segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sobre a morte estúpida de Wesley


Há momentos em que necessito da solidão. Sem ela, eu não falaria comigo mesmo para tentar me responder a mim sobre os meus dilemas. Não vejo a solidão como distância do outro ou saudade de alguém. Para mim, o solilóquio é indispensável à compreensão do meu espírito, e ele somente é possível quando estou só. Não se trata de isolamento egoístico, mas de exercício mais aprofundado do pensar e do sentir. Gosto das vozes a minha volta, do sorriso de uma criança, e de frases que valem uma biblioteca. Como gosto! E me angustio ao ouvir o clamor que brota do sofrimento máximo de alguém, e, quanto mais natural ele for, maior o seu valor objetivo.
Agora me ponho só e angustiado. Afinal, sou pai, bem como muitos PMs que participaram da ação em Costa Barros que terminou em tragédia também o são. E decerto estão sofrendo bastante com a fatalidade que ceifou a vida de uma criança. Sublinho isto para lembrar a todos que o PM é um ser humano como qualquer outro. Sente medo, chora, ama, e se arrisca contra criminosos porque crê no que faz em benefício da sociedade e dos cidadãos. E muitas vezes ele morre, é ferido e costuma pagar caro por seus erros involuntários. Enganam-se os que imaginam que o PM é autômato dentro do invólucro estatal chamado “farda”. Há, provando o que digo, milhares de crianças órfãs de PMs mortos em serviço.
Estou, sim, vivenciando a angústia devido ao desabafo do pai do menino Wesley, pela tevê, ao vivo e a cores, no seu primeiro momento de reação. Porque ele viverá a pior solidão: a da saudade de um ar para sempre vazio do seu filho. Esse pai disse em aproximadas palavras que não lhe importava se o tiro que matou seu filho tenha saído da arma de policial ou de traficante. Tem razão, a causa não mudará o efeito. Não cuidou o pai, no seu mais profundo sofrer, de irradiar ira contra um lado ou outro do confronto. Apenas questionou a violência como o grande mal a assolar as crianças faveladas. Ele perdeu o filho; a favela perdeu a criança, o colégio perdeu o aluno; o aluno perdeu a vida. A sociedade é insegura para as crianças, em especial para as crianças faveladas.
Cá pra nós, importa ao cidadão Ricardo Freire de Andrade saber quem disparou o tiro letal ao seu filho?... Por sua fala, ficou claro que não. Mas a mídia de conveniência (pupilos de Kane instalados no O Globo) não desiste e já instituiu o “pai-herói” em contraposição ao “coronel-vilão”, como se depreende da distorção da declaração do Coronel Príncipe em entrevista ao Jornal O DIA (concorrente), cujo teor integral será postado ao fim deste texto, juntamente com a matéria publicada no Jornal EXTRA (filhote de O Globo) e reproduzida no O Globo de hoje, 19/07/2010. Mas importa sublinhar o que o Coronel Príncipe realmente disse na sequência da sua longa entrevista ao Jornal O DIA, para ser comparada com a “insinuação global” abaixo:







“MORTE DE WESLEY

Eu lamento muito, claro. Mas não fui responsável por ela, meus policiais também não. Com a minha exoneração, o comando mostra que não assume a responsabilidade de seus comandados. Não foi a primeira vez que um estudante foi atingido naquele Ciep e o poder público nunca providenciou a blindagem do prédio. Estive no local, vi o que poderia ser feito. Abomino a morte de inocentes, mas isso, eventualmente, vai acontecer.’”

É verdade: crianças morreram antes, morrem agora e morrerão no futuro vitimadas pela mesma causa: o confronto entre traficantes armados para uma guerra e a polícia igualmente armada para guerrear, ambos sem saber como travar a bala no alvo pretendido ou mesmo se o acertará em precisão; porém todos sabendo que a bala do fuzil cortará o corpo-alvo e atingirá a criança que brinca em falsa segurança num ponto distante da escaramuça.
Sim, está certo o pai do menino Wesley: não lhe importa quem matou o filho dele. Nenhuma constatação de autoria ou culpa o trará de volta. Acabou. Para ele, pai, desfez-se o sonho de ver o filho viver e sonhar em ser feliz: mínima esperança de quem já sofre com a miséria e a violência no entorno de um lar empobrecido e inseguro: o lar favelado.
Ora, o Coronel Príncipe apenas constatou genericamente uma realidade. Não aceitou como “normal” em momento algum a morte da criança. Pelo contrário, lamentou. Portanto, é incabível a má intenção do jornal defensor do governante criar, dias depois, o falso contraste para desviar a atenção do foco principal: a violência do tráfico que tende a transformar o Brasil numa espécie de sucursal do México...
A frase do pai de Wesley fugiu do lugar-comum. Mas a mídia sensacionalista intenta aprisioná-lo ao clichê maliciosamente inventado (o falseado contraste entre o “pai-herói” e o coronel-vilão), aproveitando-se da justa indignação paterna, distorcendo-a e endereçando-a ao “coronel-vilão”: o “BODE”...
Ah, Estou angustiado. Sinto-me culpado. Foge de mim a razão; sobra-me apenas o sentimento. E aqui estou tentando uma saída para o dilema apontado pelo pai sofredor, que, em vez de se contentar com as desculpas oficiais, não as aceitou e apenas lamentou que o filho fosse vitimado pela insana violência. Não se importou com nenhuma causa específica, mas com a violência que assola a todos, e a morte de uma criança se torna “estatística” superposta por outra morte de criança no dia seguinte.
Assim declarou o pai de Wesley e tem sido assim desde antes e o será depois, como apenas constatou o Coronel Príncipe. A tragédia não é problema de agora nem a desculpa padronizada por uma sociedade acovardada e cúmplice do tráfico: a demanda que lhe garante o sucesso...
Sim, importa saber quem atirou e matou o menino?... Para quê?... Por quê?...
Identificar o autor e puni-lo é solução mínima ou nenhuma. Wesley não morreu de bala perdida, mas, como seus coleguinhas a sua volta dentro da sala de aula, foi perseguido por muitas balas que conscientemente ciscaram o ar em busca de outros alvos, até que uma delas o atingiu: a bala do confronto. Poderia ter sido o colega ao lado ou a professora ou alguém sonhando acordado em outra sala de aula ao ouvir uma fábula da mestra dedicada e geralmente mãe extremosa a transferir conhecimento e esperança aos seus pequeninos ouvintes... De repente, o tiro, o sangue, o pânico e a trágica morte danificando o espírito de uma geração de crianças. Meu Deus!
De um lado, os criminosos: traficantes armados até os dentes e certos da impunidade; do outro, a polícia: protetores da sociedade armados até os dentes e transmitindo mais insegurança que segurança. E no confronto entre rotos e esfarrapados supostamente representando o Bem e o Mal o resultado foi além do Bem ou do Mal: morreu a criança, na sala de aula, sonhando com o futuro de lápis na mão.
Situou-se o fato, portanto, no campo do absurdo. Por isso, o pai de Wesley tem razão: não importa quem matou seu filho, não têm sentido as desculpas oficiais nem a tentativa midiática de inventar um “duelo” entre o “coronel-vilão e o “pai-herói”; importa-lhe o absurdo vazio deixado pelo seu menino Wesley. Para sempre... Mas o desesperado pai deixou explodir um dilema a nos martelar sem resposta, pois as alternativas (tiro saído da arma do PM ou da arma do traficante) lhe são definitivamente ruins. Também para ele de nada adiantará o castigo-espetáculo do “bode expiatório”...

Oficial que liderou a operação afirma: ‘O Ciep é irrelevante'

Coronel Príncipe afirma que não errou ao realizar a ação que resultou na morte de aluno dentro da sala. 45 fuzis de policiais são apreendidos

Rio - Responsável pela operação policial nas favelas da Quitanda e Pedreira, em Costa Barros — onde o menino Wesley Guilber de Andrade, 11 anos, morreu atingido por tiro dentro da sala de aula do Ciep Rubens Gomes, na manhã de sexta-feira — o ex-comandante do 9º BPM (Rocha Miranda), coronel Fernando Príncipe, lamenta a morte dele, mas defende que as operações sejam mantidas: “O Ciep é irrelevante. Se não houver Ciep, haverá uma casa, uma fábrica. Mas o pior é não realizar operações”.

A Delegacia de Homicídios recolheu 35 fuzis de PMs dos batalhões de Rocha Miranda, Barra da Tijuca, Bangu e Santa Cruz, que participaram da ação. As armas serão confrontadas com o projétil calibre 762 encontrado no corpo do menino, compatível com o tipo de fuzil usado por PMs. Policiais civis fizeram perícia ontem no Ciep para calcular de que ponto partiu o tiro.

Wesley foi enterrado na manhã de ontem, no Cemitério de Irajá. No sepultamento, acompanhado por 70 pessoas, amigos da vítima e professores lembraram os momentos de horror. A professora do menino, Mariza Helena, foi a primeira a prestar socorro: “Quando ouvimos os primeiros tiros saímos da sala e nos posicionamos no corredor. Ali era um lugar que considerávamos mais seguro. Mas o tiroteio parou e voltamos para a sala de aula. De repente, ouvimos novos disparos. As crianças começaram a correr para fora, mas uma bala entrou na sala”.

Mariza contou que depois de ser atingido, Wesley ainda correu até o corredor. “Ele caiu no chão do corredor e começou a sangrar. Os coleguinhas gritavam pedindo que não deixasse ele morrer. Tenho 40 anos de magistério, 17 só nesta escola. Mas, depois disso, não sei se conseguirei voltar para a sala de aula”, desabafou.
Diretora da unidade, Rejane Faria passou mal no velório. “Tudo foi embora, todo o nosso trabalho. Me perdoa pai, me perdoa mãe”, lamentou ela no velório, aos prantos. Amanhã, as aulas no Ciep Rubens Gomes estão suspensas. Psicólogos e assistentes sociais da Secretaria Municipal de Educação se reunirão com professores e alunos, que vão vestidos de branco em pedido por paz.

Pai de Wesley, o comerciante Ricardo Freire cobrou a presença de autoridades do estado no último adeus ao filho. “Eles não se preocuparam porque os filhos deles andam de carros blindados e passam longe das áreas de risco”, disparou. O governo estadual arcou com o custo do enterro. “O tudo deles não é nada pra gente”, criticou.

Governador condena ação e pede desculpas à família

O governador Sérgio Cabral criticou a ação policial e pediu desculpas à família de Wesley: “Só se faz uma operação como aquela, com um Ciep funcionando, se for absolutamente impossível evitar. Não era o caso. É preciso pedir desculpas à esta família. Sou pai de cinco filhos e posso imaginar o que essa mãe, esse pai estão sentindo. A melhor maneira de homenagear o Wesley é continuar a luta pela pacificação.

Muito emocionados, os cerca de 20 funcionários do Ciep Rubens Gomes presentes ao enterro deram as mãos e formaram uma roda após o sepultamento para rezar. “Estamos muito tristes, mas temos que ser fortes. Que Deus conforte o coraçãozinho dos pais deles”, pediu uma professora.

“Nós fizemos tudo, tudo que era possível naquela hora”, disse o professor Felipe Ribeiro, que questionou a demora do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para o socorro.

Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil, o SAMU registrou uma ligação de socorro para Wesley, às 8h59. De acordo com a secretaria, ela cruzou com o carro que levava o menino para o hospital às 9h10, quando então conduziu a vítima até o Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes.

Pai impedido de levar corpo para o Recife

Nascido em Olinda (PE), Wesley era filho único de pais separados. “Ele veio de tão longe para virar estatística no Rio”, lamentou o pai, que desejava sepultá-lo em sua cidade natal.

Familiares do menino acusaram funcionários do Instituto Médico-Legal (IML) de não deixarem o corpo permanecer lá enquanto agilizavam a transferência do cadáver para Recife. “Nem no momento de dor somos respeitados.

Cheguei do Recife às 21h de ontem, mas o governo já havia preparado tudo e os responsáveis pelo IML negaram a permanência do corpo sob ameaça de despejo”, revoltou-se Luiz Carlos Freire, 36, tio da vítima.

A Polícia Civil negou que tenha apressado a liberação corpo.

“OU É ASSIM, OU NÃO FAZ”, DEFENDE CORONEL SOBRE OPERAÇÃO POLICIAL EM FAVELAS
Afastado do comando do 9º BPM, o coronel Fernando Príncipe Martins abre fogo contra o comandante-geral da corporação, coronel Mário Sérgio Duarte, em entrevista ao DIA. “Com a minha exoneração, o comandante-geral diz para os outros comandantes que eles devem privilegiar a omissão e a covardia, devem privilegiar o não fazer”. Príncipe diz que não errou e que a perda de vidas inocentes, “eventualmente, vai acontecer”.

OPERAÇÕES EM FAVELAS

"A operação foi necessária. Empresários da Fazenda Botafogo já haviam falado comigo que não aguentavam mais. A ação começou às 8h20, havia 100 homens comandados por um major. Tínhamos como alvos a comunidade de Final Feliz e os morros da Pedreira, Lagartixa e Quitanda. O bandido é inconsequente, faz disparos em qualquer direção. Tivemos que trocar tiros. Não há outro jeito de se fazer operação. Ou é assim ou, então, não faz. A Inteligência diz que o bandido ele está lá dentro (da favela). Temos que ir lá. O que a polícia deve fazer? Não fazer nada é prevaricação. O delegado Alzir (Roberto Alzir Dias Chaves, Superintendente de Planejamento Operacional da Secretaria de Segurança) me ligou e cumprimentou pela operação.Você não tem como alvo o Ciep.
MORTE DE WESLEY

"Eu lamento muito, claro. Mas não fui responsável por ela, meus policiais também não. Com a minha exoneração, o comando mostra que não assume a responsabilidade de seus comandados. Não foi a primeira vez que um estudante foi atingido naquele Ciep e o poder público nunca providenciou a blindagem do prédio. Estive no local, vi o que poderia ser feito. Abomino a morte de inocentes, mas isso, eventualmente, vai acontecer.”

TRABALHO NO 9º BPM

O 9º Batalhão, quando eu o assumi, era inoperante. Um batalhão de guerra não pode ter dois blindados baixados (fora de condições de uso), 40 fuzis inservíveis. Começamos a entrar em território em que a PM não ia. Claro que, nesses locais iríamos encontrar delinquentes bem armados. Mas era preciso fazer. Na semana passada, delinquentes da região atacaram uma cabine da PM e mataram um taxista."

EXONERAÇÃO

"Lamento que o comandante-geral tenha me exonerado antes de me ouvir. Ele tem a função de apoiar seus comandados e de ser justo. Foi como se ele dissesse que não importa se houve erro ou acerto, não importa quem tem razão, o que não pode é colocar em risco sua função. Depois da minha exoneração, como oficiais e praças vão agir? Terão segurança para pegar suas asmas sabendo que poderão ser exonerados? Pior é a desmoralização de um servidor público. Há 2 meses, ele (o comandante-geral) me apresentou um quadro crítico no 9º BPM; agora, ao me exonerar, ele diz para a sociedade que o oficial não é competente.

INDUZIDO AO ERRO

"Nunca houve orientação do comandante-geral para que eu não fizesse este tipo de operação. Ao me exonerar, me disse que sua política privilegiava as UPPs. Eu então afirmei que ele havia me induzido ao erro, não havia sido firme em sua orientação. Ao contrário: ao me empossar no 9º BPM, ele fez um discurso na linha do combate. Afinal, trata-se de uma área onde há 100 favelas. O comandante-geral não foi injusto comigo pessoa física, foi com os comandantes de batalhão.”

FUTURO NA PM

“Sob este comando, meu futuro na PM não deverá existir. Fui desmoralizado por um erro que não houve. Não acho que tenha condições de assumir novas funções”.
Por Diego Barreto, Fernando Molica e Thiago Feres
(Fonte: Jornal O DIA)

12 comentários:

Paulo Xavier disse...

Eis aí o fato esmiuçado por quem entende do assunto e tem sensibilidade bastante para tal.
Neste momento estou crendo que as forças policiais do nosso Estado estão se perguntando. E agora, como faremos? Nos omitimos, prevaricamos ou usamos aquele velho jargão muito ouvido nas casernas. "Ordem absurda não se executa".
Mais uma vez parabéns Cel Larangeira.

Anônimo disse...

Parabéns pelo artigo. Excelente. Retrata nossa realidade de incertezas e inseguranças ao exercer um Comando.
Esteves - Cel RR

Anônimo disse...

O Coronel Príncipe é com certeza o melhor e o mais bem preparado para os combates e liderança de tropa do Rio de janeiro. Mas foi mal informado ou ignorou o recado do comandante: nada de por em risco crianças e idosos caso possa ser evitado. O acaso da bala perdida nos ofereceu um menino morto, uma família despedaçada e dois caveiras feridos. Perdemos todos com isso.

Anônimo disse...

O Coronel Príncipe é com certeza o melhor e o mais bem preparado para os combates e liderança de tropa do Rio de janeiro. Mas foi mal informado ou ignorou o recado do comandante: nada de por em risco crianças e idosos caso possa ser evitado. O acaso da bala perdida nos ofereceu um menino morto, uma família despedaçada e dois caveiras feridos. Perdemos todos com isso.

Emir Larangeira disse...

Caro anônimo

O recado do comandante-geral sobre a cautela nas operações, cá pra nós, era desnecessário. Faz parte da responsabilidade de qualquer PM a cautela, inclusive e principalmente para não ser ferido ou morto. O procedimento de combate da PMERJ jamais será cauteloso com os PMs armados de fuzil (arma de guerra) para combater traficantes em favelas urbanas. Isto é falta de cautela do Estado, sim, que arma o PM com um fuzil cuja letalidade vai além de qualquer operação policial. Eu questiono isso. Será que algum PM sabe qual a velocidade inicial de um projétil de fuzil ou de qualquer outra arma e que dano poderá causar depois de disparado? Será que sabe a que distância a bala perdida se torna incapaz de ferir ou matar?
Prezado anônimo, quem pede a cautela é o mesmo incauto que dá a arma mortífera ao PM, exatamente a que irá matar inocentes: o Estado.
Tem razão quando diz que perdemos todos com isso. O dono do discurso (governante) compra o fuzil que mata a criança e diz qu o erro é da PMERJ. Lembra-me tempos atrás dois detetives em Duque de Caxias. Eles atiraram de fuzil num traficantes, acertaram o alvo, mas os projéteis trespassaram o corpo do bandido e foram matar dois inocentes a 1Km de distância. Eles chegaram a ser presos. É mole?

Anônimo disse...

Caro Emir Larangeira, não vejo o recado como desnecessário. Até porque são dois caveiras semelhantes na formação mas díspares em alguns entendimentos sobre o combate. Acho que esse foi o cerne do desentendimento. O desgaste pós dia 27/06/2007 seria preferível a morte de crianças e idosos pelo MS, eu acho. O acaso foi a triste morte do menino. Sinceramente espero que este triste episódio não ponha em lados opostos estes dois grandes caveiras tão importantes à cidade do Rio de Janeiro. Sobre os fuzis estes serão trocados por carabinas, pelo que eu saiba. Um cordial abraço.

Emir Larangeira disse...

É possível que eu não tenha clareado bem o meu raciocínio sobre a desnecessidade do recado. Pode ter a certeza de que eu não quis desmerecer o comandante-geral, o nosso Caveira 37, de quem sou assumido admirador. São muitas as ações que ele comandou com sucesso, ações perigosas como enfrentar o perigosíssimo traficante Flávio Negão, de Vigário Geral, matador de muitos PMs. O sentido do que eu digo é mais geral e o amigo acertou em cheio: a arma. Anseio por essas carabinas. O policial é melhor do que o bandido e irá vencê-lo usando uma arma mais apropriada ao confronto em zona urbana. O que me impresiona é que somente nesta operação trágica havia 35 fuzis nas mãos de PMs, ora recolhidos para exame balístico. Que arma substituirá esses fuzis? Vejo que o foco da minha sucessão de artigos é a má intenção de parte da mídia ao buscar um confronto entre dois Caveiras e, principalmente, entre o Coronel Príncipe e o pai de Wesley. Também concordo que é preferível não arriscar em ações que possam resultar numa tragédia como a do menino Wesley. Minha posição quanto a isso já foi retratada em 2001, na crônica que postei num desses artigos. Também não creio que o Coronel Príncipe tenha gostado de ver uma operação que tinha tudo para ser elogiada naufragar devido ao azar (seria azar?). Se não morresse a criança, o saldo da ação seria extremamente positivo. Preocupa-me, sim, a ambiguidade governamental posta no episódio. Não apaguei da memória o início do governo e dos sanguissedentos confrontos defendidos pelo governante e pelo mesmo secretário de segurança. Agora o mote é a "pacificação" concentradora de efetivos de modo permanente, na contramão da cultura operacional da PMERJ calcada na máxima frequência de um policiamento móvel no espaço social. O meu temor é com o futuro, pois não haverá efetivo para tal empreitada considerando a totalidade da população favelada e distribuída em mais de mil favelas dominadas pelo tráfico. Nem vou me referir aos desvios de conduta que decerto ocorrerão também nas UPPs. O "caldo social" de onde esses homens e mulheres foram recrutados é o mesmo. A estratégia moderna condena as tentativas de "escapar do presente". Ou seja, será que as UPPs não representam a oferta de um "futuro utópico", conforme nos ensinam os estrategistas contemporâneos ao apontarem os "gaps" (lacunas). Só como ilustração do que afirmo, segue um pequeno texto do livro (Um livro bom, pequeno e acessível sobre estratégia)de Chris Carter e outros: "(...) O plano promete futuros perfeitos à custa de presentes imperfeitos: é sempre um diagnóstico negativo da realildade atual; descreve a situação presente como imperfeita, negativa, em que falta uma coisa ou outra, a fim de prometer um futuro melhor, utópico..." (p.144).
Agradeço a valiosa contribuição do amigo e retribuo com outro cordial abraço.

Anônimo disse...

todos sabem tudo e os bandidos continuam aterrorizando, vendendo toneladas de cocaína e tudo que é ilícito detalhe de bermudinha e chinelinho de dedo, tênis de marca tirando onda.E o povo de la chama eles de meninos.

Anônimo disse...

todos sabem tudo todos cheios de cursos e os bandidos continuam aterrorizando, vendendo toneladas de cocaína e tudo que é ilícito detalhe de bermudinha e chinelinho de dedo, tênis de marca tirando onda.E o povo de la chama eles de meninos.
È guerra ou nada!!!

Anônimo disse...

Caro Emir Larangeira, aquela operação de captura ao Fávio Negão tinha tudo para dar certo mas ifelizmente o Sargento Brazuna foi morto nesta ocasião. Dias depois o tráfico matou quatro PMs que patrulhavam a favela. A chacina de vigário geral veio em seguida e condenou PMs que trabalhavam a quilômetros do local. São fatalidades que se não corrigidas podem gerar grandes tragédias.
Um abraço.

Emir Larangeira disse...

Prezado anônimo

Creio que há um engano da sua parte. Flavio Negão comandou a morte dos quatro PMs que resultou na chacina de Vigário Geral. O fato se deu em 29 ago 93. Antes (talvez um mês antes) ele e seu bando mataram também quatro policiais civis no Jardim América, local onde os policiais, da 39ª DP, foram para coibir um "pega". Segundo apurei na internet, Flávio Negão morreu em janeiro de 1995, em confronto com o BOPE, ação que resultou na morte do sargento Brazuna. Por favor, verifique no Google, bastando para tanto colocar o nome do traficante, para corrigir a cronologia. A chacina de Vigário Geral ocorreu em 31 de agos de 93. Como se vê, o bandido durou muito porque as operações em VG foram suspensas por bom tempo após a chacina.
Salvo erro, o comandante da operação do BOPE que se confrontou com a quadrilha de Flavio Negão era comandada pelo então tenente ou capitão Mário Sérgio, o nosso ilustre e digno Caveira 37.
Obrigado pela colaboração.

Abs

Anônimo disse...

Caro anônimo

Complementando a informação acima, nada melhor que o relato do próprio Cel Mário Sérgio, que pode ser lido no seu blog "Segurança Pública - ideias e ações". Com a maestria de escritor talentoso, o Caveira 37 narra o episódio com clareza, concisão e precisão, confirmando a minha informação anterior.

Abs.