sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O caso Rocinha/Vidigal/São Conrado II

A “linha do tempo” III



Fonte: O Globo, 27/08/2010


Toda vez que me vejo ante algum episódio polêmico, — abundante no noticiário policial e geralmente distorcido quando se trata da PMERJ (quando não há motivação para jorrar um lamaçal sobre a corporação alguns segmentos da mídia inventam pelo menos uns respingos de lama), — eu tento esclarecê-lo no meu blog. Claro que, atuando sobre os efeitos visíveis de algum acontecimento, os profissionais da mídia perseguem sempre “o transeunte que teria mordido a perna do cachorro”. Tudo bem, que assim seja! Mas não primam pela isenção...
O episódio da Rocinha emerge no dia de hoje (O GLOBO de 27/08/2010) destacando trecho de suspeitíssima entrevista gravada pela Rádio BandNews FM com um “refém” do Hotel Intercontinental, este que teria ouvido conversa entre criminosos dando conta de que os PMs do 23º BPM teriam recebido R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) para fazer “vista grossa” ao “bonde do tráfico e não teriam cumprido o acordo” (todos sabem que foi o contrário: a PMERJ fez “vista fina” e enfrentou os bandidos). Daí “a reação” dos bandidos... É mole? (Desculpem-me a repetição do verbo ter no futuro do pretérito. É proposital, aprendi lendo notícias de jornais...)
Pior é que a notícia estoura como bomba em página inteira, com um título bastante sugestivo e desmoralizante: “Extorsão na origem do tiroteio”. Enfim, a tal “extorsão” perseguida no caso do skatista retoma o espaço midiático ante a impossibilidade de sustentá-la para proteger o pai do atropelador de Rafael Mascarenhas. E não é difícil observar a ambiguidade da matéria, que afirma e desmente o que publica num emaranhado de informações respingadas de lama eu suas entrelinhas a formar o pretendido lamaçal...
Mais sintomático, e com forte indício de armação, é que o tal “refém” teria sido ouvido na DP e nada disso declarara. Como pode ele surgir depois, em anonimato, para plantar acusação tão surreal, mas capaz de ofuscar a realidade? Aliás, o linguajar do tal “refém” não me parece típico de “refém”, mas corriqueiro entre bandidos. Demais, ele comete “atos falhos” importantes na entrevista (“sabe demais”). Cá pra nós, em sendo apenas “refém” (é desnecessário dizer como ficam reféns diante de ferozes bandidos armados de fuzil), como é que ele “viu” mais que todo mundo e “gravou na memória” tantos detalhes? Que fenômeno!... Ele se coloca como observador privilegiado e simultâneo de traficantes, reféns e PMs. Que frieza!... Afinal, qual era a condição dele durante o episódio, já que se refere aos reféns sem se colocar como um deles?...
Estranho... Creio que já vi esse filme antes, em 1993, no transcurso das conspirações após um tenebroso crime que está para completar 17 anos sem que os autores e culpados tenham sido verdadeiramente singularizados e punidos. Enquanto isso, muitos inocentes amargam até hoje a “injustiça perfeita” da máxima socratiana: “A injustiça perfeita, tanto nos estados como nos indivíduos, tem efeitos funestos para eles.” Ah, não tem jeito! É assim desde os velhos tempos, o que sugere lembrar o estudioso Nicola Framarino Dei Malatesta (A Lógica das Provas em Matéria Criminal, Conan Ed., 1995, Vol. II, pág. 36):

“Mas se as coisas não podem ser falsas por si mesmas, podem ser falsificadas pela obra do homem, que maliciosamente é capaz de imprimir nelas uma alteração enganadora, naquelas determinações de lugar, tempo ou modo, que constituem a subjetividade formal da prova material; e o investigar se a coisa é ou não falsificada, pertence à avaliação subjetiva, enquanto tende a fixar credibilidade subjetiva da coisa probatória, isto é, a estabelecer se a coisa material se apresenta com a missão subjetiva de provar o verdadeiro que vem da natureza, ou se, ao contrário, vem da malícia humana, modificada para produzir uma falsa verificação, especialmente para enganar.”

3 comentários:

NEIDE disse...

REALMENTE ESSE FATO ME LEMBROU OUTRO NO PASSADO ONDE USARAM UMA TESTEMUNHA, SE É QUE ASSIM SE PODE ADMITIR, SEM NEM AO MENOS LEVANTAR NO MOMENTO SUA FICHA QUE NÃO ERA NADA CURTA, E LHE DERAM TOTAL CREDIBILIDADE, JÁ QUE O MAIS IMPORTANTE ERA ACUSAR UM CERTO COMANDANTE(CORONEL) E SUA EQUIPE. GRAÇAS A DEUS, COMO NÃO ESTAVAM LIDANDO COM QUADRÚPEDES, A VERDADE VEIO A TONA NÃO INTERMÉDIA DA AJUDA DE NINGUEM ALÉM DOS PRÓPRIOS ESFORÇOS DOS ACUSADOS. O TEMPO PASSA E OS FATOS SE REPETE. QUE FAZER? ENQUANTO A CRUCIFICAÇÃO POLICIAL VENDER BASTANTE JORNAL E DER IBOPE NA MÍDIA, QUE IMPORTA QUEM TEM CULPA OU NÃO? ESSE É O NOSSO BRASIL....

Anônimo disse...

...dá nojo e o pior é que tem gente que ainda consegue ler essa porcaria e aceitar isso como verdade. Mas como diz um amigo meu...esse tipo de matério só dura um dia...sai de pauta porque é "não chega a ser picaretagem" mas não deixa de ser uma " meia verdade,se quisermos pensar que a fonte não era de todo "segura".

Anônimo disse...

REUNIÃO NA CBPM DANDO POSSE A CORONÉIS

COMUNICO AOS ASSOSSIADOS DA CBPM, QUE NA DATA DE 02/08/2010 AS 09:00 HS, NA SEDE EM MADUREIRA, SERÁ OFERECIDO PELO CEL. PM PEDRO CHAVARRY UM COKTEL PARA OS CORONÉIS DA POLICIA MILITAR/RJ DANDO A ELES A POSSE PARA ADMINISTRAR AS COLÔNIAS DE FÉRIAS DA CBPM.

OS ASSOCIADOS INSATISFEITOS POR NÃO RECEBEREM OS SEUS PECÚLIOS EM DIA, PODERÃO COMPARECER E SOLICITAR ESCLARECIMENTOS DESSA CÚPLA QUANTO A FALTA DE PAGAMENTOS DOS PECÚLIOS.