia, tem tudo para ruminar a desgraça da queda no dia seguinte por fraqueza e ausência de feitos e feitios que o façam merecedor de honras posteriores. Pior é que ele sabe disso, e nem assim a maldita mosca azul que fez morada na Evaristo da Veiga deixa de picá-lo à exaustão, de modo que aquele imponente prédio se torna castelo aos seus olhos de príncipe, este que, embora sabendo que tem data marcada para deixar o castelo, não realiza obras capazes de lhe permitir a saída pela porta da frente. Até agora tem sido assim...
O poder é bom, sim, mas as consequências do seu mau uso lhe são proporcionais. Esta lógica, porém, é constantemente ignorada em virtude da obediência cega ao poder absoluto, em troca de um poder tão relativo e efêmero que se pode encerrar num átimo. Mesmo assim, a disputa pelo poder relativo é maior que a rendição geral aos valores institucionais que os eternos concorrentes juraram defender perante o Pavilhão Nacional, curiosamente afirmando disposição de doar a própria vida na defesa da pátria e da sociedade. Ah, não defendem nem a instituição que os sustenta!... Que vergonha! Como pode uma corporação bicentenária sucumbir ao primeiro arroto de delegados de polícia? Onde está a união dos militares estaduais para formar uma só trincheira contra os ataques frontais do declarado inimigo? Onde está a garra dos treinamentos? Onde se enfiou a nossa honra?... Por onde anda a certeza do que valemos pelo que fazemos? Por que tanto medo? Para quê tanta resignação? Ou será que não valemos mais nada?...
Sei que meu grito é fraco, não passa de manuseio da palavra, mas grito sem temor; tenho moral para fazê-lo, paguei alto preço no passado e não desisto. Então, quando leio no jornal que a PMERJ está realizando uma “faxina”, pondo na conta do novo comando a titularidade do papel de “faxineiro” (esta é a conotação), devo concluir que aqueles que perderam o comando, a chefia ou a direção, demais dos que não ocuparam cargo algum, são todos “lixo”?... O que me espanta é o silêncio dos “derramados na lixeira”, que seguem a caminho do monturo como imundícies a serem enterradas em solo imprestável, talvez nem se tornando estrume, este que fará nascer o lírio. É... Não entendo que PMERJ é essa... Não consigo vislumbrar nada além do demérito social, nada além da desmoralizante queda livre para o abismo. Ah, exemplo igual não há no Brasil!...
Quando será que os oficiais de hoje vão acordar para o compromisso que têm na preservação da honra da corporação que herdaram de seus antepassados? Quando será que essa oficialidade dará o peito à luz sem medo das trevas? Ou será que a reação depende de acordar os mortos, exumá-los, para eles defenderem novamente a corporação que nos sustenta em absurda covardia?... Ah, a dissensão interna é tão tamanhona que mais parece briga de escorpiões numa caixinha de onde não podem escapulir; ou contenda entre siris, na lata tampada, a ressoar do lado de fora a barulhada infernal de uma disputa pelo poder relativo que, ao fim e ao cabo, dele nada restará senão escombros.
Estarei dando meu pescoço à forca?... Não sei! Mas sei, sim, que o comportamento dos novos está a mais e mais deslegitimando a PMERJ no seio da sociedade. Nem posso reclamar do papel crítico da mídia, ela não tem por que confiar na corporação que lhe presenteia com notícias pontuais tão degradantes que nos inibem numa globalidade que não devemos aceitar, isto é ruim para a sociedade. Afinal, temos o dever de defendê-la com o risco da própria vida e devemos agir e reagir unidos. Mas acontece que, sem valores internos a nos impulsionar, − e eles hão de ser reais e não os fabricados em entrevistas personalísticas deprimentes, − nós não lograremos êxito na missão, e aí devemos, mesmo, ceder nosso espaço para quem se propõe a fazer melhor, mesmo que esse alguém cuide de ilusões sem compromissos com o interesse público. Mas nosso problema não deve ser o de buscar defeitos alheios. Devemos, sim, redescobrir nossas qualidades, se é que ainda as possuímos...

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