Os arrepiantes escândalos no Congresso Nacional estão longe do fim, se é que terão um fim. A cada dia que passa, a reforma política se inviabiliza devido à falta de legitimidade daquela Casa Parlamentar. Os efeitos, todavia, são sentidos em todo o Brasil, em especial nos Municípios cuja população abriga o direito ao aumento de sua representatividade parlamentar. Tudo indica, com efeito, que ficarão a ver navios os suplentes, todos aguardando em desesperança a oportunidade de sentar nas cadeiras parlamentares municipais ainda este ano (os 51.9 mil vereadores seriam acrescidos de mais 7.343 nas 5.564 prefeituras brasileiras).
O fato em si, em adiantado processo de aprovação no Congresso Nacional (ou de putrefação?), encerra uma contradição: se por um lado aumentar o número de vereadores nos Municípios atende aos saudáveis princípios democráticos da Ágora de Péricles, por outro implica aumento de despesa de um poder que não vem atendendo como deveria aos anseios do povo. Para burlar a despesa, nas algibeiras ocultas da lei consta a diminuição dos percentuais de repasse do Poder Executivo Municipal para o seu equivalente Legislativo: as Câmaras de Vereadores (os 5% a 8% do atual orçamento municipal cairiam para 4% a 7%). Ora, a Câmara Municipal não existe somente para remunerar vereadores, o que torna essa desculpa um engodo que lembra a figura do asno vestido em pele de leão.
Essa burlesca comparação é capaz de ressuscitar o Stanislaw Ponte Preta e seu FEBEAPÁ, só faltando reviver a sigla: “SIRCFFSTETT (Setor de Investigações e Repressão ao Crime de Furtos de Fios de Serviços de Transmissões Elétricas, Telegráficas ou Telefônicas”... Hoje a sigla estaria ampliada em vista do progresso da Informática, da TV a Cabo, do Gatonet, da Transmissão Via Satélite, da Telefonia Celular etc.
Ah, não importa se a crise é em Brasília... Ou melhor, importa deveras, porque é de lá que sairá ou não a decisão. E o mais provável é ela que seja adiada: nem sim, nem não, maneira sábia de não empurrar mais um ovo quente goela abaixo. Afinal, o cúmulo nimbo brasiliense desabará em tempestades e ventanias Brasil afora. Afogar o povo com uma aluvião de gastos é pretender demais. Gastar com uma representatividade que, em vez de representar condignamente o povo acabará por se representar bem mais a si, é abusar da paciência popular. Não terão coragem para tanto os Deputados Federais e os Senadores da República, enrolados como estão com os atos secretos e as benesses das passagens aéreas sem se considerar o que mais há nas trevas daquele ambiente político do que se presume pela leitura dos sucessivos escândalos.
A crise é tão tamanhona que não é demais compará-la aos alegóricos vórtices, dentre os quais se insere o misterioso Black hole, capaz de engolir milhões de estrelas. Portanto, quem tentar trazer a lume a reforma política nesse momento descerá ralo abaixo sem salvação. Para quem conhece o Congresso Nacional, não haverá político que se habilite a defender o aumento das cadeiras municipais. Se o fizerem, serão sugados pela Opinião Pública.
Até mesmo as próximas eleições serão complicadas para os atuais detentores de mandato. Porque muitos dos críticos de falcatruas parlamentares foram também protagonistas de algumas, e delas não se livrarão alegando que já se “penitenciaram” em linguagem unívoca do tipo “eu me penitencio a mim” ao anunciar a devolução do que indevidamente gastaram via direta ou de terceiros. Ora! Nada mudará até as eleições do ano que vem porque nenhum maluco comprará essa briga, por mais que dependa de votos dos vereadores e suplentes em seus redutos. Melhor que tudo fique “como dantes no quartel de Abrantes”!
A decepção do eleitor está no seu máximo. Cenas de alianças incríveis são jorradas em despudor ao grande público. A gurizada de cara-pintada está vermelhas de vergonha. Não sabe que tinta usar se resolver protestar nem que bandeira empunhar. Bem, há, sim, a Bandeira Nacional, que se deveria situar acima e além dos interesses escusos e cobrara providências... a quem?
Eis a questão: não há a quem apelar. Nenhum partido está a salvo da tormenta; nenhum parlamentar possui condições de provar sua honestidade, mesmo que seja honesto. O turbilhão rodopia e atinge o Poder Legislativo como um todo, permitindo supor ou mesmo concluir que nas políticas municipal e estadual a febre é a mesma e pior que epidemia suína. Porque, infelizmente, e antes de tudo, as falcatruas são subprodutos da cultura de um povo servil, de um lado, e prepotente e impune, do outro. Pelo visto, só uma Bomba Atômica eliminaria o Mal, mas é certo que quem a comprar dispensará licitação e não abrirá mão dos 10% ou mais... E há o risco de a explosão matar tão-somente o Bem...
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