De todas as esfarrapadas desculpas sobre a baderna das passagens parlamentares, a que mais me espantou foi a de um deputado federal daqui do RJ declarando ter caído de corpo e alma na gandaia alada na esteira de uma tradição de mais de 40 anos.
Seguindo a lógica dele, não seria nada demais matar alguém, já que, desde os tempos bíblicos, e do famoso fratricídio (Caim matando Abel), o crime de morte acontece. O escândalo, porém, merece reflexão por outra via, que se resume na indagação: o poder legislativo é necessário na nossa democracia?
Depois que Charles de Montesquieu inventou a tripartição do estado para funcionar como um sistema de freios e contrapesos entre os três poderes (legislativo, executivo e judiciário), a verdade é que o legislativo pátrio, nos seus três patamares (União, Estados-membros e Municípios) tornou-se historicamente subserviente ao executivo.
Sim, o legislativo não é independente; é obscuramente submisso ao executivo. A lógica é simples: o executivo detém os cargos e o capital, e o legislativo não se contenta com a sua parte, por sinal, mui grandiosa, mas pequeníssima em se tratando de alimentar tantas gargantas largas e panças rechonchudas num país em que só se vence eleições gastando muito dinheiro, salvo raríssimas exceções.
Ora, só não vê quem não quer! Como está, o legislativo não contribui para a democracia; demonstra-se inútil em suas finalidades. Daí assistirmos os parlamentares a vencerem o tempo instaurando CPIs inócuas e alardeando abobrinhas, esquivando-se assim da enxurrada de maracutaias que também lhes dizem respeito.
Tem razão o jovem deputado federal que se defendeu argüindo singelamente ser a farra antiga e generalizada, e que por isso ele mergulhou nela sem pejo. Cá pra nós, e sem necessidade de fantasia ou máscara. Foi de cara limpa, mesmo!
A fantasia, na verdade, desde muito está enfiada no corpo do povo brasileiro, e é a de palhaço com direito a guizos presos ao pano multicolorido e bolota vermelha no nariz. Sim, são milhões de palhaços da senzala em meio a poucos leões famintos da casa-grande...
Ora, por que apelar para bravatas do tipo “vão pro caralho!”? (Pra não se pensar que sou chulo, “caralho” tem origem naquele lugarzinho construído na ponta do mastro mais elevado duma antiga nau, onde é colocado um marinheiro indisciplinado a cumprir punição olhando o horizonte debaixo de sol, e chuva, e vento, e que, em tendo sorte, às vezes grita: “Terra à vista!”).
Mas aqui falamos de modernos e dourados jatos...
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