quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Sobre as ocupações na zona sul





Generalizando a exceção

As ocupações, segundo a ótica interesseira do Sistema Globo, é sucesso absoluto (aplausos de pé!). Aliás, “nunca na história deste país” oficiais lotados nas ocupações receberam tantos espaços positivos na mídia, claro que jamais comparáveis ao negativo do capitão que, sozinho, superou todas as boas falas em razão das ocupações. Refiro-me ao episódio da jaqueta e do par de tênis ocorrido nas imediações da Praça Tiradentes...
Bem, que assim seja!... A novíssima afirmação operacional atende aos interesses imediatos e futuros da grande mídia residente na zona sul, e, por via de consequência, do governante, da secretaria de segurança e da PMERJ, que resolveram apostar todas as fichas políticas nas ocupações encetadas na parte chique da Cidade Maravilhosa. Agora a elite não mais vê tiros cruzados entre favelas dominadas por facções antagônicas e o povo rico tupiniquim e alienígena está feliz: garantia de votos e verbas de campanha e certeza de hotéis lotados.
Ocorre, todavia, que sob a ótica da prevenção primária as ações do governo e o trabalho operacional da polícia são iguais a zero. De repente, as ocupações passaram a ser início, meio e fim, panacéia para todos os males da violenta criminalidade instalada em centenas de favelas, ruas e vias expressas, porém tão exaltadas que parece não haver nenhuma outra favela dominada pelo tráfico, embora sejam mais de seiscentas comunidades carentes só na Capital. Enfim, como diz o ditado alemão, “a árvore impede de ver a floresta”. Porque as ocupações não passam de “árvores” em vista da “floresta” inalcançável pela medida operacional posta em prática como nos tempos medievos das conquistas e manutenção de cidadelas inimigas.
Impressionante é que a mídia tem o poder da multiplicação. Generaliza brilhantemente a exceção e os mandatários governamentais e seus dirigentes da segurança pública ficam possessos quando alguém questiona a mágica solução visando à Copa do Mundo e às Olimpíadas vindouras. Agem até jogando com a certeza de “muitas medalhas nas urnas” em 2010 e anos seguintes. Agem como se o eleitor periférico estivesse a engolir a isca do engodo esparramada pelos quatro cantos do Rio de Janeiro e não mais enxergasse com seus próprios olhos que em suas favelas vizinhas o tráfico vai bem, obrigado.

Por falar em ocupação, o próprio vocábulo não é lá tão feliz. No Aulete: “Tomada de posse ou invasão de um lugar: a ocupação da capital pelas tropas estrangeiras.” Na Enciclopédia e Dicionário Koogan-Houaiss Digital: “Ação de se apoderar militarmente de uma cidade, de um país.” Enfim, a conotação é deplorável, e tem lógica porque a tropa da PMERJ apodera-se das favelas sob o pretexto de conquistar o território do inimigo: o traficante. Tudo bem, que assim seja, mas é preciso saber com que fim, porque integrar a uma nova cultura as comunidades ocupadas lembra as invasões romanas e a imposição ao povo de sua cultura e de sua religiosidade, não sem um alto custo para os povos que resistiram à opressão romana.
Há de se questionar, até para ajustar as ocupações à realidade de todo o Estado do Rio de Janeiro, que estamos diante de exceções tornadas regras por pura conveniência política. Os discursos focados na “maravilha” chegam a ser impertinentes. Tentam pôr pele de leão em asno; impõem-nos cangalhas à larga, enquanto a violência se acirra em outros pontos (92 Municípios, todos com favelas). Ora, tratar a ocupação como tentativa de vencer o tráfico em determinadas cidadelas, mesmo que sejam para atender aos interesses econômicos da grande mídia, vá. Mas apresentar as ocupações como um “milagre” do “São Cabral”, atropelando a inteligência popular e o discernimento conceitual e prático da PMERJ como um todo, chega a ser demoníaco. Criar heróis momentâneos, como insiste o Sistema Globo (parece ser o único interessado... Por quê?), até estourar a próxima notícia ruim para exaltar o vilão-policial-militar é abusar da inteligência alheia. Mas, ao que parece, até 2016 o cardápio tende a ser o mesmo: ocupações “pra inglês ver”...


Asno em pele de leão

3 comentários:

Jeferson Cardoso disse...

Com licença, Sr. Emir; enviei em outra ocasião um comentário para o seu blog, pois ao ver uma foto neste fui movido pela empolgação e uni esta foto à um texto que compus. Tudo está em meu blog e data de 13.12.09. A postagem chama-se “Nós Humanidade!; gostaria de saber se o Sr. tomou conhecimento, e se acaso achar o uso da foto indevido eu a retirarei prontamente.
Atenciosamente: Jefhcardoso.

Rose Mary M. Prado disse...

Eu quero ver ocuparem o Complexo do Alemão e instalarem lá uma UPP. Aí eu vou levar a maior fé e acreditar que tudo poderá mudar para melhor!

paulo fontes disse...

Caro amigo Larangeira,
Do jeito como as coisas vão caminhando periga dentro de curtíssimo prazo vermos o efetivo da PMERJ transformado em autêntico exército brancaleono,uma tropra de mambembes, famintos, mal pagos, cansados,doentes e mal preparados.
A mídia não quer enxergar e informar ao povo que por trás desse projeto suicida do cabral, das ocupações realizadas pelas UPP'S, está sendo necessário reduzir o tempo de formação do Policial Militar que atualmemte já é deficiente.
Também não informam que o projeto UPP'S VISA CRIAR UM CINTURÃO DE SEGURANÇA NA ZONA SUL, isolando-a, para dar maior sensação de segurança com vistas a 2014 e 2016.
Quando abrirem os olhos será tarde e porque não fizemos nada não poderemos fazer mais nada.