Hoje é o grande dia! Vou à AME/RJ votar e torcer! Saio agora de casa, não sem antes deixar este registro. Qualquer que seja o resultado, afirmo que valeu a pena. Desde o dia em que o major Wanderby interagiu comigo, – e não faz muito tempo, – não mais paramos. Eu não o conhecia a não ser por acompanhamento de suas andanças guerreando em favor do militar estadual. Depois, fui recebendo insumos em meio às praças dando conta de que o discurso dele era compatível com o seu comportamento em quartéis. Confirmei estar diante de um humanista indomável, coisa rara na PM. Não mais tive dúvidas de que lidava com um idealista por inteiro. Confesso que me alegrei deveras, ao mesmo tempo em que muito me preocupo por saber que defender direitos das praças, principalmente, significa infortúnio pela frente. Mas o inusitado aconteceu em nossas primeiras falas: ele me convidou a fazer parte de um projeto que acalentava: ser presidente da AME/RJ. Ouvi, medi o tempo que faltava para entregar uma listagem contendo a assinatura de 50 associados com mais de um ano de contribuição, e, dentre as 50, ou além delas, haveria de haver 38 sócios com mais de cinco anos de contribuição para composição da chapa. Casuísmo absurdo!
Tempo curto, – e muitas dificuldades à vista, – indaguei do major Wanderby quantos companheiros estavam por ele mobilizados até aquele momento. Ele me respondeu com um desanimado sorriso: “Dois: eu e meu irmão.” Não aguentei também o riso. Lembrei meus tempos de instrutor de “emprego tático da PM” (na cidade e no campo), – o que os verdes-olivas chamavam de “curso de comando e guerra na selva” – e dos perigosos desafios físicos e psicológicos que inventava só para me testar. Enfim, lembrei meus tempos alucinados de tenente e uma coceirinha desafiadora novamente me tomou. Se comparada nossa aflitiva situação com as alegrias das outras chapas (duas), uma apoiada pelo então Comandante Geral, Cel Pitta, e a outra capitaneada pelo atual presidente da AME, TCel Anaide, ambos com seus participantes mobilizados havia muito tempo, no mínimo, parecia suicídio.
Esta era a lógica da disputa: nenhuma. No nosso caso, – apenas três oficiais dispostos a desafiar dois Leviatãs simultâneos, – a lógica se invertia in totum. Veio-me à memória um insólito exemplo a que me reporto a seguir:
“UM CASO DE SUICÍDIO OU HOMICÍDIO: O HOMEM QUE MATOU A SI MESMO CONSIGO PRÓPRIO.
No jantar de premiação anual de ciências Forenses, em 1994, o perito médico-legista Dr. Don Harper Mills impressionou o público com as complicações legais de uma morte bizarra.
Aqui está a história:
Em 23 de março de 1994, o médico legista examinou o corpo de Ronald Opus e concluiu que a causa da morte fora um tiro de espingarda na cabeça. Opus pulara do alto de um prédio de 10 andares, pretendendo suicidar-se.
Ele deixou uma nota de suicídio confirmando sua intenção. Mas quando estava caindo, passando pelo nono andar, Opus foi atingido por um tiro de espingarda na cabeça, que o matou instantaneamente.
O que Opus não sabia era que uma rede de segurança havia sido instalada um pouco abaixo, na altura do oitavo andar, a fim de proteger alguns trabalhadores. Portanto, Ronald Opus não teria sido capaz de consumar seu suicídio como pretendia.
O Dr. Mills relata que "quando uma pessoa inicia um ato de suicídio e consegue se matar, sua morte é considerada suicídio, mesmo que o mecanismo final da morte não tenha sido o desejado." Mas o fato de Opus ter sido morto em plena queda, no meio de um suicídio que não teria dado certo por causa da rede de segurança, transformou o caso em homicídio.
O quarto do nono andar, de onde partiu o tiro assassino, era ocupado por um casal de velhos. Eles estavam discutindo em altos gritos e o marido ameaçava a esposa com uma espingarda. O homem estava tão furioso que, ao apertar o gatilho, o tiro errou completamente sua esposa, atravessando a janela e atingindo o corpo que caía.
Quando alguém tenta matar a vítima "A", mas acidentalmente mata a vítima "B", esse alguém é culpado pelo homicídio de "B".
Quando acusado de assassinato, tanto o marido quanto a esposa foram enfáticos, ao afirmarem que a espingarda deveria estar descarregada. O velho disse que tinha o hábito de ameaçar sua esposa com a espingarda descarregada durante suas discussões.
Ele jamais tivera a intenção de matá-la. Portanto, o assassinato de Opus parecia ter sido um acidente, ou seja, ambos achavam que a arma estava descarregada, portanto a culpaseria de quem carregara a arma.
A investigação descobriu uma testemunha que vira o filho do casal carregar a espingarda um mês antes. Foi descoberto que a senhora havia cortado a mesada do filho, e este, sabendo das brigas constantes de seus pais, carregara a espingarda na esperança de que seu pai matasse sua mãe.
O caso passa a ser, portanto, do assassinato de Opus pelo filho do casal. As investigações descobriram que o filho do casal era, na verdade, Ronald Opus. Ele se encontrava frustrado por não ter até então conseguido matar sua mãe. Por isso, em 23 de março, ele se atirou do décimo andar do prédio onde morava, vindo a ser morto por um tiro de espingarda quando passava pela janela do nono andar. Ronald Opus havia efetivamente assassinado a si mesmo, por isso a polícia encerrou o caso como suicídio...
Interessante, não?”
Enfim, sem corda ou escada para subir a montanha, aceitei o repto e fui à luta sem muita arma, animando a dupla Medeiros. Sem adentrar detalhes, em 08 de junho (prazo fatal) estávamos entregando a nossa lista com 75 assinaturas. Não posso garantir que todos os assinantes compareçam para votar, isto é outra página no desenrolar dessa história que termina (ou começa) hoje. Afinal, para pessoas de idade avançada, assinar uma lista em casa é diferente de sair para votar em lugar distante. Para piorar, hoje a chuva nos ameaça.
Não importa! Vale a animação somente pelo fato de conseguirmos vencer o tempo sem desânimo. Tudo se resumiu na crença de que alcançaríamos o impossível. Eu, de minha parte, confiava nos meus companheiros treme-terras ainda associados. Mesmo enfrentando pesada concorrência do Cel PM Laurílio José da Silva, – treme-terra respeitadíssimo entre nós, – logrei êxito no recolhimento das assinaturas em tempo hábil. Primeira vitória: ninguém cria na possibilidade de uma terceira chapa, – logo vista como “proscrita”, – chegar ao pódio do primeiro desafio imposto pelo sistema. Bem...
Bem... A campanha está feita. O blog que criamos (http://www.chapaidentidade.blogspot.com/) alcança, neste momento em que parto à votação, 4.671 acessos. Não sei quem, – além de mim e de alguns que mantiveram o blog em atividade, – não sei quem nos visitou. Mas sei que ultrapassamos a marca de quatro vezes o número de associados (1.111); enfim, despertamos a atenção de milhares de pessoas para a sucessão na AME/RJ, algo inédito em se tratando de um sistema que elegeu presidente esse mesmo candidato à reeleição com apenas 200 votos contra 80; ou seja, apenas 280 sócios compareceram para votar no último pleito. Como diria Bóris Casoy: “Isto é uma vergonha!”
Com certeza, mudamos uma regra que se tornara vício até o dia de hoje, isto em tese. No fim de contas, não sei ainda o que ocorrerá na AME neste importante dia 19/08. Pode ser que eu volte decepcionado, não por perder a disputa, mas por verificar que o desinteresse dos sócios por sua entidade representativa alcançou o ápice. Bem, vou parando por aqui. O resto eu conto na volta...
Muito bem, voltei. Perdemos, como esperado; perderam as chapas de oposição; ganhou a chapa da situação. Na verdade, acrescentou dez votos ao seu resultado anterior (200 votos há dois anos): somou 210 votos. A chapa dois, apoiada pelo anterior Comandante Geral, somou 123 votos; a nossa chapa, 79 votos. Foi o resultado, ou seja, 412 votos válidos e mais 13 anulados, supostamente representativos de 13 associados que não souberam votar. Enfim, 425 votos num universo 1.111 associados. Na verdade, perderam os 686 (1.111 – 425) associados que faltaram. Por que insistiram em faltar à eleição? Difícil entender pessoas comprarem religiosamente seus convites, caros, por sinal, e não comparecerem à festa. Tal me lembra Ernesto, personagem machadiano, atrás de uma casaca para ir à festa na casa da namorada: ”A desgraça porém que o perseguia fez com que o primeiro amigo tivesse de ir no dia seguinte a um casamento e o segundo a um baile; o terceiro tinha a casaca rota, o quarto tinha a casaca emprestada, o quinto não emprestava a casaca, o sexto não tinha casaca. Recorreu ainda a mais dois amigos suplementares; mas um partira na véspera para Iguaçu e o outro estava destacado na fortaleza de S. João como alferes da guarda nacional.”
Os “alferes” de hoje não lograram conseguir nenhuma casaca; 686 “alferes” faltaram à festa. Sobraram os talheres e o repasto para consumo de 210 comensais, com garantia de alguns meses. Como os 202 associados opositores não são convidados e pegaram emprestadas suas casacas, somente 210 estão se lambuzando merecidamente: “Aos vencedores as batatas”. Por isso, nada impede somar aos faltantes os desinfelizes 202 que se arriscaram em nome daqueles 686 faltantes, o que significa, ao fim da festa, a derrota de 888 “alferes” como contrapartida da vitória de 210 encastelados na AME desde muito tempo. A culpa, porém, não é deles; é, principalmente, daqueles que ignoraram seus descontos mensais em favor da festa de 210 por mais dois anos. Quanto a mim, não pretendo mais contribuir para o repasto de ninguém. Vou buscar entidades verdadeiramente representativas ou vou me representar a mim mesmo e a meu modo.
Ah, durante a campanha, um cão ladrou à vontade a defender o seu osso. Não vou latir como um cão nem reagir como um leão. Penso que valeu a vivência, como o faz um antropólogo a se lançar em meio ao ambiente a ser pesquisado. Vou refletir, e depois desse exercício reflexivo decerto saberei que rumo tomar até definir um novo alvitre, claro que diferenciado desse de caráter festivo e por mim remunerado. Não mais serei um dos 888 derrotados pelo desencanto com a AME/RJ. Quanto aos 13 que erraram o voto, que falar?... Bem, melhor ignorá-los. Que fique a AME/RJ com suas festas pagas por terceiros que eu vou à luta!...
2 comentários:
Sr TC
Foi para mim uma honra não apenas lutar ao seu lado, mas ter a luta viabilizada graças aos seus esforços.
Minha continência e meu sincero muito obrigado ao Sr e a todos os outros camaradas que acreditaram na possibilidade de fazermos da AME/RJ o que dela se deveria esperar em matéria de representação classista.
Meu nº 1,
Que Deus te abençôe, Ilumine e proteja, sempre e mais. A sua fibra (e que fibra) vencerá, essa batalha multiplou de dois para muitos, que serão multiplicados por muitos outros, a vítoria é questão de tempo.
Preciso falar-te.
Último
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