quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sobre a proibição do Funk

"O Major Vidigal era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo que dizia respeito a esse ramo da administração; era o juiz que julgava e distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que dava caça aos criminosos; nas causas da sua imensa alçada não havia testemunhas, nem provas, nem razões, nem processo; ele resumia tudo em si; a sua justiça era infalível; não havia apelação das sentenças que dava, fazia o que queria, e ninguém lhe tomava contas. Exercia enfim uma espécie de inquisição policial.” (Memórias de um Sargento de Milícia - Manuel Antônio de Almeida)


Desde o tempo Del Rei e das capoeiras a plebe sofre perseguições policiais. Um máximo exemplo de vigilância e punição se concentrava na lendária figura do Major Vidigal, como nos informa Manuel Antônio de Almeida no seu clássico Memórias de um Sargento de Milícia, dentre outros romancistas e historiadores. A capoeira, espécie de luta nativa da África dissimulada em dança, traduzia uma latente revolta contra a opressão extrema a que eram submetidos os escravos: a plebe da plebe... A capoeira, malgrado a sua exteriorização lúdica, era válvula de escape dos oprimidos; mas era também arte (marcial ou dançada). Nos dois casos, a beleza dos movimentos predominava, mantendo-se a prática mui viva na tradição popular brasileira até os dias de hoje.

Nesta linha da “dança de protesto” com um misto de erotismo que se encaixa como luva na cultura popular remanescente da Senzala, emerge fortemente o Funk, vindo do mundo negro norte-americano para o mundo mesclado do Brasil – as duas Áfricas escravizadas. Mas o fato de aqui se denominar “movimento” sugere preconceito e associação a outro “movimento” (o de drogas). E cá estamos novamente na Senzala por vontade da Casa-grande, tal como representada pela truculência do major Vidigal. Casa-grande, aliás, notória consumidora de drogas em festas “rave” e praticamente em tudo que é boate de luxo, demais das festas particulares cujo objetivo é a orgia. Mas nesses lugares do “você sabe com quem está falando?” a polícia passa ao largo ou finge que nada vê. Exemplos gritantes de baderna desse gênero são as milionárias “micaretas” apoiadas por verbas públicas e patrocínios geralmente de fabricantes
de bebidas alcoólicas e cigarros.

Esse controle social descaradamente discriminador é, talvez, necessário para desviar a atenção da opinião Pública, e nada mais sugestivo que demonizar o Funk associando-o ao tráfico e ao uso de drogas. Paradoxalmente, as “patricinhas e os “mauricinhos” passaram a frequentar bailes Funk e namorar pés-de-chinelo, um problemão para a elite, que não consegue evitar o êxodo de seus filhotes para a periferia e áreas favelizadas onde geralmente são realizados os “endemoninhados festejos”.
Bem, como o motivo da discriminação não pode ser explícito, parte-se para a proibição do Movimento Funk sob o pretexto de que essas festas populares não passam de reunião de pessoas com o fim único de consumir drogas. Claro que parte da imprensa adota a ideia da repressão, em especial porque os filhotes de seus anunciantes se incluem entre as “patricinhas” e os “mauricinhos”. Deste modo sutil como patada de elefante tenta-se retirar a poltrona da sala para evitar a infidelidade geral.
Fui comandante do Nono Batalhão da PMERJ de abril de 1989 a abril de 1990. Muitos bailes Funk ocorreram naquela região abrangida pela Unidade Operacional em questão e eu jamais os desautorizei. Em compensação, eu os policiava preventivamente como se fosse um evento público qualquer, entendendo como direito das pessoas simples a participação no evento. Não havia bandidos armados nem consumo de drogas à vista da polícia, como ocorrem nas “micaretas”, festas em que a polícia prefere não se meter para evitar represálias dos poderosos que as organizam. Afinal, os policiais não passam de integrantes da Senzala a serviço da Casa-grande, e eles sabem disso.
Proibir bailes Funk é evidente discriminação, sim, o que a Carta Magna condena. Conceber-se o Funk como “movimento” a facilitar o tráfico e o uso de drogas, – esquecendo-se de que o mal igualmente acontece em iates, festas rave, embalos em boates, micaretas e quejandos, – significa consagrar a hipocrisia. Afinal, a pouca roupa, o álcool e o erotismo explícito rolam à larga em todos esses lugares.
Ora, o papel da polícia é primar pela defesa da igualdade de direitos. Porque, se houver o anúncio de baile Funk em qualquer lugar e a PMERJ ocupá-lo preventivamente, os traficantes não se arriscarão a ostentar armas em meio aos participantes, que, decerto, não querem morrer por conta de tiroteios. Desejam se divertir, o que lhes é de direito.
Portanto, não se pode simplesmente proibir a realização de baile Funk. Isto é ilegalidade a serviço da elite, e de nada adiantará à polícia manter-se no papel exigido pela elite que não deseja criar netinhos e netinhas de pele morena gerados por seus filhotes brancos, muitos deles (ou delas) viciados em drogas e amantes do Funk e de funkeiros com os quais “ficam”...
Curioso é que, escrito este artigo faz mais de uma semana, deparo no Jornal O GLOBO de hoje, 12/08/2009, com uma Opinião que abaixo transcrevo. Alvíssaras! Imaginava-me isolado em minha opinião e preparado para receber os petardos devidos. Talvez até ainda os receba, mas agora possuo um forte escudo a me garantir proteção. Vai então para o meu prelo particular!...

7 comentários:

Marcellus de Paula disse...

Cel esqueci de comentar no email que mandei ao senhor, foi feita uma listagem hoje na academia par que os cadetes escolham com qual comandante irão sentar a mesa no almoço dos 100 dias, eu escolhi Cmt do 9° BPM, será qeu fiz bem? rs, espero sevir lá e realizar um bom serviço.
Abraço

Anônimo disse...

Interessante vc dar esse tipo de tratamento ao Funk com toda essa riqueza historica. Mas quando falmos de Negros do Brasil, vc tem que ser um pouco mais FIDEDIGNO a nossa cultura. Pois além dos movimentos como a capoeira, temos os religiosos como a Umbanda e o Candomble, que as tais micaretas com apoio do poder publico, enaltece a cultura dos negros em nosso pais. A CONGADA ainda resiste BRAVAMENTE, sem nenhum apoio do poder publico e de nossos traficante. Que medo é esse da sociedade em ter seus filhos morndo em favela e enbvolvendo com pé de chinelos. Medo são dos funkeiros que nçao tem competencia em mudar nada como a juventude de 1964 que pegou em armas e nossos cantores da MPB enfrentaram a DIDATURA com suas letras de protestos. E os funkeiros o que eles transformam o que eles protestam o que eles cantam, pornografia, pedofilia, apologia ao crime. Vc então acredita no FUNK como movimento cultural, Ah não me mate de rir. A repressão só existe quando o abuso dos vagabundos ultrapassao limite da porta da BOCA DE FUMO , se fosse apenas comercio de drogas, mas é assassinto, estupro, latrocineo e outras coisas mais. C

Emir Larangeira disse...

Prezado Genro da Santa

Obrigado pela contribuição crítica acrescentando outros movimentos religiosos e culturais ao meu argumento centrado no FUNK. Somente foi assim porque era o assunto, o que não significa desmerecer as demais contribuições dos negros para a formação da cultura brasileira. Mas devo lembrar ao amigo que muitos movimentos musicais nos nefastos tempos da ditadura foram pacíficos. Destaco a Tropicália, inspirada no movimento hippye, nas artes plásticas de Helio Oiticica (parangolé), nas poesias de Torquato Neto e nas canções de Caetano, Gil, Gal, Tom Zé e Mutantes. Não foram as armas que venceram a ditadura, mas as ideias que motivaram o povo a defender a liberdade. Novamente destaco apenas um movimento da MPB sem desmerecer os demais. O FUNK não é só pornografia e apologia às drogas. Pelo menos para mim, que, enquanto comandante do nono batalhão, jamais proibi bailes FUNK e não me arrependo.
Mais uma vez obrigado.

Muitoo LOko disse...

é gnt,é muito delicado tocar nesses assuntos assim , até porq é um ritmo normal como o outro, mas para chega ao ponto de ser ameaçado de proibir o estilo, quer dizer que o estilo ta passando muito do seu limite!e não é só o uso de drogas , prostituição! rs só esses doias fatores já vira um mine apocalipse "há sem contar as criancinhas usando drogas, mas indo direto ao ponto , não to acusando ,falandooo que o funk gera isso tudo não , eu to falando que o funk colabora com isso tudo, e ao invés de melhorar a situção" estilo criar músicas com paz e amor,não eles tao "sentando o pau na putaria msmo!"parece que só tem criatividade para as coisas ruims!
PONTO.

Contra-funk disse...

Funk é um lixo, a liberação só piorou a situação causando mais viciados e mais traficantes, além de pertubações no cotidiano por ter que ouvir sons altos de batidas chatas e letras agressivas.

Edgar disse...

Eu sou totalmente contra o Funk e a favor da proibiçao desse barulho, pois na minha opinião isto nao pode ser considerado musica, algo que insulta a propria policia falando sobre facçoes criminosas, que vao "meter bala" que eles podem isso e aquilo, muito me admira que ainda tem pessoas cegas que defendem eles, estao cavando a propria cova fazendo tal coisa, pode ate existir quem nao faça isso, mas digo que 99% fazem apologias criminosas e ao uso de drogas, sem falar na pouca vergonha da pornografia, prostituiçao,por esses e outros motivos que nao digo pois nao iria caber aqui rs, que sou TOTALMENTE a favor da proibiçao desse "barulho" chamado "funk"

Emir Larangeira disse...

Respeito a opinião do leitor, que acha Funk nada mais que barulho. Também não gosto do barulho, mas isto nada tem a ver com o tráfico de drogas, que se manifesta também em locais de música lenta e boas para determinados ouvidos. Enfim, uma coisa não é a outra nem se interdependem.