terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Sobre o Major PM Wanderby

Recado ao Governador Sérgio Cabral



Entendo que na PMERJ todos os cargos e funções não pertencem às pessoas que eventualmente os ocupam. Essas pessoas são meros agentes públicos a serviço da comunidade, não são entronizadas por meio de nenhuma divindade. Essas pessoas, sem a casca institucional, são seres individualizados e detentores de direitos, em primeiro lugar; depois é que abdicam desses direitos e aceitam deveres em prol da convivência social, tendo como contrapartida a responsabilidade, que aumenta proporcionalmente ao poder inerente ao cargo ou função. Tem sido assim desde que surgiu o Estado como catalisador das reações sociais. Mas não se pode conceber o extremo do agrilhoamento à livre expressão do cidadão que enverga a farda, em especial daqueles de menor patente ou graduação, sob pena de o sistema enfrentar um processo entrópico e sucumbir definitivamente. Daí a necessidade da discussão livre, mesmo com seus incômodos. Afinal, a democracia tem um preço: compreender as diferenças, respeitar o sentimento e absorver elegantemente as críticas, eis o preço.
Ocorre que, desde há muito, e em razão de as pessoas transformarem sagrados deveres em endemoninhados poderes, o Estado tornou-se o que Hobbes designou como “Leviatã”, um monstro devorador de pessoas mediante delegação que recebeu para usar a força em favor da sociedade que o criou. Detentor dessa desmedida força, o Estado fez-se tirano, e os ocupantes do poder estatal nele se eternizaram a ponta de lança e a bico de fuzis, metralhadoras, tanques e quejandos. E a sociedade, por sua vez, preferiu conformar-se com a derrota, e a mais e mais se submete ao Estado, nem mesmo lembrando o seu status superior. A sociedade tornou-se cliente passiva do Estado, que se transformou num tirano paternalista: numa das mãos, as benesses aos seus apaniguados, na outra, o chicote contra os recalcitrantes.
Essa cultura invertida, subvertida, despótica, absolutista e ditatorial fez do Estado um ente maior do que a sociedade, tanto que hoje ele é o único detentor da verdade conquistada e mantida à força do muque. Sim, do muque, pois nada mais se resolve pelo diálogo e pelo respeito à liberdade dos indivíduos, enfim, pelo respeito à livre expressão. O mundo tornou-se fascista! E todos os ocupantes do poder estatal tendem a ser fascistas, sejam de esquerda ou de direita, ou de centro. Basta-lhes ocupar o poder para seguirem as mesmas regras totalitárias representadas pelo poder estatal descontrolado, ilegal e forte o suficiente para garantir esse descontrole a seu favor e em desfavor dos que não têm força para reagir mediante uma simples reclamação.
Diriam aqui os que se locupletam do poder estatal que hoje o poder é conquistado pelo voto. Hahahaha!... Só rindo disso. É voto de rebanho, isto sim, que se obriga a entrar na fila do abate. A fila de eleitores não é outra coisa, e cada eleitor leva no peito o temor das retaliações ou do abandono do seu “pai assistencialista”, que pode ser o Estado ou algum adepto do seu poder desmedido: o candidato político integrante da seita estatal a garantir a manutenção do assistencialismo ou a ameaçar os contrários a modo da “liga da justiça” ou semelhantes organizações paramilitares, incluindo-se as que lidam com o tráfico de drogas e armas. É assim o poder estatal hodierno!
Todo esse intróito é para consignar a minha estranheza em relação ao que vem ocorrendo com um major da PMERJ, ex-integrante de um movimento denominado “Barbonos” e “40 da Evaristo”, que causou grande rebuliço institucional e político. Sobre o movimento, tenho opinião formada em artigos que postei no meu site, e não é o caso de aqui comentar. Minha estranheza prende-se ao fato de que o movimento, que envolveu dezenas, quiçá centenas de oficiais e praças (muitos deles coronéis da ativa), no final das contas está gerando retaliação apenas contra o major Wanderby. Ora, se levado o que houve ao pé da letra estatutária e regulamentar, qualquer tentativa de punição deveria ser iniciada pelos de maior patente que fomentaram o movimento, foram às ruas, desafiaram a autoridade governamental, mobilizaram associações de classe etc. Provas disso abundam em fotos coloridas, em matérias jornalísticas, em filmagens de tevê, em inusitadas reuniões no auditório do Quartel-General, em abraços solidários entre os insurgentes, em passeatas provocativas, tudo amplamente divulgado. A punir alguém, portanto, que então sejam todos punidos!
Não questiono aqui a autoridade do Comando-Geral da corporação nem a de ninguém. Para mim, o Comando-Geral é uma instituição a ser defendida e preservada independentemente da pessoa que eventualmente ostente a honraria de ocupar tal cargo. Mas também não posso me calar ante a sectária perseguição que se move contra um major que nada mais está fazendo que insistir na posição que lhe foi orientada por seus superiores: os “Coronéis Barbonos”. O major, a meu ver, permanece coerente com o que lhe ensinaram e o incentivaram a fazer. Não mudou de lado nem silenciou seu pensamento, eis a sua culpa! Portanto, creio ser hora de o governador Sérgio Cabral dar um fim à perseguição doentia que estão a mover contra o major Wanderby, resultando da parte dele, do major, reações cada vez mais intempestivas, como se fora ele uma fera acuada.
Conheço bem o governador Sérgio Cabral. Ele é sereno e justo! Sou admirador dele desde quando ele foi o meu líder na ALERJ. Sou mais que isso, considero-me um amigo sincero da pessoa dele e um fã do seu modo de fazer política. Continuo crendo na vontade dele de melhorar as condições da PMERJ. Sou otimista; sei que o governador gosta da polícia e detesta bandido; mas, como amigo dele, peço-lhe publicamente que acabe com a perseguição contra o major Wanderby, ou então que traga à lide todos os que merecem a mesma punição por terem feito a mesma coisa lá no início de tudo. Ou melhor: que sejam mais severamente punidos os coronéis da ativa que rasgaram os regulamentos e cuspiram na hierarquia e na disciplina castrenses! Pois a diferença reside apenas no fato de que o major, levado à condição de fera acuada, e em sendo valente e idealista, continua a defender os mesmos pontos de vista dos seus superiores e colegas.
Não comungo com todas as idéias e opiniões do major Wanderby nem defendi as ações desastradas dos Barbonos. Na verdade, nem conheço o major pessoalmente. Mas, como escritor e cidadão (hoje cardiopata crônico em risco iminente de morte por conta do exercício árduo da profissão de PM), eu sou capaz até de morrer pela liberdade de expressão! Por conseguinte, apontar a ira governamental e institucional apenas para o major não me parece correto! Não creio que seja este o Estado que o meu amigo Sérgio Cabral deseja governar. Sei que ele, antes de tudo, é amante da liberdade, da democracia, e, como jornalista, é defensor da livre expressão e dos direitos fundamentais da pessoa humana. E dele só espero como resposta a este recado uma ordem sua resumida num BASTA DE PERSEGUIÇÕES!

Um comentário:

Anônimo disse...

Rio de Janeiro, 29 de Janeiro, 2009

Sou leitora assídua do blog do Coronel PM Emir Larangeira, gosto das materias que aqui sao postadas, gosto muito da sua linha de raciocínio, Cel Larangeira, nunca deixa passar quaisquer que seja o fato sem que ele opine com com a sua categoria de mestre da escrita...Maria Torres, leitora