quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sobre a política


Fonte: Internet



Iniciamos a semana com a abertura da nova legislatura nos parlamentos brasileiros, momento de renovação das esperanças e certeza de um novo período de liberdade. Isto é bom. Sempre apreciei política e polêmica e a liberdade é o anteparo do funcionamento pleno de ambas. Todavia, não gosto de extremismo, assim como não creio em equilíbrio absoluto: pode indicar forças opostas a se anularem. Fico, portanto, com a ideia do equilíbrio relativo, oscilante, assimétrico, para que a vida tenha graça

Gosto da social-democracia, embora não aceite nenhuma ideologia como sistema fechado. Ponho-me perto do meio sem ser “muro”. É apenas referência para avaliar a política e seus atores; quanto a estes, observo-lhes o contraste entre o discurso e a prática, e haja decepção! Aliás, decepção até comigo mesmo: fui deputado estadual e não venci a burocracia estatal cuja ideologia é tão-somente a conquista do poder para dele se tirar proveito. Confirmei ser essa burocracia tão insolente quanto afastada dos seus fins sociais... Mas, como o Cândido, de Voltaire, não perdi meu otimismo. Continuo participando do processo político como expectador e eleitor.

Não aprecio pensamentos rígidos; assustam-me os que se fixam em objetivos imutáveis. Aplaudo quem muda de posição e busca novos rumos, desde que voltados para o bem-estar geral. Não me importa se alça vôo ante meus olhos alguma ideia cercada de impossibilidades. É algo corriqueiro neste mundo de aparências. Por outro lado, sei que num ambiente assim inventar retórica para sugestionar pessoas é deveras confortável: evita-se a polêmica e a dispersão.

Os amantes de dogmas e ideologias costumam seguir cegamente seus “mestres”. É o que poderíamos denominar, em linguagem nietzscheziana, como “moral de rebanho”, característica infelizmente predominante entre os pensantes. Porque, na verdade, poucos pensam e muitos seguem o barulho do sino pendurado ao pescoço do que vai à frente tangido a estocadas pelos eternizados detentores do poder ou animado por ofertas irresistíveis, porém dissimuladas tais como um cão perseguindo a falsa lebre na pista de corrida.



Fonte: Internet



Não gosto nem me rendo a esse comportamento manipulado. Em matéria de conformismo, não sou “lobo” nem “ovelha”. Estou mais para “cão pastor”, porém meio vira-lata: selvagem, sem dono, livre, leve e solto. Ninguém me pendura “sino” ao pescoço, embora eu não esteja a salvo de confundir gato por lebre... Ah, mas posso errar e acertar à vontade, sem preocupação maior a não ser com minha própria consciência; e me mantenho fiel às minhas emoções, mesmo equivocadas, porque errar por mim é melhor que acertar pela anulação dos meus anseios e valores.

Entendo-me social-democrata, sim, todavia não vejo em nenhum partido político esse emblema a não ser por conveniência eleitoreira. Por outro lado, e como admiti talvez em total incoerência, sou otimista e preciso crer em algo e/ou alguém, porém o faço sem separar o autor de sua obra. E me começo a indagar como o ser humano está sujeito a falhas no cotidiano de uma vida mais veloz que nossa vontade de viver. E vou à minha primeira referência existencial... Chego à ideia do homem e da mulher construindo os clãs, e assim sucessivamente, até chegar ao modelo de convivência de hoje.

Muita coisa mudou: o simples tornou-se complexo, o homem natural tornou-se social, o artesanato industrializou-se e o poder estatal “representado” aumentou a influência de poucos sobre muitos. O homem social tornou-se “rebanho” que não era quando se mantinha isolado. Contradição?... É, parece que sim, porque a vida em sociedade instituiu classes e castas, categorizou gentes em camadas estanques em vez de integrá-las num sistema igualitário forjado no respeito pelas diferenças. O mundo se tornou pirâmide em vez de plano. Acentuaram-se as distâncias sociais, aprofundaram-se as desigualdades, e o “rebanho” mundial foi agrilhoado em piquetes delimitados por nítidas fronteiras: os países ricos, e pobres, e famélicos, porém igualados na opressão das massas a medo de torturas, prisões e execuções dissimuladas em supostas “legalidades” ou acobertadas pela clandestinidade dos carrascos oficiais.



Fonte: Internet


É neste contexto mundial globalizado, midiático e desumano que o racional se diz superior aos animais por ser “civilizado”. E os atores se salvam da danação por meio das religiões e de suas sistemáticas orações. E se fingindo ascéticos na teoria, promovem na prática suas matanças coletivas e fomentam a destruição do ecossistema. E põem na sua frente um belo bife (carne morta), e cortam-no, e o degustam em opção animalesca, tal como faz o leão a destrinçar a presa para lhe garantir a sobrevivência. Eis como se igualam homem e animal, com vantagem para o segundo, que utiliza a agressividade apenas para a preservação da espécie, enquanto o “pensante” faz uso indiscriminado da violência por qualquer pretexto, especialmente para conquistar e manter o poder.

Eis o cenário político em que a coletividade massificada e dominada por minorias deposita seu obrigatório voto na urna. Alguns até fingem reagir, anulando-o, como se tal providência mudasse o efeito global da política no dia seguinte. Ah, esquecem-se de que, para anular o voto, ficaram antes na obediente fila do abate! E assim seguirão, em conformismo extremo, e no dia seguinte brilhará o sol ou jorrará a chuva; mas, invariavelmente, o dia e a noite se revezarão com os jornais mostrando as mesmas caras políticas reassumindo seus poderes na burocracia estatal: atores eternos, que iniciaram seus mandatos hereditários desde as primeiras casas-grandes e senzalas. E assim sempre o será...

2 comentários:

Paulo Xavier disse...

Pela quarta vez seremos obrigados a assistir o esperto e matreiro José Sarney presidir o nosso Senado Federal.
O homem iniciou sua vida parlamentar em 1954 como suplente de Deputado Federal e daí partiu para grandes escaladas e jogadas políticas. Foi governador do Maranhão nomeado pelos militares, Presidente da República sem ser votado, é Senador reeleito pelo Maranhão, estado que ele mesmo criou e que tem menos eleitores que S. Gonçalo.
Quem acompanha a nossa política sabe o restante da história desse velho político ou desse político velho.
Conheço alguns maranhenses aqui em Macaé, pessoas honestas, cheias de sonhos, que vieram em busca de trabalho, de emprego e para fugir da miséria que assola o estado do Maranhão.

P disse...

Onde digo reeleito Senador pelo Maranhão, digo Amapá.
Obs: Segundo a Fundação Getulio Vargas, o Estado do Maranhão é o que apresenta o maior índice de miséria do Brasil.