sábado, 30 de abril de 2011

O Rio de Janeiro num sábado à noite


No dia 23 de abril de 2010, sábado, saí à noite de Maricá (21: 50h) para participar de uma festa de formatura no Espaço Cultural Sul América, próximo do Centro Administrativo da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. A maratona começou no Km 24 da Rodovia Amaral Peixoto, até a Alameda São Boaventura, Niterói. Daí, iniciei a travessia da Ponte, e finalmente alcancei a Cidade Maravilhosa, subindo a Avenida Brasil até o Viaduto de Bonsucesso, que acessei e me enfiei logo em seguida pelo caminho que leva a Ramos. Foram mais de sessenta minutos de percurso tenso, já que, espantado desde o início, constatei a ausência absoluta de policiamento ostensivo (PMs uniformizados ocupando viaturas caracterizadas) da PMERJ, demais de não ter cruzado com nenhuma viatura da PCERJ. Saindo então de Ramos com destino ao centro da cidade, adveio-me a aterradora confirmação: o policiamento sumiu! Aliás, não apenas o policiamento, mas as pessoas, os carros, tudo sumiu, enfim, lembrando uma “cidade fantasma” sugerindo que o povo está sem ânimo ou dinheiro para se divertir ou está morrendo de medo e trancafiado em suas casas gradeadas.
Ao deixar a festa, por volta de 2h da manhã, agora a caminho de Maricá, observei o fenômeno com um misto de perplexidade e temor, não por mim, mas pelas pessoas que me faziam companhia e questionavam-me em indagações sem resposta. Que dizer?... E assim, mais de uma hora depois, cheguei à minha residência são e salvo, do mesmo modo que confirmei ter o grupo de adolescentes alcançado Ramos, já pela manhã, sem qualquer transtorno, nem por parte de bandidos, nem por blitz policial, nem nada. Tudo estava curiosamente calmo naquele ambiente vazio de problemas num sábado noturno que me acenava como perigosa aventura.
O episódio lembra-me algumas pesquisas mundo afora em que, retirado das ruas o policiamento ostensivo, a criminalidade não se acirrou. Também me ocorreu que o ambiente por mim percorrido estivesse tão bem monitorado por câmeras que uma viatura rodando a esmo apenas serviria para cansar os policiais, desgastar o veículo e produzir poluição. Lembrei o panóptico (visão geral) do filósofo Jeremy Bentham (1785), concluindo como acertada a ausência do policiamento, sendo certo que não observei pelos meus atentos olhos nenhum perigo nem uma simples ameaça. Parecia tudo calmaria interiorana a transmitir certo bem-estar a ponto de, no meu íntimo, eu não desejar a presença de polícia alguma, especialmente as incômodas blitze que costumam pôr sob suspeição cidadãos ordeiros a pretexto de prender algum bandido ou atalhar algum bebum pela famigerada Lei Seca – última modalidade de vigiar e punir (“Choque de Ordem”) ao modo condenado por Foucault.
Ora bem, como tudo na polícia deve ser objeto de pesquisa, e como eu visto o meu pijama faz tempo, fica a sugestão para os companheiros da ativa. Enfim, pelo que constatei não havia nenhum policiamento e não me pareceu fazer falta alguma naquele sábado festivo em que, acompanhado de minha noiva, levei à festa alguns jovens estudantes do Colégio Pedro II (Baile de Formatura envolvendo milhares de formandos e familiares, somando um público de mais de duas mil pessoas bem-vestidas, ornadas em jóias e com o espírito descontraído). Claro que, como policial previdente (seguro morreu de velho), pus por minha conta dois companheiros PMs, armados, seguindo o meu carro. Também cuidei de levar a minha arma, vício de “cão pastor” que não abandono enquanto for vivo (alguém tem de defender as ovelhas contra os lobos maus). Esforço desnecessário, felizmente, e graças ao Cristo Redentor que nos protege de lá de cima. Tomara que continue assim! Ou será que passei por um oásis de tranquilidade no deserto asfáltico e não conferi se era real ou apenas sonho?... Não sei. Só garanto que não bebi uma gota de álcool sequer...

Nenhum comentário: