terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sobre a formação dos policiais e a corrupção policial

Fonte: O Globo
Fonte: O Dia



O título nietzschiano de O Globo mais uma vez demonstra que ao jornal não importa o formato, pois no final a receita do bolo é a mesma: desacreditar as instituições PMERJ e PCERJ. A abordagem aparentemente ufanista justifica o título inspirado no filósofo e filólogo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900). Longe de ser um “nietzschista”, sei, porém, da sutileza dos seus textos, tão amados como odiados e muitas vezes ininteligíveis para a maioria dos mortais. Por que o título?... Ora bem, a matéria é aparentemente alvissareira, uma flor desabrochando em beleza e sem espinhos no caule. Contudo, há um espinhozinho incômodo: se a pretensão anunciada é “melhorar a formação de policiais”, é sinal de que ela está ruim, o que deixa em xeque a atual administração da PMERJ, já que esse foco se concentra na corporação militar estadual.
As afirmações jornalísticas, ou de terceiros que a corroboraram, com todas as minhas desculpas, não são verdadeiras. A uma porque os oficiais da PMERJ são desde muito tempo aperfeiçoados em concurso com universidades federais e estaduais (Curso Superior de Polícia e Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, respectivamente destinados a oficiais superiores – majores e tenentes-coronéis – e a oficiais intermediários – capitães). Ademais, quase que a totalidade desses oficiais possui curso universitário extramuros dos quartéis, com mestrado e doutorado em muitos casos. Acresce ainda que os cursos internos impõem aos oficiais-alunos defesa de tese como o faz qualquer universidade pública ou particular, obedecida a Metodologia da Pesquisa Científica, incluindo Testes de Significância, o que nem sempre é cobrado nos cursos não militares. Muitos deles, na verdade, se limitam a tumulares dissertações calcadas em “palavras mortas”, como denuncia Tomazio Aguirre (vide Overmundo na internet).
Insinuar, pois, que professores e instrutores militares estaduais são despreparados para cuidar da formação e do aperfeiçoamento de novos oficiais e praças é falácia retumbante. Na verdade, os professores universitários ensinam na PMERJ desde o primeiro comando do Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira (1983-1987). Portanto, a idéia da utilização de professores universitários na corporação, como novidade, é simplesmente ridícula. O assunto, por outro lado, não tem nenhuma relação com a “pacificação” do título, pois as tão badaladas UPPs representam um mínimo do esforço corporativo. O que o jornal pretende, diga-se por amor à lógica, é enganar o público leitor com a falsa informação de que as UPPs são o todo e a PMERJ é a parte.
Quanto aos critérios punitivos anunciados concomitantemente pelos jornais O Globo e O Dia (foram os que li), mais uma vez se ressalta a exaltação da punição em vez do incentivo ao desempenho. Aliás, e por falar em incentivo ao desempenho, cai como pérola, em meio à lama fedorenta da cultura punitiva vigorosamente anunciada, a notícia veiculada pelo Jornal O Dia sobre o não pagamento de bônus para PMs lotados em UPPs. Enfim, não passa de cascata desmoralizante o anúncio da formação de policiais por gentes de fora (mentira! A PMERJ já utiliza essa mão de obra universitária há muitos anos!). De resto a matéria também não passa de reedição do velho glamour punitivo, que a mídia ama e o povo aplaude, esquecendo-se todos de que o índice de desvios de conduta da tropa da PMERJ pode até ser, por exemplo, menor que o do Sistema Globo e de muitas outras organizações particulares e públicas.
Tamanha perseguição ideológica travestida de “ótimas providências” embute, talvez, uma intenção em desviar os holofotes da famigerada empresa Delta e da Secretaria de Saúde dos Cavendish e Côrtes para a PMERJ e para a PCERJ. Deste modo, a fedorenta lama que os atola escorrerá para o quintal da polícia, que de simpática nada tem em sua missão coercitiva: eis como ampliar a natural e histórica ira popular contra pequenos corruptos, para que os grandes vilões permaneçam na sombra da impunidade maior: a do colarinho branco. Porque o “castigo-espetáculo”, anunciado em estardalhaço midiático a lembrar fogos de artifício e salvas de tiro, focando 40 supostos transgressores disciplinares, põe na lama fétida da ojeriza pública 40.000 PMs da ativa e outros tantos milhares de inativos, demais do imenso efetivo da PCERJ, que, neste caso das punições, também não foi poupado. Ah, isto só pode servir aos grandões da DELTA e do Governo, este, que gasta verbas milionárias em publicidade a entupir as algibeiras midiáticas para inverter valores e camuflar os desvalores que ocorrem fora do ambiente policial e não são policiados por ninguém. O resto é pura ilusão a nos transportar “para além do bem e do mal”...



Fonte: O Globo

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