quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

"A árvore impede de ver a floresta" (provérbio alemão)

Fonte: Jornal O Globo de 24/02/2010

Na Legislatura de 1991-1994, fui deputado estadual no RJ, e meu líder de bancada era o atual governante Sérgio Cabral Filho (SCF). Naquela ocasião, ele, SCF, foi um dos baluartes do movimento pela extinção do Conselho de Contas dos Municípios (CCM). Esse movimento moralizador era apoiado pela mídia, que pressionava de todos os lados os defensores da manutenção do referido organismo que seria supostamente fiscalizador das contas municipais. Demais disso, a extinção do espúrio órgão era apoiada pela maior bancada da ALERJ, o PDT de Leonel Brizola, governante eleito pela segunda vez em substituição a Moreira Franco, este que governou o RJ no período da promulgação das Constituições Federal e Estadual, respectivamente 1988 e 1989.
Com efeito, a mobilização pela extinção do que chamavam “antro de marajás” era de máxima pressão. E muitos deputados que apoiaram o movimento moralizador e votaram pela extinção do CCM permanecem até hoje na ALERJ. Contudo, nota-se que alguns viraram a casaca e defendem a recriação do que antes abominaram. Já o governador SCF ainda não se pronunciou tão claramente a respeito do polêmico tema, deixando, por ora, uma tácita impressão de apoio à recriação do que antes rejeitara veementemente. Parece-me que dá uma de Pilatos...
O que teria mudado de lá para cá?...
Talvez fosse interessante que a sociedade organizada e a mídia observassem como se houve cada parlamentar no passado e compare com a atual posição deles. Deste modo, a máscara de alguns cairia em bom momento, pois as eleições estão próximas. Porque uma coisa eu posso garantir: o “canto da sereia” foi outrora quase que irresistível. E agora?
Bem, vê-se que a mídia está engolindo uma perigosa isca. Cuida de mostrar a árvore para ocultar a floresta. Basta ler a matéria referente, aqui reproduzida, para se perceber que o foco menor está ocultando o foco maior, que se resume ao perigo da recriação do abominado “antro de marajás”, esta que não pode ser ofuscada por situações pontuais de nenhuma importância contextual, como a obrigatoriedade de os prefeitos e vereadores informarem ao tal CCM os seus ganhos. Ora, a ideia é boa, mas basta ao Ministério Público apurar a evolução patrimonial de todos os detentores de mandatos parlamentares, de preferência comparando os patrimônios individuais de ontem com os de hoje. Ih, se o MP mergulhar fundo, será um escândalo!...

Um comentário:

Neide disse...

Será que realmente o MP não sabe que sempre existiu esse problema? Ou será que lhe é conveniente ficar inerte por algum motivo até mesmo que de repente um desses marajás é algum conhecido...O que acontece é que a isca é lançada, se o peixe for fisgado tudo bem, maravilha se não for, tudo não passou de um engano, de um mal entendido, aliás como sempre.Continuo afirmando: o povo tem a memória muitíssimo curta!!!!!!!!!!!!