terça-feira, 18 de agosto de 2009

Elogio da Loucura do Major Wanderby

Desde que a campanha da AME/RJ foi desencadeada, ou seja, a partir de 08 de junho no caso da chapa 3 (as demais já estavam bem antes articuladas), as maledicências contra o Major Wanderby se disseminaram tempestuosamente. Na impossibilidade de tachá-lo de corrupto, ou estulto, ou inculto, seus detratores optaram por designá-lo como “louco”, ressalvando-se suas possíveis variações dicionarizadas. Tal foi a insistência nesse discurso que obrigou ao major, perante seleto grupo reunido pelo tenente Paulo Tavares, digno presidente da AOMAI, frisar não ser louco coisa nenhuma e declinar a sua condição de apto. Satirizou com razão, o que me fez viajar aos séculos XV e XVI (1465-1536) e reencontrar Erasmo de Rotterdam e seu "Elogio da Loucura".
Esta Loucura, porém, é nome próprio na sátira de Erasmo, que, ao escrevê-la, como se lê na apresentação do tradutor Ciro Mioranza: “Sua intenção era fazer uma brincadeira e oferecer à própria sociedade um espelho de si mesma, para que ela própria pudesse também achar graça, ou até rir à toa, ao ver-se tão ridícula, tão palhaça e tão mesquinha.”
Erasmo dedica a sua inusitada obra ao amigo Thomas Morus, e a Loucura, personagem central vivificada e materializada, diz a que veio logo nas primeiras linhas de sua história, bastando sublinhar o seu auto-elogio: ”(...) Além do mais, acredito mostrar com isso maior modéstia do que certos doutos ou famosos que, por um pérfido pudor, subornam em seu proveito a bajulação de um orador ou as invenções de um poeta e, em troca de dinheiro, ouvem dele seus elogios, que são na verdade um monte de mentiras. Entrementes, nosso pudico personagem abre a cauda em leque como um pavão, levanta a crista, enquanto os descarados aduladores comparam a nulidade aos deuses e o propõem, embora sabendo tratar-se do contrário, como um modelo de todas as virtudes; afagam essa gralha de penas emprestadas, branqueiam esse etíope e apresentam essa mosca tal qual elefante.”

E no desvelar de sua personalidade, a Loucura acrescenta adiante; “(...) Não uso disfarce, não dissimulo no rosto o que não sinto no coração. Sou sempre igual a mim mesma. Não ponho a máscara, como aqueles que pretendem representar um papel de sábios e andam desfilando como macacos vestidos de púrpura e como asnos com pele de leão. Que se vistam com disfarces quanto quiserem, que suas orelhas sobressalientes revelarão sempre um Midas oculto.”

Claro que o Major Wanderby não é louco, mas bem o poderia ser ao modo da “Senhora Loucura” de Erasmo de Rotterdam, que sabe apontar os vícios que nortearam essa disputa tornada pessoal pelo atual presidente da AME/RJ, talvez por não se imaginar tão contestado por duas chapas que, somadas as assinaturas por elas apresentadas, ultrapassam o número de votos (200) que lhe deram a vitória na eleição passada, quase que sem concorrentes. Seu adversário somou 80 votos e permanece na oposição apoiando a chapa 3. Aliás, se somarmos os 80 votos aos 75, retirando um do próprio concorrente, a chapa 3, em tese, conquistou 154 votos, ou seja, uma pequena diferença que poderia ainda ser menor se todas as assinaturas recolhidas fossem divulgadas. Bem, melhor que entender o resumo da sátira é lê-la toda. Quem o fizer saberá distinguir o Bem do Mal por via da Loucura esclarecedora de Erasmo, tal como é certo que o Major Wanderby bem que lhe poderia ocupar o lugar na sátira, já que ele, segundo os opositores, é “Louco”.

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