sexta-feira, 23 de julho de 2010

Sobre o relacionamento da PMERJ com a mídia


Quando o povo vê a PMERJ nas ruas não tem ideia do que acontece com ela durante as 24 horas em que seus efetivos se revezam em diversos serviços e lugares do RJ. Em São Paulo, a BAND estimula o conhecimento popular sobre a utilidade da PMSP acompanhando ocorrências e noticiando resultados geralmente positivos. Mais importante: a PMSP permite que PMs de serviço falem à imprensa sobre o que fizeram, propiciando a divulgação de suas ações em tempo real. Esta parceria, longe de ser temerária, estimula a prática do bom serviço e da permanente boa notícia, muita vez em horário nobre. Ganham a PMSP, a imprensa e a sociedade, porque, ao constatar as boas ações da PM, os cidadãos sentem-se mais seguros nas ruas independentemente da inevitável violência que assola os grandes centros urbanos. Sim, a sensação de segurança proporcionada pela saudável interação PMSP/mídia põe o crime no seu lugar devido (exceção), com o predomínio da sensação de segurança na tessitura social (regra).
Ora, no mundo inteiro o crime existe como exceção. A regra é a ordem pública como geradora da sensação de segurança. Tanto uma (ordem pública) como a outra (sensação de segurança) passa por avaliações subjetivas, de natureza psicossocial. Quando o cidadão sabe estar num ambiente policiado e ativo, vai às ruas com menor preocupação. Um ou outro cidadão pode ser vítima de crime, sim, mas é de sua difusão sensacionalista que emerge a sensação de insegurança. Daí a importância de atender prontamente aos profissionais de imprensa, deste modo contribuindo para a geração de notícias completas e transparentes. Para tanto, — e como ocorre em São Paulo, — o PM deve colaborar com a imprensa ao vivo e a cores. Não é assim na PMERJ, que parece ver essa corriqueira interação como um risco a mais.
Não sei por que temor a PMERJ impede o PM de interagir com a imprensa. Será que o PM paulista é mais preparado para dar entrevista específica sobre o resultado positivo de uma ação por ele conduzida? Quem melhor que ele pode ilustrar para a imprensa o fato a ser noticiado? Nas inúmeras vezes em que acompanho as entrevistas de patrulheiros na telinha da BAND, os PMs paulistas saem-se muito bem. São tranquilos: agem e falam profissionalmente, sem quaisquer sintomas de vaidade. Marcam pontos positivos desbaratando o crime e enaltecendo a imagem da PMSP.
Penso que, se os PMs do RJ não dão entrevistas imediatas sobre suas ocorrências, deveriam ser treinados e autorizados a fazê-lo. Porque é certo que a imagem da PMSP é positiva por conta da oportunidade que dá à imprensa de informar ao telespectador ou ao ouvinte sobre o que ocorre no ambiente em tempo real. Aqui no RJ a imagem da PM é negativa exatamente pelo inverso. Não podendo falar com a imprensa, sobra para esta a divulgação incompleta da notícia. E, por conta dessa tola desatenção, sobreleva na notícia o aspecto ruim (a falha) das ações policiais. Está certa a imprensa: recebe migalhas de quem lhe “paga mistério” e lhe dá o troco. Por isso a PMERJ perde todos os rounds de uma luta na qual poderia sagrar-se vencedora, bastando imitar a PMSP.
A PMERJ, na verdade, comporta-se como “sistema fechado” com a imprensa, abrindo-se apenas para dar explicações incômodas sobre algumas falhas ou “pedir desculpas”. Aliás, isto é mote de políticos loquazes para se livrarem de suas responsabilidades diretas, transferindo-as para baixo. E a corporação somente piora a sua imagem, e quem cuida de mais danificá-la é a mídia desinformada, enraivecida e sem alternativa senão a de divulgar notícias ruins, generalizando-as tão brilhantemente que gravam nas pessoas a má impressão de que a PMERJ somente erra e jamais acerta.
Sim, claro! Se os acertos da PMERJ não são difundidos, como elegantemente faz a PMSP ao permitir que um simples soldado informe à imprensa o seu feito positivo, gerando e mantendo uma boa imagem corporativa, a tendência da PMERJ é a de apanhar pancada midiática a torto e a direito. Cá pra nós, não está passada a hora de imitar a coirmã paulista? Porque, se os dirigentes da PMERJ (oficiais) não confiam nos seus policiais, pondo-os como autênticos surdos-mudos nas ruas, como a população confiará neles?

Um comentário:

Paulo Xavier disse...

É fato que a população em geral não toma conhecimento dos bons serviços prestados pelas nossas polícias estaduais (Civil e Militar); porém qualquer fato que venha a denegrir a imagem dessas instituições, vira manchete dos jornais, como temos visto ultimamente.
Conheci ótimos policiais, destemidos, atuantes, com o currículo cheio de prisões de perigosos bandidos, tendo abatido outros tantos em resistência a tiros nas respectivas prisões, que só viraram notícias de jornal quando caíram em desgraça; ora se envolvendo em morte de inocentes nas incursões, ora saindo ferido gravemente, ora indo a óbito, ora sendo acusado de desvio de conduta muitas vezes injustamente, por pura vingança de bandidos ou de seus parentes. Esses fatos narrados criam freio e receio na maioria, que muitas vezes prefere errar por omissão do que se expor nessa árdua missão de fazer polícia.
De vez em quando lemos nos jornais, a quantidade de policiais mortos ou expulsos durante o ano tal, mas jamais vimos a quantidaade de bandidos presos por essa mesma polícia e olha que são dezenas de milhares. Jamais lemos a quantidade de partos feitos no interior das viaturas policiais. Quantos bebês abandonados nas lixeiras foram resgatados por esses heróis anônimos? Não sabemos, não vale a pena publicar esses fatos.
Cel Larangeira, estamos diante de mais um fato que merece reflexão por todos os segmentos da sociedade. Ou se noticia tudo, ou não se noticia nada.