domingo, 3 de abril de 2011

Sobre a Revolução de 31 de março de 1964

Revolta dos marinheiros Comício da Central Quebras-quebras Marcha do povo com Deus pela liberdade






Conto atualmente 64 anos. O movimento militar ocorreu em 31 de março de 1964. Estava eu com 17 anos, o que significa que vivenciei o início de minha fase adulta sofrendo os efeitos diretos dos acontecimentos anteriores ao movimento. Confesso que não guardo boas lembranças dos atores políticos que intentaram consagrar no Brasil um totalitarismo de esquerda ao modo cubano, russo ou chinês por via de um proselitismo levado ao extremo da desordem pública e do caos social associado à miséria por eles mesmos, os totalitaristas de esquerda, fomentada em suas administrações.


Impressionantes as greves gerais de trabalhadores sem quaisquer motivos, ou decorrentes de motivos fabricados pelos que detinham o poder político no país e não cuidavam de atender aos anseios, muitos dos quais injustos, de categorias já privilegiadíssimas em vista de seus sindicatos fortes e do alinhamento fiel à ideia dos mandatários políticos de implantar no Brasil o comunismo, decerto com fuzilamentos e outras barbáries que se viam nos países supracitados. E, se não bastassem as greves absurdas, volta e meia se levantavam turbamultas promovendo quebras-quebras incríveis.


Entretanto, os baderneiros de ontem, − que não culminaram fuzilados pelo regime militar, que com eles foram condescendentes, − os baderneiros de ontem são hoje afagados como heróis ante uma juventude autista e ignorante. Talvez, porém, tudo seja fruto do desconhecimento da realidade vivenciada pelo povo na década de sessenta, especialmente durante o governo João Goulart. Ele era a principal figura política a dar visibilidade às malévolas intenções dos totalitaristas de esquerda que aqui pretendiam impor um regime de opressão comunista pior que o inverso patrocinado pelos militares brasileiros.


É impossível supor um regime comunista com liberdade. Mas era o que propalavam em falsidade os traidores da pátria associados ao falido regime político, tão totalitário quanto qualquer regime de direita. Acontece, todavia, que a dicotomia “esquerda-direita” a que reduzem os formadores de opinião, claro que condenando o movimento militar e defendendo a liberdade como conquista exclusiva da esquerda, não condiz com a realidade do que houve nem com o pensamento do povo. Porque é certo que a liberdade não está na direita nem na esquerda, mas na democracia, cuja restauração foi o fim maior do movimento militar. Claro, também, que as reações dos totalitaristas de esquerda na clandestinidade, que eram sangrentas (assaltos a bancos, sequestros, atentados terroristas etc.), se fizeram presentes e constantes, gerando como contrapartida as retaliações perpetradas pelo regime militar, que hoje seus detratores insistem em ressuscitar. Ora, se houve excesso de um lado, houve também do outro, numa contenda em que ninguém era santo.


Eu não participei de nenhum movimento a favor da baderna, que muito me assustava. Nem contra ela... Morador em Niterói, pude ver de perto as greves e as ações violentas de turbamultas lideradas por operários navais em cuja sede havia uma Central de Comunicações patrocinada por aqueles países que orientavam a tentativa de aqui implantar o comunismo. A referida sede ficava cerca de 600 metros de distância do colégio em que eu estudava. Enfim, ninguém me contou nada, eu vi e senti na carne os efeitos do medo e do desconforto dos “paus-de-arara” substituindo ônibus e bondes, os efeitos da filas para comprar feijão, arroz, açúcar e outros alimentos convenientemente desaparecidos do mercado. Também ninguém me contou nada a respeito do regime militar. Vi-o começar e terminar seu ciclo igualmente caracterizado pela liberdade controlada ou cerceada e outras retaliações que os militares entendiam imprescindíveis. Quem conhece a verdadeira história da reação militar sabe que ela foi estimulada por personalidades civis do mundo político, eclesiástico, e por milhares de famílias brasileiras apavoradas com o caos instalado de Norte a Sul e de Leste a Oeste do Brasil. Mas hoje parece que a História do Brasil se inicia em 1964, tendo o movimento militar como causa de tudo e não como efeito inadiável para atalhar a baderna vermelha de antes. É pena que o povo, entorpecido por desinformações e falsidades históricas, se entregue aos discursos midiáticos mui bem direcionados à falsa ideia de que o movimento militar foi o vilão da história e que as súcias de malfeitores comunistas não fizeram por merecer retaliações.


Não defendo a falta de liberdade imposta pelo movimento militar. Por outro lado, não consigo imaginar que a baderna anterior pudesse ser tratada a chicote de algodão sem caroço. Nem ainda poderia ser afagada em carinho a reação clandestina e armada dos que insistiam na entrega do Brasil aos vermelhos da foice e do martelo sob o pretexto de defenderem a democracia e a liberdade. Ora, se hoje vivenciamos uma falsa liberdade e uma frágil democracia, isto é obra dos mesmos radicais de esquerda do passado e não de nenhum regime militar. Se hoje o governo do país (nos seus três níveis de poder) assola o povo com a mais absurda carga tributária e inventa meios e modos de tocaiar o contribuinte para assaltar suas algibeiras com “pardais eletrônicos”, “choques de ordem” e aberrações congêneres, a culpa não é dos militares. A roubalheira de hoje não é culpa dos militares...


Nunca festejei a revolução de 31 de março de 1964. Posto-me indiferente, ela não me diz respeito (meu pai era comunista e perseguido tenazmente pela Polícia do Estado Novo de Vargas, que não parou suas atividades depois que ele, de ditador, travestiu-se em presidente eleito. No fim de tudo, a ficha da Polícia de Vargas veio a ser arquivada no DOPS da Polícia Civil do antigo RJ, o que vale uma história à parte). Enfim, sou, como muitos, vítima do antes, do durante e do depois das ditaduras. Mas de uma coisa estou certo: quem sofreu com o antes não pode ter apagado da memória a triste realidade das turbamultas, da inversão de valores, da quebra de hierarquia militar promovida pelo próprio chefe da nação, e demais artimanhas destinadas a enfiar o Brasil num caminho sem volta rumo à opressão mais sanguissedenta que se conhece na História da Humanidade: o comunismo.


Na verdade, tivesse eu que tomar posição, diria que muito me impressionou o Movimento Tropicalista capitaneado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, José Carlos Capinan, Torquato Neto, Ferreira Gullar, Hélio Oiticica, Júlio Medaglia, Rogério Duptrat, Os Mutantes, Tom Zé, Nara leão, Geraldo Vandré e tantos outros não menos valorosos defensores da verdadeira democracia com um recado libertário fundado na arte, na paz e no amor. Esses e outros corajosos artistas enfrentaram a ditadura com irreverentes poesias e canções, e culminaram retaliados pelo regime militar. Eis, portanto, e sob a minha ótica, os que merecem as máximas honrarias do povo brasileiro. Com eles e elas o regime militar foi efetivamente vilão. Quanto aos assaltantes, sequestradores e assassinos que agiam em nome do totalitarismo comunista mascarado em “defesa da democracia”, prefiro mais os militares...


Também vejo como conversa fiada o ufanista discurso da esquerda avocando para si os louros da abertura política com o afastamento dos militares do poder. Pelo contrário, os militares programaram a devolução do poder aos civis mediante o voto popular e se recolheram aos quartéis por deliberação própria e por amor à legalidade democrática então resgatada. Passado o perigo da opressão comunista, nada mais impedia a redemocratização do país, mérito que, segundo também a minha percepção, não pertence aos “heróis” das “diretas já”. Se os militares quisessem permanecer no poder, lá estariam até hoje, o que seria ruim para a nação brasileira. O resto que aí está é pura malandragem capaz de reunir num só caldeirão políticos e trapaceiros que, em nome de uma falsa democracia, entopem suas algibeiras com o suor de um povo excessivamente conformado. Eis a situação típica dos estados interventivos, como sói ser o Brasil de hoje, com um Poder Executivo capaz de exercitar a anomia atropelando constituições e leis com desenvoltura e passando desenfreadamente ao largo dos inermes e inertes Poderes Judiciário e Legislativo. Isto não é liberdade nem é democracia, mas teratogenia tendente a um novo caos em vista das tentativas dos antigos guerrilheiros em exumar o passado claro que para retaliar um só lado. É como cutucar a onça com vara curta... Esquecem-se os assanhados que esse lado aparentemente só, além de não estar só é mui bem armado e não costuma temer inimigos. Entretanto, − e atado ao solene juramento perante o Pavilhão Nacional, − respeita a legalidade e não abre mão da democracia nem ao custo da morte.

3 comentários:

Paulo Xavier disse...

Que belo e interessante texto! Quanta cultura; verdadeira aula de História. Na minha humilde opinião concordo com quase tudo o que foi colocado, porém o tema é pra lá de polêmico.
Fossem colocados numa mesa, dez historiadores ou professores de história, certamente que haveria muita controvérsia.
O fato de alguém ter sido contra um regime ou um sistema não implica que ele deva alijado para o resto da vida; nem que o bonzão de ontem, será eternamente o dono da verdade.
Vimos recentemente um Deputado Federal no alto da sua arrogância e prepotência, desrespeitar a tudo e a todos como se a lei não existisse para ele.
Não devemos confundir democracia com anarquia, também não podemos aceitar que uns se achem acima da lei, já que todos são iguais perante ela.
Tenho uma sobrinha casada com um nissei que mora há alguns anos no Japão, exatamente em Tóquio e nas nossas conversas posso avaliar a grande diferença existente entre os dois povos, brasileiros e japoneses, e infelizmente chego à conclusão que a nossa democracia deve ser restrita mesmo, dado ao baixo nível da educação cultural e social do nosso povo.

Rita Maria Nicola de Souza disse...

Coloquei o referido post no blog de um Drº Professor.

Cientista político, profundo conhecedor das causas de racismo e violência.

Entretanto, como o mesmo não foi postado. Teve lá ele seus motivos para não se expor. Venho eu colocar o referido posto em seu blog, para sua análise SOCIALISTA, bem melhor que muitos ai que, se dizem "esquerdo patas".rsrsrsr
Ai vai;

A desvantagem do afro brasileiros em relação ao afro americanos são complexas, fincadas nas ineficiências de nossa democracia, de nosso sistema educacional e de nosso travado ambiente de negócios, que estanca a mobilidade social.
O Brasil é mesmo um país desinstitucionalizado, nosso racismo, como nossa economia, é informal.
“E ainda, só deu IBOPE, twitter, facebook, etc. Por ser Preta Gil membro de uma família rica e abastada.
Se, fosse a filha de um humilde operário, de um humilde PM, ou das chamadas classes sociais E F G e H.? Sei não?”
Temos que usar uma dialética para nossos filhos que a ELITE NEGRA também é preconceituosa. Quantos empregos deram o pai da Preta Gil aos negros com formação acadêmica quando o mesmo foi ministro?
Quantos empregos foram gerados por Flora Gil esposa de Gilberto Gil com sua empresa de propaganda e eventos?
Tenho a resposta: A Preta Gil dá empregos aos negros percussionistas em seu bloco de branquinhos elitizados da Zona Sul que levam 200 mil pessoas na orla do Leblon e Ipanema. Sabe Deus lá quem são os patrocinadores...
Recordo-me de uma família de juristas NEGROS que pagavam aos seus serviçais míseros salários, enquanto outra família de brancos, porém brasileiros socialistas que pagavam aos seus, pelo mesmo serviço o dobro e ainda, ajudavam nas boas escolas para os filhos dos seus empregados.
Esses pensaram, aprenderam a dividir o pão. Ou estou errada?
A meu ver o ato do Capitão e deputado Bolsonaro, serviu como exemplo para uma parte dessa elite negra que na sua maioria, jamais atravessam o túnel Rebouças a não ser para irem ao Maracanã e/ou uma vez por ano visitam seus familiares que ainda estão nos conglomerados de pobres, onde na primeira fila moram negros e nordestinos massacrados por péssimos salários, com um modelo de educação arcaico, onde os salários dos professores mal dão para dia a dia.
Nossos parlamentares negros usam os melhores ccdals para os brancos. Também tenho uma pergunta: Não existem NEGROS capacitados para exercerem cargos de confiança na esfera do poder?
A elite NEGRA deve deitar em um divã, descobrirem seus fantasmas, medos e frustrações. Talvez assim, com muitas análises e psicanálises possam em 15 anos tentarem uma transformação de uma sociedade brasileira justa e igualitária.
Que fique claro que não defendo ‘Bolsonaro e Cia’. DEFENDO SUA CASSSAÇÂO IMEDIATA para que sirva de exemplo aos parlamentares racistas e homofóbicos.
Enquanto isso, teremos outras ‘Pretas Gil’. Que, provavelmente não trará mídia, pois, são filhas do baixo clero negro do BRASIL

Emir Larangeira disse...

Caro Paulo xavier

É impressionante o tabu que instituíram neste nosso Brasil. Parece que toda a população é "de esquerda". Especialmente o pessoal da mídia, os artistas etc. Ninguém se expõe e todos focam tão-somente a ditadura como "inimiga da democracia", esquecendo-se do Estado Novo e exatando um ditador esperto como ícone da esquerda, o populista Getúlio Vargas, que, paradoxalmente, perseguia comunistas, socialistas e semelhantes. Pior é que não vivenciamos democracia alguma,o modelo econômico é o mesmo, os tributos estão a mais e mais altos e a opressão do "Estado Babá" só aumenta. Haja saco para aturar os "choques de ordem" e a covardia dos que fingem não lembrar das filas decorrentes do desabastecimento provocado pela súcia do Jango. Vivíamos como gado enfileirado disputando a tapas um quilo de açúcar, de arroz, de feijão etc. Vivenciamos atualmente a moda do proselitismo de esquerda afagando ditadores socialistas e comunistas, além de outros déspotas mundo afora que abominam a liberdade e a democracia. Eta povo bobo! De minha parte, insisto que não se trata de opinião sobre a validade ou não do regime militar, mas de conhecimento da verdadeira história pátria. Reduzir o movimento militar à perseguição de meia dúzia de tresloucados totalitaristas de esquerda é dose para elefante. Até parece que antes da eclosão do movimento militar o país vivenciava a democracia e tudo ia às mil maravilhas. Obrigado por sua contribuição.
Abraços.