quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sobre "Os supostos" de Zuenir Ventura


Tenho como leitura obrigatória os textos de Zuenir Ventura. Li suas obras “Cidade Partida” e sobre um dos sete pecados capitais (ele romanceou magistralmente sobre a inveja): obras-primas. A cada reflexão que ele faz, sobrelevam o tirocínio do gênio e o cidadão comprometido com a verdade antes de emergir o jornalista. Ou o contrário, tanto faz, importa a mensagem crítica que se contém em suas poucas linhas jornalísticas, porém com a densidade de um compêndio. A de hoje, que ele intitulou “Os supostos”, desde muito precisava brotar da pena de alguém com a legitimidade dele, incontestável em todos os sentidos. Realmente, para a cautelosa mídia todos são “supostos criminosos”, por mais bárbaros e comprovados tenham sido seus crimes. Talvez os processos de danos morais tenham produzido esta cultura do viés informativo ao qual se acrescentaria o verbo sempre no futuro do pretérito: “fulano teria cometido o crime”, “beltrano teria roubado o carro”, “sicrano teria envenenado a mulher”...
Porém, quando se trata de denúncia promovida pelo Ministério Público, com base nos indícios de algum Inquérito Policial deflagrado pela PCERJ, ou de algum IPM instaurado pela PMERJ, os promotores e procuradores de justiça não fazem suposições. Em contrário, acolhem os indícios e afirmam categoricamente que alguém é criminoso, mesmo não o sendo. E, ao final do processo, “lamentam” não terem provado aquilo que tenebrosamente afirmaram contra alguém, e dificilmente concluem que o acusado fora por eles levado à condição de erradamente réu, eis que erradamente denunciado como concretamente criminoso. Nada de vieses... Nesses casos, o pretérito é perfeito...
Nesta confusão de tempos verbais quem sofre é a vítima. A uma porque um inocente responde pelo crime que não cometeu, tornando-se a segunda vítima, agora do sistema; a duas porque o verdadeiro criminoso desde muito bateu pernas para longe ou permaneceu na obscuridade de uma investigação falha e de uma denúncia errada. Mas aí a culpa é do Estado, entidade impune que assume os riscos dos seus burocratas. Fosse este país lugar sério, a falsa opinião tornando réu um inocente deveria pôr na cadeia os seus autores. Mas não tratamos de país sério, falamos de um Brasil das “cidades partidas” em casa-grande e senzala, país ainda dos “senhores de engenho” e dos “escravos”, entre aspas porque, neste andar dos carros de boi, todos são apenas “supostos”, que eu cá não sou bobo...

Um comentário:

Neide disse...

NA REALIDADE ,DESDE QUE O MUNDO É MUNDO, A "SUPOSTA AUTORIDADE" TEM COMO ESCUDO A FRASE DE QUE: ELES NÃO ERRAM, SIMPLESMENTE SE ENGANAM E COMO ERRAR É HUMANO.... ENFIM, PASSAM-SE ANOS E MAIS ANOS E O PROBLEMA SE REPETE COMO UMA DOENÇA DE CARATER DEGENERATIVO. QUANDO ISSO VAI TER FIM, A MEU VER, NUNCA! QUEM ESTÁ DENTRO NÃO QUER SAIR E PASSA A MAIOR PARTE DO SEU TEMPO QUE ALIÁS É PAGO POR AQUELES A QUEM OS MESMOS DENIGREM E OS LANÇAM MUITAS VEZES EM CÁRCERES IRREVERSSÍVEIS, MAQUINANDO MEIOS DE OBTER LUCROS E FAMA, USANDO O SUPOSTO RÉU, OS QUAIS MESMO DEPOIS DE ABSOLVIDOS, CONTINUAM PRISIONEIROS DA PIOR PRISÃO QUE É O SEU CONSCIENTE ONDE O ARQUIVO É INDESTRUTIVEL POR MAIS QUE SE PASSEM DÉCADAS E MAIS DÉCADAS.
EM SUMA, ESTAMOS SOZINHOS E DEVEMOS FAZER USO DE NOSSA FORÇA INTERIOR PARA NUNCA CAIRMOS EM MÃOS ERRÔNEAS, SE É QUE SE PODE EVITAR NOS DIAS DE HOJE ONDE NÃO SABEMOS QUEM É QUEM.