sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Sugestão de tema para discussão na AME/RJ


A sucessão de tragédias no RJ é tão veloz que uma se sobrepõe à outra e paira como única nos espaços midiáticos, ficando para trás as cobranças de responsabilidade. Hoje, por exemplo, talvez nem os repórteres que cobriram a catástrofe da Região Serrana saibam como andam as coisas por lá. Como estão os flagelados? Quantos são eles? Como estão as obras físicas e quanto elas custaram aos cofres públicos?... Os ladrões foram presos?... E por aí segue a indiferença, pois agora o assunto é a tragédia dos bondes de Santa Teresa, gravíssima, por sinal, porém menor que a tragédia serrana. Ademais, poderíamos acrescentar o assassinato da magistrada, as balas perdidas matando crianças, a execução de policiais e muitos assassinatos decorrentes do tráfico de drogas e das disputas territoriais entre milícias e traficantes.
O quadro de insegurança é caótico, e não afirmo para culpar nenhuma administração atual nem anterior. Prefiro relembrar que o fenômeno do crime, segundo o estudioso Manuel Lópes-Rey, − autor que mais respeito por sua isenção e profundidade, − o fenômeno do crime tende a se expandir na proporção do aumento populacional ou mais rapidamente. Também as transformações sociais produzem incertezas e turbulências em que criminosos, − a pretexto de preservação de direitos humanos, paranóia pós-ditadura, − beneficiam-se de todos os modos, ficando evidente a vantagem da conduta criminosa se contrapesada com a conduta ordeira nos pratos da Balança da Justiça.
Lembra-me um magistrado amigo meu, falecido, afirmando que em vista da legislação penal brasileira é mais vantagem ser réu que vítima. Assistia-lhe razão, no meu modo de ver, e creio que hoje ele estaria espantado ao perceber o quanto o exercício da magistratura tornou-se arriscado. Também as atividades policiais e ministeriais sofrem com as ameaças vindas de dentro da polícia, desde que maus policiais integrados ao sistema situacional ocuparam espaços do poder paralelo até então explorados por traficantes ou milícias de ex-policiais: gatonet, gás clandestino, “gatos” de energia elétrica, água engarrafada como “mineral”, vans piratas, camelotagem, agiotagem, maquininhas, pontos de jogo do bicho etc., relevando-se as espúrias e inegáveis parcerias de policiais com traficantes, ou o recebimento de propinas (em arrego e arreglo), não mais se sabendo quem é quem na polícia.
Desgraça maior é que o sistema situacional não consegue separar o joio do trigo e utiliza indevidamente o poder a retaliar pessoas erradas, agindo em pilantragem para fabricar autores e culpados por crimes que não cometeram. Essa cultura de criação de “bodes” é antiga, rescaldo de monarquias, impérios e ditaduras, cultura incrivelmente praticada pelas mesmas pessoas que atuavam e atuam, por “herança”, nos meandros obscuros das famigeradas comunidades de informação civis ou militares. Pior é que com o aval de notórios esquerdistas antes perseguidos políticos através desses mesmíssimos métodos consagrados por Goebbels e resumidos na sua famigerada frase: “Uma mentira repetida mil vezes vira verdade”.
Penso nesse complexo tema como possibilidade de vê-lo discutido na AME/RJ em ciclos de palestras e seminários mistos que resultem na produção de conhecimento para distribuição à tropa da PMERJ. Porque esses fenômenos a mais e mais emaranhados no torvelinho social acabam por perturbar a mente dos que atuam na ponta da linha, desviando-os para crenças afastadas da legalidade, em especial devido à promiscuidade produzida e reproduzida no ambiente institucional e social a cada segundo ou microssegundo.
Sim, é tudo muito rápido e confuso, − verdadeiramente quântico, − não dando tempo de pensar aos PMs atuantes no codidiano operacional das ruas e logradouros. Acabam eles, então, imitando clichês condenáveis imaginando-os certos. Creio que esta falta de referência é prejudicial ao desempenho da tropa, e ela somente será alcançada por uma produção de conhecimento que se traduza numa prática sadia. Posto que, se a teoria não alcançar a prática, ela não passará de abstração de alto nível, de nuvem distante movida por ventos casuais.

2 comentários:

Paulo Xavier disse...
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Emir disse...
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