quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sobre as mudanças na PMERJ

É o terceiro coronel que assume o comando-geral da PMERJ na gestão do Ex.mo Senhor governante Sérgio Cabral Filho. Parece-me até o Vasco da Gama a trocar de técnico... Mangação à parte, eu sinceramente creio na excelência da troca. Afinal, assumiu um indiscutível e legitimado craque, tendente a vencer alguns jogos. Contudo, não o vejo como salvação do campeonato, embora aposte na competência dele e torça para que tudo dê certo. Pensamento positivo atrai sorte, e ele precisará dela...
Com efeito, a missão do comandante-geral é sobremodo árdua. Não se muda da noite para o dia uma instituição destroçada por fatores externos e internos imponderáveis, além de extremada em sua resistência a mudanças. Mas já em tão pouco tempo, infelizmente, vejo o coronel PM Mário Sérgio atropelado por microfones, gravadores e câmeras impertinentes a explicar duas derrotas isoladas, tal como os técnicos de futebol o fazem ante as cobranças da imprensa especializada, que não quer saber se o centroavante perdeu um gol feito. Essas derrotas são inevitáveis, assim como é certo que elas interessarão mais à imprensa do que as vitórias conquistadas a suor e sangue. A vitória é do time, a derrota é do técnico. É assim aqui e mundo afora desde que William Randolph Hearst instituiu a cultura do sensacionalismo e fez prosperar a imprensa marrom.

Bem, mudou-se o comando, e como dantes houve a indefectível dança das altas cadeiras, passou-se o pente-fino nos quartéis e desencadeou-se a operação “caça-fantasmas” a garimpar efetivos; e muitos PMs de má-sorte podem ser jorrados nas ruas sem sabermos se bem distinguem a caneta da escopeta, e de quem é a culpa por estarem ocultos debaixo de mui variados tapetes civis e militares. Tudo bem, eles treinaram antes, existem para enfrentar o crime, fim de conversa, e que façam gols! Quem mandou terem eles “mil e uma utilidades”, apesar de autorizados ou cumprindo ordens superiores?... Que, porém, sejam antes treinados, e estou certo de que o serão, esse comandante-em-chefe sabe das coisas!...
Mais uma vez, por óbvio, nota-se a vontade da PMERJ em apresentar seu melhor serviço à população, o que é louvável, e era também vontade do comandante-geral que merecidamente saiu ou que nem deveria ter entrado. Porém, salvo engano meu, e em repeteco do repeteco do repeteco, vão esvaziar um copo de água para encher outro de igual volume. Parece ilusão de ótica: se a água é despejada de cima para baixo, o percurso é mais barulhento; se despejada de um copo a outro, apenas inclinando um deles, o líquido escorrerá suavemente e não despertará nenhuma atenção. Afastar os copos na vertical é preciso, mas implica risco, e nem por isso a quantidade de água será diferente da original. No primeiro instante, o barulho poderá surtir efeito; depois, a tendência é de a água errar o copo e ir ao chão, diminuindo-se a quantidade original. Ou entrarão em ação os vasos comunicantes e a PMERJ tornará à máxima de Giuseppe Tomasi di Lampedusa: “Tudo deve mudar para que tudo fique como está.” Ou seja, “tudo como dantes no quartel de Abrantes.”
Daí, uma indagação me assalta a mim: a mudança de comando foi para melhorar o atendimento da população pela PMERJ, dando tempo e crédito ao novo comando, ou tudo ocorreu tão-somente para lustrar a imagem desgastada do ínclito governante? Desconfio da segunda hipótese, posto que, concomitantemente, ele busca no “petróleo é nosso” imitar Monteiro Lobato para se salvar da queda livre nas trevas do abismo eleitoral que se aproxima a passos largos.
Em algumas ruas privilegiadas, é possível que a população se satisfaça durante um tempo com o nosso aguerrido “petroleiro”, até perceber que na PMERJ se tenta trocar meia dúzia por seis em desespero reativo. Aliás, os companheiros hodiernos e “postulantes à ABL” inventaram, num “decálogo operacional”, a novíssima ação “pró-ativa”, imprimindo-lhe o sentido de “proativa” (vocábulo correto e inverso da palavra “reativa”). Ora, proatividade é antecipação; “pró-atividade” é defesa da ação (“pró-“ significa “a favor de”). Portanto, ao se dizer que a PMERJ deve ser “pró-ativa”, induz-se a pensar que ela se encontra em modorra, o que não é verdade. Para conhecimento dos “causídicos da PMERJ”, os vocábulos “proativo e reativo” são, há décadas, usuais na Teoria Geral da Administração e no Planejamento Organizacional (sic):

“Se a concepção moderna da Administração pública a caracteriza como sistema aberto, independente e capaz de desenvolver valores próprios, e se a concepção do papel do administrador público no contexto de mudança é cada vez definido mais como proativo do que reativo às demandas ambientais, com maior ênfase ainda se destaca a necessidade de que os valores sociais das organizações públicas sejam definidos como padrões orientadores do comportamento administrativo. (...). O administrador público proativo é o indivíduo capaz de se responsabilizar e ser responsável pelas transformações que se fazem necessárias na ambiência social em que a organização opera.” (Planejamento Organizacional – Paulo Roberto Motta & Geral R. Caravantes – FGV – AGE – Assessoria Gráfica e Editorial Ltda. – Porto Alegre/RS, 1979, págs. 168 e 172). Grifos nossos.

Com as escusas pela insistência na divulgação do conceito, e explicado o inusitado e impróprio “pró-ativo”, – “sei que tento fazer chover no molhado”, – devo lembrar que o corpo social a ser atendido pela PMERJ é bem maior que seu curto cobertor... Nos quartéis, por outro lado, aflora-me a certeza de que o atual governante não é benquisto e não conquistará um só voto da tropa, haja vista as promessas não cumpridas. Como não há muito tempo para aplausos, temo que a ira miliciana contra o governante se transporte para os atuais mandatários da PMERJ, que não a merecem, eles não são nem serão “salvadores da pátria”!... Mas, como tendemos a enfrentar a morte pelo juramento de honra, mesmo que esta se nos apresente cega, surda e muda, somos usados...
Por amor à coerência, devo, porém, reafirmar: apesar de ser a terceira troca de comando, invade-me o espírito a certeza de que a escolha foi excelente. Mas isto não elimina minhas dúvidas: se a PMERJ estava tão ruim (e efetivamente estava), por que o comando anterior saiu tão elogiado? Em vista desses rasgados elogios, por que muitos oficiais por ele nomeados perderam abruptamente seus cargos? Seriam ruins? Estariam inabilitados para o exercício da carreira continuada? Os que assumiram são mais competentes? Qual terá sido o critério para retirar de batalhões oficiais com apenas dois meses de comando? Foram velozmente expurgados por quê? E a última lista de promoções de médicos? É isenta? Reflete alguma verdade? O que há por trás dessa subitânea troca de comando, afinal? Qual será a realidade embutida na drástica medida governamental?... Terá havido queda nas pesquisas e a PMERJ foi novamente escalada para pagar o pato de uma insegurança pública cuja solução não lhe compete com exclusividade?
Ah, eu não nasci ontem! Preocupa-me o confronto interno estimulado por burocratas comissionados e políticos que estão com seus dias contados e partem à cata de votos. A PMERJ, – em vista desses casuísmos politiqueiros que se acumulam de longe em longe, de quando em quando e de logo em logo, – a PMERJ está se transformando num nicho de facções. A cada mudança determinada de fora para dentro, inimizades internas se forjam e aprofundam de maneira irreversível; retaliações tomam feições de autofagia. E rolam cabeças como nos tempos do Terror...

Há o espanto, sim! E os de fora se regozijam; rolam às gargalhadas; gozam da gente a bandeiras despregadas... Quando isto terminará? Qual será o desfecho dessas demonstrações de coragem de companheiros contra companheiros, como se todos estivessem numa arena romana a cumprir do “Cesário” a ordem do polegar abaixado para cravar a espada no coração dos colegas de enxovia? Até quando seremos destruidores de nós mesmos a alegrar os “Césares e Luíses hodiernos”?... Quem são nossos inimigos? Os bandidos, os políticos, os academistas ou os superiores, pares e subordinados que sofreram as mesmas dores na formação e demais cursos obrigatórios?...










Devo, porém, confiar na garra, na isenção e na capacidade dos novos. Venho reiterando que os oficiais superiores de hoje esbanjam experiência profissional; acumularam-na, desde tenentes, em combate contra traficantes armados de fuzis; perderam companheiros de turma e subordinados; perderam superiores; sentiram e sentem o gosto do sangue na boca; são homens afeitos ao confronto. Mas, e na posterior avaliação extramuros? Até que ponto as autoridades ministeriais e judiciais se convencerão de que estamos vivenciando uma violência armada que, se tomada ao pé da letra, retrata um conflito bélico em todos os seus matizes e texturas internacionais?
Por derradeiro, indago: quantos companheiros ao fim e ao cabo da empolgação estarão mortos ou inutilizados fisicamente, ou serão réus em processos criminais?... Não sei! Mas sei que o governante quer ser reeleito e mantém Maquiavel na cabeceira de sua cama em estilo Luís XIV: a sua “bíblia sagrada”, que nos designa como “forças mercenárias” (“forças auxiliares reserva” não são outra coisa), e, portanto, descartáveis... E no travesseiro de plumas importadas da França a sua dele cabeça descansa sem remorso. E ele dorme o “sono dos justos”, enquanto nós nos arranhamos mutuamente intramuros dos quartéis, e matamos e morremos nas inseguras ruas do malfadado Estado do Rio de Janeiro...

2 comentários:

Anônimo disse...

Cel Larangeiras, acho q o Sr pecou qdo falou q os Cmt estão acostumados com fuzis. no Tj não tinha, No detran idem, na prefeitura muito menos. Esta geração está acostumada com ar condicionado, isto é caveira ice. Belo texto parabéns.

Anônimo disse...

enquanto existir corrupção na policia, ela será sempre fraca nas suas manifestações, pois somente participam, aqueles policiais bons, os corruptos estão se lixando para aumento, pois já tem a mesada garantida todo final do mês e não faz difderença pra eles.