Eia! Eia!...
O Jornal O GLOBO de hoje nos faz um afago e tanto. Ufa! Até então, só pancadaria... Tudo bem, nós merecemos, mas o outro lado da moeda (dos bons serviços prestados) é volumoso, integra-se ao nosso dia a dia e é bem mais que o anunciado. Mas, como toda boa ação costuma passar despercebida, por ser regra, é mais ou menos ver o cachorro morder a perna do transeunte: não dá notícia.
O jornal sublinhou as ocupações em favelas como positivas, e efetivamente o são, embora não sejam ideia nem obra do presente. Entretanto, não se pode negar o empenho atual da corporação em aprimorar essa modalidade de policiamento voltado para a proteção do cidadão favelado, até então destinado a receber somente repressão policial em incursões violentas. O alvo são os traficantes, mas, na favela, eles se misturam ao povoléu, que acaba pagando o pato confundido com aqueles outros. Sem arma na mão e sem droga, traficante é “morador ordeiro”, salvo os pouquíssimos adrede identificados pela polícia.
Sem ufanismo, mas me ufanando, posso afirmar que a primeira ocupação em favela, depois de erradicar o tráfico de drogas, ocorreu durante o meu comando à frente do nono batalhão (1989/1990), na favela conhecida como Para-Pedro ou Comunidade da Vila São Jorge, como preferiam seus moradores. Conto o episódio em livro com edição esgotada, mas disponível no meu site: www.emirlarangeira.com.br
Infelizmente, foi só mudar o governo, e o policiamento foi de lá retirado, e o tráfico tornou ao local mais pujante e vingativo que antes. Assim está até hoje. Tomara que nas atuais comunidades protegidas pela PMERJ não haja o retrocesso que costuma tornar a emenda pior que o soneto...
Mas sejamos otimistas, embora eu discorde peremptoriamente da afirmação do secretário Beltrame de que os policiais militares da ocupação foram treinados para tal e não foram afetados pelos “vícios” dos antigos. Ou seja, segundo o que entendi em minha santa burrice, para o secretário todo o resto da PMERJ é inservível, é entulho destinado a algum vazadouro.
Ora, esquece-se o secretário de que a PMERJ é resultado de uma sociedade ainda mais poluída que ela. Há uma interação doentia, sim, mas de mão dupla, e os novos se originam dessa mesma sociedade podre que corrompe e é corrompida em modalidades inimagináveis. Então, se a sociedade é um lixo, dela só se pode retirar lixo. E não creio que a PMERJ seja boa em reciclagem de lixo...
Eia! Pro inferno com as críticas!
Sejamos otimistas! Memorável foi a entrevista do capitão Rodrigo Pimentel, que deixou a profissão para buscar outros caminhos. Não o tacho de “ex-PM”, ele não merece, como muitos outros que debandaram por motivos limpos e justificáveis. Também não consigo vê-lo como apenas o cidadão Rodrigo Pimentel, ele será sempre reconhecido por nós, PMs, como capitão, porque a nossa cultura é assim e é com base na sua vivência passada e na sua observação presente que ele desenvolve os temas com perfeição.
O capitão Rodrigo Pimentel resumiu com responsabilidade e acerto o drama da PMERJ e do PM. Crítica construtiva, sim! Ainda bem que ele é civil, o capitão é só homenagem. Se ele fosse ainda PM... Cadeia nele! Capitão não pode abrir a boca para falar nada. Nem coronel... Ah, pode, sim, desde que elogie os de cima. Então (Eia! Eia!) vamos elogiar. Afinal, aniversariamos... Aniversariamos?... Que confusão!... Outro dia, entrei no site da PMDF, e ela, além de aniversariar 200 anos, afirmava ser titular do 31º de Voluntários da Pátria e sublinhava ser o cão Brutus o seu herói na Guerra do Paraguai. O cão está no museu da PMERJ, empalhado. A história dele viajou para Brasília. Onde estará a alma do Brutus? Lá ou cá?... Ah, cachorro não deve ter alma, vale o Brutus do nosso museu. E venceu a PMERJ: a PMDF apagou a história que faz um mês contava como sua, incluindo a propriedade moral do Brutus. Eu li e comentei no meu blog. Por que teria mudado?... Que confusão!...
Nesta semana, ouvi uma historiadora dizer na tevê que não existe história passada. Afirmou que toda história é contemporânea porque está sempre acontecendo no tempo presente. Eu acrescento por minha conta que o papel do historiador não pode ser mais o de esperar a história passar para lhe emprestar a letra maiúscula (História).
A História da PMERJ é o hoje e o adiante. Não há mais tempo para saudosismos. O ambiente é cada vez mais incerto e turbulento; a visão do dirigente atual há de ser prospectiva; as estruturas hão de ser dinâmicas para lograr êxito em alcançar novos e mutáveis objetivos. Não há mais o que esperar, o negócio é agir. Também não há mais que esperar para ganhar salários dignos.
Foram ótimos os elogios de hoje no Jornal O GLOBO, mas elogio, tão-somente, não enche bucho de ninguém. E o bucho do PM está vazio... Eia! Eia!... Vivas e vivas!... Apaguem as duzentas velinhas com um sopro de alegria. Ou será com um suspiro de tristeza? Com a palavra o nosso mui digno e honrado governante...
E................. i......................... a............. aaaaaiiii!.....
Sniff, sniff, sniff...
As 200 velinhas foram apagadas com as lágrimas da tristeza. O bolo aniversário mofou... Bem, para quem é como o Cândido de Voltaire, há a certeza de que o segundo semestre começa em julho. Mas vai até dezembro...
Buá! Buá! Buá!..........
Um comentário:
Caro amigo Larangeira,
No comentário que vc fez a respeito da intenção da PMDF em se apropriar da nossa data aniversária, quero dizer que depois que lí a notícia no site daquela corporação, em abril passado, postei vários emails para o comando da mesma, protestando contra o que denominei de "estelionato histórico".
Infelizmente, e por razões óbvias, não recebi resposta.
Mas o castigo veio a cavalo e o Comandante Geral da PMDF foi denunciado pelo Ministério Público Federal pela prática de peculato, prevaricação e concussão e logo após exonerado do cargo.
A alma do cão Brutus deve estar latindo de satisfação.
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