quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sobre a morte de Rafael Mascarenhas




Hoje, 29/07/2010, O Jornal O Globo publicou artigo de Ciça Guedes, jornalista, com o título “Não culpem a vítima”. Reclama a articulista sobre alguns comentários “culpando” o jovem skatista Rafael Mascarenhas, vitimado por atropelamento num trecho de túnel interditado ao tráfego de veículos. Ciça Guedes está certa. Uma coisa é constatar que o local para a prática do skateboarding não era apropriado, porém sem apelar para extremos. Afinal, há riscos em quase tudo que é esporte e em algumas profissões, dentre elas a do militar estadual, que vai da possibilidade de ser injustamente acusado de crime ou ser morto em confronto. Também não são poucos os atropelamentos de policiais militares em locais interditados e por eles policiados. Eles morrem fardados por conta de culpa ou dolo de algum motorista, o que não faz diferença para quem morre nem minimiza a dor dos entes queridos. Enfim, fatalidades... Portanto, não se há de culpar o jovem por praticar o skateboarding num túnel interditado. Aparentemente, o local seria ideal à prática desse esporte outras opções, obrigando seus adeptos a improvisar e até se arriscar em vias de tráfego intenso, comportamento que já se integra à paisagem do Rio de Janeiro e algures. Não foi o caso de Rafael Mascarenhas. Ele buscou um local que lhe pareceu seguro e decerto não era interdito ao seu esporte favorito. Mas estava proibido ao tráfego de veículos, e, aí assim, o atropelador lá se enfiou em alta velocidade, pondo em risco a vida alheia. Risco calculado, pois, no mínimo, haveria de haver trabalhadores empenhados em algum reparo geralmente feito em horário de tráfego menos movimentado para não transtornar ainda mais o caótico trânsito do Rio.
O foco de Ciça Guedes desloca-se, então, para a irresponsabilidade do empresário Roberto Bussamra, compatível, aliás, com a do seu filho atropelador. Mais que a insensatez do pai, a jornalista lhe sublinha a “frieza” em ações posteriores, tentando rapidamente reparar as avarias do carro assassino (prova do atropelamento em alta velocidade), decerto pensando em salvar a pele do seu inconsequente filho. Daí a sucessão de ações mui bem pensadas no sentido de desfazer o dolo do atropelamento, dentre as quais a aleijada história do concerto entre a família e os PMs (ou extorsão), já atolada na lama de versões alteradas conforme o andar da carruagem... Sim, a versão desfavorável aos PMs, imediatamente adotada como verdadeira (sem qualquer contraditório por parte dos acusados), embora a sequência do comportamento paterno sugira seu enquadramento em crimes vários e não apenas na corrupção ativa, algo a ser apurado em processo administrativo e criminal.
Na sua primeira alegação, Roberto Bussamra alega ter dado mil reais aos PMs, ocultando cinco mil no outro bolso, de um total de seis mil retirados de caixa eletrônico (era madrugada). Seis mil reais retirados dum caixa eletrônico de madrugada? É possível realizar esta operação bancária? Bem, não sei, mas essa história do suborno (ou extorsão), cheia de voltas, viravoltas e reviravoltas, depende apenas de crença nas afirmações do mais interessado em tumultuá-la para aliviar o filho de indiciamento mais grave: o crime doloso. Quanto aos PMs, não se sabe ainda qual será o contraditório deles, não se podendo descartar terem sido influenciados pela eloquência do empresário. Por outro lado, isto é igualmente inaceitável em se tratando de policiais. Difícil, então, será explicar o estranho roteiro da viatura, a não ser que tenham sido convencidos a escoltar o endinheirado empresário até o lanterneiro, cujo serviço de emergência, e diante da situação, teria de ser bem remunerado e à talvez pago à vista. Só como hipótese, para não dizerem que tento acobertar os PMs (apenas defendo o direito deles à ampla defesa e ao contraditório, que só podem acontecer no decurso do devido processo legal), de madrugada, uma boa cantada, uma escolta benevolente e uma gratificação por conta disso não podem ser descartadas, desde que os PMs não soubessem o que houvera antes... Mas, com as pressões da mídia e o coro das autoridades contra a dupla, poucas lhes serão as chances de provar que não foram corrompidos (há muito “batom na cueca”), não sendo digerível, a meu ver, e apenas em tese, a versão da extorsão... Ora, como pode o pai se colocar como “vítima”, se ele com os filhos conduziram o carro ao lanterneiro?... Os PMs os obrigaram a isto?... Ora, ora!...
Creio que a reconstituição cronológica dos fatos, incluindo o socorro à vítima para se saber se houve a presença simultânea da ambulância e da patrulha no local, será vital ao esclarecimento da verdade. Também saber em que momento e por quem a patrulha foi acionada é fundamental, independentemente de versões, sendo certo que até agora tudo se resume ao interesse da mídia e das autoridades públicas que lhe são circunflexas em culpar os PMs, situação tão constrangedora e aberrante que até incomodou o jornalista Zuenir Ventura. Ah, o foco irado da mídia contra os PMs está a sugerir que algo não anda bem entre a publicidade governamental e seus beneficiados midiáticos: um problema comercial... Seria, por acaso, atraso no pagamento dos serviços publicitários governamentais? Ou a mídia espertamente aproveita o episódio para “demonstrar isenção” quando rasga elogios às UPPs. Aliás, a décima UPP foi inaugurada, perfazendo assim o atendimento, salvo erro mínimo, de 1% (um por cento) apenas do total de comunidades carentes dominadas pelo tráfico ou por milícias. Que percentual significativo, hein?...
Muito bem, a partir de hoje começa a funcionar a defesa dos PMs, pelo menos de um deles, como foi possível assistir na telinha, e o contraditório promete surpresas, o que se deduz pelas contestações iniciais de um advogado. E enquanto o embate se fixa na “corrupção policial”, a mídia finge esquecer o fato mais grave: a morte do jovem Rafael Mascarenhas, crime que deveria ser a locomotiva dessa viagem que se inicia aos trancos e barrancos. Porém, e como insinuou o jornalista Zuenir Ventura, só não cabe acusar os PMs pelo homicídio. Cá pra nós, tivesse a imprensa um fiapo de indício, já estariam os PMs sentenciados e executados em mais um “castigo-espetáculo” aplaudidíssimo por elite e povoléu estimulados como nos tempos das tenazes medievais e das confissões mediante tortura, tão irresistíveis que os acusados preferiam confessar o que não eram ou faziam para receber o prêmio da morte rápida e ganhar os céus...


3 comentários:

Anônimo disse...

Tudo que se fala na mídia a respeito dos acontecimentos criminososos, estão virando circo. A sociedade não aguenta mais. A culpa é dos governos Estaduais, que fica assistindo de camarote, é o medo de perder votos. No caso do RJ, virou novela com artista da globo e tudo. O mundo esta virado.
O espírito do Rafael com certeza esta sofrendo. Misericórdia SENHOR!

Anônimo disse...

ENQUANTO A CONSCIÊNCIA DO VALOR A VIDA DE QUALQUER SER HUMANO, SEJA ELE FILHO DE ATOR OU NÃO, NÃO FOR DEVIDAMENTE RESPEITADO, HAVERÃO SEMPRE "PAIS" AJUDANDO E INFLUENCIANDO A IMPUNIDADE DOS ERROS DE SEUS FILHOSE ESTES POR SUA VEZ O FARÃO PELOS SEUS E ASSIM SUCESSIVAMENTE, TENTANDO PREENCHER COM O DINHEIRO O LUGAR DA HONESTIDADE, DO CARATER E DA MORAL. MAS AFINAL, ACHO QUE ELES DEVEM SE PERGUNTAR: O QUE SIGNIFICA DIGNIDADE MESMO? CARATER? MORAL? ENGRAÇADO! NO DICIONÁRIO QUE "PAPAI" ME DEU NUNCA VI ESCRITO TAIS PALAVRAS... MAS "PAPAI" NÃO ESQUECEU DE DIZER QUE O DINHEIRO EXISTE PARA COMPRAR QUEM EU QUISER E AQUELE QUE NÃO QUISER, EU VIRO O JOGO E MESMO ASSIM EU SAIO IMPUNE COLOCANDO A CULPA EM ALGUEM PRESENTE NA HORA DO FATO. É SIMPLES ASSIM... E PENSANDO BEM, NÃO É ASSIM QUE A MÍDIA FAZ. PARA ESCONDER OU ABAFAR UM CASO, COLOCA-SE OUTRO NO LUGAR. NO FINAL, TUDO ACABA EM PIZZA. DAQUI A POUCO SÓ VAI FALTAR COLOCAREM OS POLICIAIS AO VOLANTE DO CARRO E ATRIBUIR-LHES A AUTORIA DO ATROPELAMENTO.

NEIDE disse...

APENAS REINTERANDO MEU TEXTO ACIMA QUE ALIÁS SAIU COMO ANÔNIMO POIS, DEVO TER MARCADO ALGO ERRADO NA HORA DO ENVIO. NÃO TEM PORQUE NOS COLOCARMOS COMO ANÔNIMOS NUM CASO REPUGNANTE DESSES. E CONTINUA-SE A ASSISTIR A CONDENAÇÃO PRECOSSE DE POLICIAS MASA NÃO SE HOUVE DIZER EM MOMENTO NENHUM O QUE VAI ACONTECER COM O VERDADEIRO CRIMINOSO. é VERGONHOSO LIGARMOS A TV E OUVIRMOS SEMPRE AS EMSMAS ALEGAÇÕES DO PAI, DOS ADVOGADOS MAS EM MOMENTO NENHUM RELATAM O DESTINO DO RAPHAEL 2. sERÁ QUE REALMENTE O DINHEIRO VAI MAIS UMA VEZ FALAR MAIS ALTO? pELO QUE EU SEI O AUTOR DO CRIME NÃO É MENOR ENTÃO POR QUÊ NÃO O COLOCAM DE FRENTE AO INVÉS DO PAI? SÃO PERGUNTAS QUE COMO SEMPRE O POVO FAZ MAS FICA SEM RESPOSTA E CAEM NO ESQUECIMENTO.