sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Quem somos nós?


A vida humana é curiosa. Corremos contra o tempo, não nos ajustamos à ideia de que ele passa muito rapidamente, e não nos sentimos velhos diante do nosso espelho e de nossa imagem. Mas, quando deparamos com fotos recentes de muitos amigos reunidos, enfrentamos a triste realidade de que o tempo passou mais rápido que a velocidade da luz. No meu caso, me indago se fiz o que deveria com o meu tempo. Também penso se meus companheiros de jornada e amizade souberam aproveitar o tempo deles com sabedoria e alegria, embora cientes de que as tristezas fazem parte da vida humana. Não podemos evitar a perda de entes queridos, não podemos prever o átimo seguinte, não somos detentores do nosso destino nem do destino alheio. Nada, nem o amor extremado é capaz de evitar a perda de quem amamos. E nos questionamos: valeu a pena viver?...
Não sei responder à indagação que me faço a não ser na superficialidade dela. Não consigo aprofundar a reflexão para alcançar lá no meu mais profundo íntimo o que eu deveria ou não deveria ter feito para viver melhor neste mundo materialista e desigual que nos faz esquecer o tempo da nossa vida e da escassez dele a cada dia que o sol nasce e se põe. Vivemos sem olhar para trás para contar o tempo e sabê-lo aproveitado ou perdido. Pensamos num futuro além de nossas possibilidades materiais e espirituais. Não fazemos nada para nós com as próprias mãos, como antigamente. Hoje a ciência e a tecnologia nos suprem as necessidades máximas e mínimas e nos tornamos preguiçosos. No meu caso particular, não encontro respostas existenciais que me atendam na filosofia e nem na teologia. E não consigo fingir não ter dúvidas existenciais ocultando-me em dogmas. Sou deísta, creio no evolucionismo apenas como um pequeníssimo detalhe do criacionismo. Não vejo nenhuma dicotomia entre uma doutrina e outra. Como creio num Deus maior que o universo ou que muitos universos, irrito-me com as abstrações que O fazem minúsculo, em especial aquelas que afirmam que somos feitos à Sua imagem e semelhança, como se fôssemos o centro do Universo, o que nem a Via-Láctea e muito menos o Sistema Solar e a Terra o são.
Não cogitamos o azar a não ser o alheio, num egocentrismo sem limites. Somos insignificantes ante o espaço e o tempo (ou espaço-tempo) e não nos damos por vencidos. Achamos o que fazemos mais importante que quaisquer coisas que outros o façam. Somos capazes de amargar a infelicidade ao volante de um carro de luxo e mesmo assim nos acharmos mais felizes do que o motorista ao lado, no semáforo, dentro de um fusca caindo aos pedaços. Não entendemos por que ele sorri para si próprio em sinal de felicidade interior. Ele nem mesmo olha para o nosso carro de luxo, não gasta o tempo dele com essa futilidade. Ficamos furiosos. Sentimos raiva dele por ignorar sua inferioridade material. E o nosso tempo passa raivosamente, enquanto o dele transcorre em felicidade tanta que dá para percebê-la. Que boa hora de humildemente indagarmos dele o que o faz feliz naquele momento de desigualdade social antes de o sinal abrir democraticamente para ambos!... Não o fazemos, temos medo da resposta, medo de ela se resumir a um sorriso feliz e ao adeus incógnito.
O tempo é o mais rápido trapeiro de nossas vidas. Ah, o tempo!... Não conseguimos travá-lo nem vivê-lo plenamente. Não temos tempo para isso e para nada além do nosso próprio egoísmo a fingir não ver ante o espelho a velhice inevitável e a proximidade do fim. Curioso é que, enquanto estamos sós com a nossa verdade única e infalível, não nos sentimos velhos. Até estranhamos quando somos chamados de vovô. Mas ao olharmos nossa imagem lado a lado com a dos nossos companheiros de jornada... Ah, que decepção! Lá se vai a doce ilusão da juventude para o buraco, e há quem evite sair na foto por vergonha de si mesmo, por não querer assumir que o tempo também passou para os fugitivos do grupo envelhecido. E há os que dissimulam uma juventude falsa por conta da mesma ciência e da tecnologia que nos tornaram preguiçosos por dentro e artificialmente rejuvenescidos por fora. E todos, ricos e pobres, produzidos ou não, poderosos ou não, terminamos no túmulo que nos iguala a todos.
O mais angustiante, também, é saber que o progresso não nos trouxe nenhuma felicidade. Em contrário, somos escravos do Estado paternalista ao qual pagamos caro por seus serviços que não nos garantem nenhuma segurança em quaisquer de seus aspectos. Somos clientes maltratados e reclamamos ao vento. Somos tratados como massa de manobra pelos mesmos detentores do poder dos tempos remotos: Estado e Igreja. Nada mudou na face da Terra, apenas o poder de antes se proliferou em novos tentáculos de controle social que, enfim, privilegiam bem mais os malfeitores do que os cidadãos ordeiros e cumpridores das leis que os políticos safados nos enfiam goela abaixo. E somos eleitores deles... A burocracia garante a eficiência e a eficácia do Estado que eles governam contra os seus administrados fingindo-se a favor. Os administrados somos nós, o povo, a platéia de um cenário teatral imutável e de mesmos atores. Revezam-se, às vezes, na encenação dos mesmos personagens nos mesmos palcos, sendo por nós aplaudidos ou vaiados, o que não muda absolutamente nada: continuamos a pagar ingresso caro para ver a mesma peça encenada pelo Estado malcriado pela sociedade. Nós somos os otários, e pagamos o preço eterno de nossa má-criação. Somos os palhaços a verem o circo passar e finalmente morremos sem conhecer o final da história. Que mais somos nós?... Ah, somos massa robotizada...

2 comentários:

NEIDE disse...

TEMPO. NÓS O TEMOS A HORA QUE QUISERMOS,GRATUITAMENTE E NO ENTANTO NUNCA O TEMOS O SUFICIENTE PARA CONCRETIZARMOS NOSSOS PLANOS. DE QUEM SERÁ A CULPA? DE NÓS MESMOS QUE QUEREMOS TANTO EM TÃO POUCO ESPAÇO. DEIXAMOAS REALMENTE DE FAZER CERTAS COISAS COM NOSSAS PRÓPRIAS MÃOS, POIS, E PREFERIMOS COMPRAR FEITO, SEM DAR TRABALHO POR ACHAR QUE NÃO TEREMOS TEMPO. NÃO PERCEBEMOS O PASSAR DOS SEGUNDOS, DOS MINUTOS, DAS HORAS, ENFIM, SEMPRE PREOCUPADOS COM O NOSSOS PLANOS. MUITAS VEZES, DEIXA-SE DE DAR ATENÇÃO A FAMÍLIA, AOS FILHOS QUE JÁ CASARAM E TIVERAM OS SEUS. POR ISSO DIZEM QUE OS AVÓS EDUCAM MAL OS NETOS. ELES NÃO EDUCAM MAL, ELES DÃO MAIS ATENÇÃO, MAIS AMOR E MAIS CARINHO PORQUE ASSIM COMO ELES UM DIA, OS PAIS NÃO TEM TEMPO, POIS, TEM DE TRABALHAR E CORRER CONTRA O TEMPO.
NÃO NOS DAMOS CONTA QUE NÃO PRECISAMOS CORRER TANTO ASSIM PORQUE NESSA CORRERIA PERDEMOS OS MELHORES TEMPOS DE NOSSAS VIDAS E AO OLHARMOS OS RETRATOS, PERCEBEMOS QUANTO TEMPO JOGAMOS FORA COM FUTILIDADES, OU SEJA, GASTAMOS O NOSSO PRECIOSO TEMPO EM VÃO. O QUE SERÁ QUE TEREMOS PARA APRESENTAR A DEUS QUANDO ESTE NOS COBRAR CONTAS DO TEMPO QUE NOS DEU DE GRAÇA?

Paulo Xavier disse...

Coincidentemente, hoje encontrei-me com uma amiga de infância, ela entrando na casa dos 60 anos, viúva, ainda conservava alguma beleza da sua juventude e a elogiei por isso. Filosofamos, falamos bem da vida e mal do tempo que nunca nos espera. Relembramos da Macaé romântica antes do advento da Petrobras e demos graças a Deus por ainda estarmos vivos e com saúde.
Quanto mistério em tudo, e quanto mais o homem tenta se aprofundar na busca pelas respostas, mais ele se perde nesse emaranhado de informações.
Chegando em casa, bateu o saudosismo e fui ouvir a música "O tempo" de Reginaldo Bessa, de um Festival do final dos anos 60 ou início de 70. Nela o compositor diz: "O tempo não apita na curva, não para no porto, não espera ninguém". Linda essa música!
E assim vamos seguindo rumo ao desconhecido.
Parabéns Cel Larangeira por mais um belo texto.