quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Reflexão para o fim de semana: a crise na SSP








O momento é ruim para a PMERJ, talvez o mais grave desses tempos recentes. Exige reflexão e ação, mas não pode se resumir à resignação da tropa nem à circunflexão dos novos dirigentes da corporação em relação ao andar de cima. Com efeito, é hora de lembrar que, enquanto os abutres correm à carniça em atropelo às leis vigentes no país, a PMERJ (levada ao extremo da carne apodrecida pela grande mídia) continua nas ruas e logradouros dos mais distantes recantos fluminenses prevenindo e reprimindo delitos e levando aos tribunais muitos facínoras que infestam o ambiente social do RJ, espécie de tambor a ressoar em grau máximo a violência que ocorre também no resto do país. Sim, aqui tudo parece ser mais grave que nos demais Estados-membros, e é bastante provável que a má conduta de alguns policiais-militares enodoe a imensa maioria porque interessa à mídia local enlamear a PMERJ como um todo para atender a seus propósitos inconfessáveis.




Há, sim, algo estranho na conduta da grande mídia em relação à PMERJ, talvez ira momentânea por ver desabar o castelo de cartas das UPPs, derrocando junto seus altíssimos planos comerciais em vista da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Porque o esquema de concentração de tropa em meia dúzia de favelas e o barulho feito, como a galinha a pôr somente um ovo e cacarejando como se fora uma dúzia, não está levando nada a lugar algum. Ou melhor, leva ao desgaste, porque a corporação não se cuida devidamente. Ela ignora as consequências do seu imediatismo apenas para agradar a segmentos poderosos, os mesmo que a vilipendiam ao primeiro azar. Mas a PMERJ não aprende: enfia a cabeça na areia para ser estuprada por algozes que não pretendem coisa nenhuma além do gozo, para depois descartar a fonte dele: o “fiofó da PMERJ”. Que coisa!...




Seria cômico se não fosse trágico o modo da mídia atacar a PMERJ: jorra luz em supostos especialistas escolhidos a dedo (não são especialistas de nada), como se depreende da nota sublinhada, para afundar a PMERJ num lodo que ela efetivamente produz porque não se protege antes de ser estuprada. Não põe nem sugere o uso de “camisinha” aos seus estupradores de plantão, expondo-se às doenças de sempre. Sim, a PMERJ não estabelece claramente o limite do seu esforço, que resulta, ao fim e ao cabo, no sacrifício da tropa, tudo para atender a interesses alheios, específicos, e em desacordo com o interesse geral da população por mais segurança. E o oba-oba prossegue em mais uma dança de cadeira, da troca de seis por meia dúzia, ficando “tudo como dantes no quartel de Abrantes”, o que raramente se vê nas Polícias Militares dos demais Estados Federados. Por que aqui é assim?...




Que fado adverso é esse?... Que desgraça é essa que ocorre com a PMERJ?... Perguntas simples, mas de resposta complexa, a PMERJ é sui generis em virtude da própria conjuntura que lhe deu origem: a sucessão de teratogenias que se iniciam com a ida da PMDF para Brasília e a permanência, no Estado da Guanabara, de um segmento daquela corporação: a PMEG. Medida simples, aparentemente, mas traduz o primeiro e grave racha intramuros representado pela disputa de poder entre os que permaneceram e os que foram e voltaram, de um lado, e os que se formaram já na PMEG, do outro. E, enquanto o lado de dentro instituía a cultura das facções e as disputas acirravam, o lado de fora era a mais e mais assolado pela violência, pior que instituindo interações sombrias entre as partes que deveriam ser contendoras, mas se promiscuíam em arregos e arreglos. E, se já estava complexo o problema, mais ainda ficou com o advento da Fusão, máxima teratogenia cujo resultado é uma PMERJ destituída de identidade e contaminada por dissensões que se tornaram sina, eis que as disputas pelo poder interno pôs suas marcas nas facções de turmas de Academia, cada uma esperando alçar um dos seus ao poder para eliminar a qualquer custo os concorrentes, tanto internamente como no meio político externo, de onde provêm as decisões de escolha dos dirigentes internos, como nesses dias turbulentos se pôde observar: a cúpula da SSP mais uma vez reunida, tal como a reunião de Cardeais a escolher o novo Papa, soltando mais uma vez a fumaça, com uma profunda diferença: o Papa permanece até a morte e a Igreja segue forjando a sua História Eterna; já o comando-geral da PMERJ cai ao primeiro tropeço e haja reuniões e fumaças multicolores, porque branca, só a do Papa...




Não faço comparações alegóricas com intentos humorísticos. Creio que a brutal diferença entre a escolha límpida da autoridade máxima eclesiástica está no cerne da destinação da Igreja: vencer os tempos terrenos e alcançar os céus. Talvez seja exatamente esse simbolismo que falte à PMERJ ou às Polícias Militares em geral e também às Polícias Civis, já que, cristalizadas na Carta Magna, para elas os constituintes não estabeleceram com clareza seus limites de atuação e de convivência, razão principal dos intermináveis conflitos de competência hoje reduzidos a rivalidades entre pessoas que nem se conhecem. Então, quando o Jornal O Globo usa os tais “especialistas” para sugerir que eles (e não o Jornal) “defendem a reforma da PM”, isto já denota malícia contra a PMERJ, posto ser ela o “bode” a incomodar na sala das decisões. E depois, ao usar termos degradantes, como “limpeza” e “assepsia”, o jornal destila uma ira ideológica que não trará nenhum benefício à sociedade. Aliás, melhor resposta a esse estado de perseguição midiático foi dada pelo novo comandante-geral em entrevista on line: "Ser digno vem de berço. Não se aprende na academia". Esta declaração contém a essência do seu sentimento, pois, se há maus policiais, eles se originam desta mesma sociedade que faz nascer tudo que não presta, e, desse tudo, uma parte ingressa na PMERJ; e como a política é a do ingresso maciço de jovens, e muitos são socialmente malformados, claro que as tentações os envolvem com maior facilidade e eles maculam a instituição sem qualquer pudor. Afinal, nasceram maus, e a PMERJ não tem índole de reformatório a viver ressocializando quem lá nem deveria estar, mas é recrutado quantitativamente para atender aos clamores por mais policiais aqui, ali e acolá...

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