domingo, 30 de maio de 2010

Sobre a retórica jornalística das UPPs

É impressionante a submissão de parte da grande mídia do RJ ao poder econômico estatal. É tanto descaramento que até me enoja comentá-lo. Porém, não o posso deixar de fazer como “cidadão-PM” ou como “PM-cidadão”, tanto faz, porque o nojo é o mesmo que sinto por essa subserviência remunerada. Reflitam, caros leitores: num dia em que O Globo estampa em manchete de primeira página a notícia do julgamento do casal Garotinho, com a nítida intenção de desmoralizá-lo em benefício do concorrente que governa (ou desgoverna) o Rio de Janeiro (ele não diz que governa o “Estado” do Rio de Janeiro), emerge das entranhas fedegosas da Comunicação Social estatal uma publicidade de página inteira exaltando as UPPs. E, se não bastasse o caradurismo dos mentores da tramóia jornalística, novamente ressurge a UPP como “fator de desenvolvimento”: os imóveis em favelas com UPPs “quintuplicaram de valor”, conforme noticiaram. Claro que houve uma pitada de “isenção” para justificar a matéria dominical, segmento aparentemente gratuito da propaganda oficial anterior. No conjunto, não seria demais afirmar que os articulistas são hábeis na arte dos oximoros, são exímios construtores de paradoxismos ou de mentiras sinceras... Ora, esse pessoal finge que não sabe como estão mal instalados os PMs nos precários alojamentos das UPPs. Isto não lhes interessa, o importante é sublinhar o “belo” em meio ao terrível que jamais será denunciado por quem poderá receber no quengo a borduna do bugre regulamentar, solução rápida e eficiente para todos os problemas internos da briosa...
Sou assinante do Jornal O Globo porque, em meio a tanta subserviência, salvam-se alguns jornalistas independentes e outros tantos escritores que compensam o meu gasto. Mas, quanto às notícias, eu gostava mais do antigo estilo crítico e independente do jornal, embora ele jamais tenha deixado de ser “sistema”. Que saudade da boa imprensa! Que saudade do JB dos velhos tempos! Viva a Tribuna da Imprensa!... Porque não importa que a notícia seja cruel e até inverídica, desde que por culpa de má apuração ou de engodo saído do boquirroto estatal. Mas a notícia inverídica, escrita de propósito para enganar, é a verdadeira depravação do jornalismo, que deixa de ser jornalismo-verdade para ser jornalismo-mentira. Será que o povo é bobo?... Ou serei eu o asno da história? Ou estou louco e a ver fantasmas?... Bem, seja como for, o sucesso das UPPs pertence às autoridades de fora e de cima; quanto ao fracasso, se houver, que se prepare a PMERJ para bancar o prejuízo, porque este não será partilhado por ninguém do governo ou da mídia...

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