terça-feira, 7 de outubro de 2008

Filosofia de boteco: seguro de morte para PMs



— Pô, Zará, sabe o qui a santa patroa falô pra mim?
— Qui foi Zorô?
— Qui fez macumba pra eu apagá com um tiro no saco.
— No saco? Pruque no saco?
— Ela cismô qui eu tô de caso com a prima dela.
— E ocê tá?
— Bem... Só umas piscada... Nada demais...
— É Zorô. Toma cuidado. Ocê tá em final de carreira e tiro no saco só na rua. Não nu quarté, naqueli rancho ondi ocê morcega faz tempo.
— Morcega? Que isso, Zará? Sou bom naquilo. Faço comida qui todo mundo gosta...
— Ah, Zorô, tempero di comida é fomi... Nem lavá prato ocê sabe direito. Qualqué hora vão dá um tresoitão pra ocê e um selviçinho de rua... E aí...pimba! Lá vai o caixão cheio di ocê e fica a viúva cheia de alegria e dinheiro.
— Tá doudo, camarada? Como posso trabalhá na rua? Não sou mais PM desde qui Cabrá descobriu o Brasil. Num vô mesmo!
— Cabrá?...
— Ah, num é o Cabrá de hoji, é o portuga lá di trás.
— Vai tê de ir. Vai ser ordem! Ocê qui aprenda a atirá, senão, o tiro vai pegar seu saco e sua muié vai receber cem mil pratas. Hehehehe
— Vai o cacete!
— Vai, sim!
— Qué sabê, Zará? Vou chegá lá in casa e inchê aquela vaca de tiro. Num vô deixá ela fazê mandinga preu mi ferrá, não!
— Ficou tantã, cara? Matá mulhé nada! Fica na sua, o erro é seu...
— Mas ela não cansa de falá nas cem mil pratas. Diz qui vai comprá uma carroça motô mil e rôpa de grifi. Diz qui vorta pro sertão de Juazeiro ricaça e viúva. Vaca! Vou matá ela inda hoje!...
— Num faz isso Zorô!... É só brinqueira dela...
— Sabe cumé qui os colegas tão dizendo qui é selviço de rua?
— Não Zorô.
— Jesus tá chamando!...
— Jesus tá chamando?... É assim?
— E inda ficam falano nus canto qui muntos colegas pedem pra servir em outros quarté, ou antonce pedi pra tirá selviço cum outro colega... Entendeu, Zará?
— Não, Zorô... Que isso? Ocê tá dizendo qui tem colega querendo sair cum outro pra disputá na base do “tiro amigo” a muié du próximo?
— Tiro inimigo, Zará. A muié já é dos dois. Alguns até sabe, e quem vai escolher o futuro morto é ela.
— Num credito, Zorô! Qué dizê qui ocê pode querê me matá pra ficá com a Severina?
— Que isso, amigo... A Severina é munto feia... Hehehe
— Quê? Acho qui Raimunda vai ficá viúva mermo!
— Carma, amigo, é gozeira... Ocê é meu irmão, pô. Tem nada disso.
— Antonce vô guardá o tresoitão, qui já tava na mão aqui imbaixo. Logo eu, seu amigo...
— Ai, parcero, num leve a mal e guarde a arma. Mas ocê não conhece o ditado qui diz qui é mais fácil cumê a mulé do amigo? A do inimigo pode é matá ocê. Hehehe.
— Tu num tem jeito, Zorô. Num fosse a consideração, te passava a peixeira...
— Ah, Zará, deixe de sê boboca. Temu qui tá de olho na concorrença. A Severina e a Raimunda tão inda bunitas. Vamo tomá conta das duas. Quem se assanhar, a gente arranja logo cem pratas pra muié do assanhado.
— Mas, Zorô, agenti pudia fazê um trato... Quem morrê primeiro, as cem pratas divede pru dois e fica metade pra Raimunda e metadi pra Severina. Assim nós aumenta a achance de nossas santas patroas ganhá cinqüenta pratas cada uma, morrendo eu ou morrendo ocê...
— Tá feito, cumpadi Zará, boa idéia. Tamo juntos nas cem pratas. Com um olho aberto e outro fechado até na hora de dormir. O primeiro abusado qui aparecê, fogo nele! E a morrê eu, qui morra meu amigo Zará, qui é mais velhu...Rsrsrs.
— Ah, seu cabra-de-peia. Ah, Zorô! Só te matanu... Hehehe.






— Alô
— Quem fala?
— Sou eu.
— Eu quem?
— Sou eu, bolas, o Zorô! Sabe, Zará, tem hora que eu penso que ocê é burro.
— Ah, Zorô, e ocê acauso pensa? Burro num pensa... Hehehe
— Ah, gracinha do papai. Só ocê mermo pra falá asnice. Qué sabê onde eu tô, Zará.
— Quero sim, amigo Zorô. Num fica brabo, não!
— Tô saino do Tribunal, Zará. O colega que matou o pitbull foi absorvido.
— Que colega, Zorô?
— Aquele Zará, aquele PM, segurança do filho da promotora, que matô o pitbull na polta da boiti.
— Ah, sei, Zorô. Também, se ele num mata, ia perdê a arma, ganhá uma surra e podia ter morrido e mais o filho da promotora. Esses pitbull são tudo treinado em artes marciais.
— Ah, isso é veldade, Zará. Adespois elis saem pra brigá e mostrá qui são bambambã.
— Sabi, Zorô, outro dia eu vi no quarté um PM demonstrando como tira a arma da mão dagenti na maió facilidade. Ele mandava agenti apontá a arma pra ele e atirar nele, com a arma vazia, pra não pipocar tiro. Ele mandava agenti atirá nele mermo, com raiva. E não é que a nossa arma parava na mão dele e nosso dedo do gatilho quase que quebrava, Num quebrava purque ele parava antis.
— Num brinca, Zará!
— Num tô brincano não, Zorô. E pistola? Quarqué pistola qui agenti apontava pra ele, ele tirava da mão da genti antes de agenti conseguir puxar o gatilho. E dismontava a pistola na nossa mão. E quasi qui o dedo do gatilho quebra. Qué sabê mais?
— Quero. Fale!
— O diacho do PM, rindo da nossa cara, disse qui aquilo era ténica de desarmar o desafeto, golpi di defesa pessoá infalível. E disse que quando alguém que tiver enquadrado por arma tentá se aproximá, é pra tomá a arma e atirá em ocê, depois de quebrá seu dedo, Por isso ocê deve atirá antis. Senão, morre.
— Entonce, Zará, o PM da promotora sabia que o Pitbull queria era tomá a arma dele e foi mais rápido e sabido.
— Isso, Zorô. Ainda deu dois pipocos pro alto pra pará o cara, mas o cara tava doidão e era pitbull mermo. E se o pitbull estivesse ali pago pelo Fernandinho Beira-Mar pra matá o filho da promotora? Como sabê? Adispois de vê o garoto da promotora no chão, mortinho da silva?... Ora!
— Eli ia gritá de lá de Catanduva: “Tá dominado! Tá dominado!”
— Não Zará. Ocê é burro e disinformado, hein? Beira-Mar num tá em Catanduva... Tá em Mato Grosso.
— Ah, Zorô, tanto faz! O importante é que o PM foi inocentado, o filho da promotora tá vivo, o bandido que fez ameaça de morte a ela continua preso e a humanidade não perdeu nenhum cientista.
— Veldade, Zará, nenhum Prêmio Nobel da Paz. Bem, Zará, foi bom prosar com ocê, mas vamo desligá que tá tudo no grampo. Hehehe.

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