segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre as 40 UPPs do Dr. Beltrame

Fonte: O Globo, de 31/05/2010

Com todo respeito, é pungente o otimismo do secretário Beltrame. Lembra-me Cândido, personagem de Voltaire. Talvez o revertério colombiano (as pesquisas indicavam o contrário do que houve nas urnas) sirva para alertá-lo de que o atual governo se encerra no fim deste ano. Mesmo, porém, que o atual governante vença as eleições de outubro, e ele permaneça no cargo, duas restrições nem tão simples assim, há a realidade a ferir a ilusão dele. Ele promete criar 40 UPPs até 2014. O Jornal O Globo publica a fala dele dando-a como favas contadas. Não questiona minimamente o fato de que a turbulência ambiental neste mundo quântico não garante o sucesso eterno das 40 UPPs projetadas e fracassa desde logo na globalidade ante a inegável realidade de que existem somente na Capital mais de 600 favelas dominadas por tráfico ou milícias. Se somarmos as favelas situadas nos demais Municípios, os números sugerem que estamos vendo unicamente o sol e ignorando os “quintilhões” de galáxias e estrelas existentes no cosmo. Na verdade, e ignorando a infinitude do cosmo, eis um “chute de Copa do Mundo” que dou à vontade, porque nem os mais renomados cientistas sabem quantas galáxias e estrelas existem no Universo de Deus e jamais saberão.
Ora, tratamos de futuro incerto, e a boa estratégia neste campo de incertezas sugere no mínimo cautela. Não discuto a validade das UPPs, nome que poderia ser outro (e já foi outro) para essa operação policial (ou de combate a guerrilha) muitíssimo manjado por militares (conquista e ocupação do terreno, podendo até incluir administração do território ocupado, como acontece na informalidade do tráfico e das milícias, onde traficantes e milicianos são os “administradores”). Ficamos nós, entretanto, com a conquista e a ocupação policial (sem ocupação social), resumindo ambas ao sumiço das armas e ao tráfico praticado nos escaninhos favelados pelos mesmos traficantes agora seguros de que não receberão ataques de bandos rivais. Portanto, – e como o tráfico não foi nem será erradicado aqui ou no mundo, e ainda há as milícias, e apesar desses incômodos, – as UPPs tendem ao sucesso momentâneo e espero sinceramente que definitivo. Porque não é a qualidade operacional da PMERJ que questiono. A tropa é ótima, valente e prova isso morrendo diariamente, o que lhe dá também o direito à defesa prendendo, ferindo e às vezes, sem alternativa, matando bandidos sanguinários. Até este ponto, e tão otimista como o Cândido e o Beltrame, creio piamente que tudo vai bem. No fim de contas, o problema não são as 40 UPPs, mas as mais de mil favelas com igual direito a Unidades de Polícia Pacificadora. Significa dizer que precisaríamos quase que de todo o efetivo da PMERJ e mais o da Força Nacional de Segurança e ainda será pouco...
A questão que me ocupa a mente em ansiedade incômoda é a sua solução global, ou seja, saber qual seria a fórmula mágica a garantir indefinidamente no tempo a conquista e a ocupação de todas as favelas dominadas por tráfico e milícias: a UPP globalizada e eterna... Como materializar tal ilusão?... Ora bem, esgotado o otimismo (meu), antevejo-a com a mesma impressão de que um dia, – se antes o planeta Terra não sucumbir, – os terráqueos conhecerão algum “ET”, ou indo até eles vencendo a velocidade da luz e se enfiando em algum "buraco de minhoca", ou eles vindo até nós por meio de leis físicas por nós desconhecidas. Fiquemos, pois, enquanto a vida segue em indiferença, com o “espaço absoluto” de Isaac Newton, abominando a “relatividade” de Albert Einstein e o “princípio da incerteza” de Werner Karl Heisenberg, ou seja, com o ambiente natural e social em inércia até 2014...

Um comentário:

Celso Luiz Drummond disse...

Grande, Emir...
Sabe o que me faz desconfiar das tais UPP's... Em 1987/88 as operações Mosaico I e II encabeçadas pelo Hélio Saboya desarticularam grande parte do crime organizado no estado. Só que essas ações quase custaram a vida do ex. governador Moreira Franco, conforme ele relatou em entrevista ao jornalista Carlos Amorim, no livro CV, a história secreta do crime organizado.
É claro que as operações mosaico I e II não foram a solução definitivas, pois inauguraram um outro problema para o estado. Foi a época que o crime organizado nao obtendo mais lucros com o tráfico, resolveu migrar para o sequestro.
Porém o x da questão é esse? Sérgio Cabral e Beltrame estão entrando invandindo o território e não tem recebido nenhum tipo de ameaça? O Ricardo Gama chegou a divulgar no blog a suspeita de que o Beltrame e o Sergio Cabral sentaram-se com os chefes do poder paralelo, para firmar uma trégua até o final das olimpíadas de 2016.
Tem gente também que diz que uma das exigencias do COI é acabar com o Narcoestado.. enfim... ninguem sabe a verdade ao certo. O que sabemos é que o tiro saiu pela culatra.. e com as UPP's (e a consequente valorização dos barracos após a ocupação) as favelas estão aumentando e crescendo desordenadamente. O melhor exemplo é o Chapéu Mangueira no Leme. Desde a ocupação a favela vem avançando cada vez mais....
Outro exemplo é Tabajaras e Cabritos ambos até algum tempo eram uma favela só, de uns tempos pra cá ambas cresceram tanto que se juntaram.. agora é complexo do Tabajaras-Cabritos...