segunda-feira, 25 de agosto de 2008

"A HONRA DOS MORTOS" - Por Silvia G. L. Alves, esposa de cabo PM.

O texto diz tudo. A mim só me resta externar a minha vergonha e a máxima indignação pelo absurdo de saber que a família do morto foi eternamente penalizada pelo sistema que acusa um morto antes de apurar as causas reais da morte em serviço, sem qualquer preocupação com as consequências familiares. A única reação que agora me vem é exclamar com veemência:

ABSURDO!!!!!

Emir Larangeira



PROJETO 200 ANOS (497) - "A HONRA DOS MORTOS" - POR SILVIA G. L. ALVES, ESPOSA DE CABO DE POLÍCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


"Os que me conhecem sabem que sou uma pessoa sem papas na língua, sem meias palavras e com um nível de sinceridade que beira a grosseria. Hoje eu não iria escrever pois cheguei de plantão pela manhã e emendei no serviço da casa e nos meus bordados, mas à cinco minutos atrás assisti no jornal da Record a mãe do policial que foi assassinado no morro do Chapadão dizer que o filho não foi enterrado com sua farda e que não recebeu o ato de serviço, ora bolas, se morrer trabalhando não é ato de serviço então eu sou uma rematada idiota que não sabe o que é ato de serviço. Chutar cachorro morto é mole, denegrir a imagem do policial depois que ele se foi e largar a família na miséria é a pior das covardias que alguém pode cometer. Se esses policiais estavam em um DPO ou PPC (seja lá o que for), dentro de uma favela, só os dois, expostos, cercados por mais de cem traficantes armados até os dentes, garanto que não era por vontade própria e tenho certeza que a recusa em assumir tal posto seria severamente punida. Me parece que a frase 'punam-se exemplarmente os culpados' está tendo um significado um pouco mais extenso do que deveria, do tipo: 'puna-se o cara de qualquer jeito, se ele morrer, puna a família'. Deixar de receber o ato de serviço quando de serviço é a maior das contradições que já ouvi. A cada dia que passa mais sinto que a PMERJ pouco se importa com os seus homens e menos ainda com as famílias desses homens. Vocês sabiam que sem o ato de serviço a família deixa de receber o seguro? Não que numa hora como essa alguém vá pensar em dinheiro, mas daqui a algum tempo, quando o cinto começar a apertar e as necessidades começarem a aparecer, caso ela não tenha uma família que possa ajudar, será mais uma viúva que, junto com seus filhos, estará na porta do batalhão aguardando a ajuda dos reais amigos de seu marido. Acho que a subserviência excessiva que esse governo vem submetendo os que comandam a Polícia Militar é degradante, fiquei indignada ao ver no rosto do comandante do 9º BPM, Cel Batalha, na entrevista dada sobre a averiguação a que está sendo submetido o PM morto, que nem ele podia crer no que estava acontecendo, no que o Secretário de Segurança está fazendo com essa família. O nome que dou a esse tipo de atitude é 'sacanagem', meu marido que me perdoe, ele detesta que eu use esses termos, diz que sou muito inteligente para deixar-me macular por termos chulos, mas só termos chulos descrevem atitudes chulas. Que me perdoem àqueles que tanto se orgulham e se cobrem de honras ao pensar que ao morrer terão honras militares e salvas de tiros, sempre falei para o meu marido que homenagens são realmente muito belas quando feitas com sinceridade e pureza d'alma, sem essas qualidades as homenagens não passam de fachadas hipócritas, usadas por homens egocêntricos para iludir o populacho crédulo e esse tipo de mentira e adulação eu dispenso. Não gosto de pensar que meu marido possa partir antes de realizarmos nossos sonhos, sonhos que estamos guardando para depois de nossas aposentadorias, mas se for a vontade de Deus que ele se vá antes disso e envergando o uniforme de policial militar do qual ele tanto se orgulha, desejo que os urubus que não o honraram em vida mantenham-se longe de sua despedida pois, com certeza, eu, com a minha falta de papas na língua, sem meias palavras e com minha sinceridade sutil como uma manada de elefantes, os porei à todos de porta afora, principalmente se depois de morto em cumprimento do dever, uns e outros resolvam vilipendiar sobre seu cadáver ou manchar sua honra por ter cumprido as ordens que lhe foram designadas."
Silvia G. L. Alves

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro Comandante, admiro o senhor pelas histórias q ouço falar e pelos livors do Sr. q eu li.
Mas o senhor esqueceu de escutar o outro lado, o lado da PM, o senhor só escutou o lado da família.
Se o senhor soubesse que os dois Policiais daquela base, estavam em circustâncias altamente comprometedoras, que o outro Policial, o q foi ferido, seria envolvido com uma certa facção, que ambos estavam paisano, não podendo sequer alegarem q tinham acabado de chegar na Base, já que eram mais de 16 horas da tarde, que ninguém q foi ao resgate viu TROCA DE TIROS, que o ferimento do Policial morto estava estranho, que o outro Policial foi ferido com dois tiros de raspão. Será q se o Sr. fosse Cmt do Batalhao, será q o Sr. iria dar o ATO DE SERVIÇO?
Faço um apelo, após o Sr. ler isso, apague. Pq roupa suja, e mto suja, a gente lava em casa.
Um abraço de um Policial do 9ºBPM que luta e tenta honrar a farda q veste, assim como o Sr.

Emir Larangeira disse...

Prezado companheiro

Não creio que deva apagar a sua explicação. Só não entendo o porquê de a PMERJ não vir a público expor mais claramente o assunto em nota oficial, permitindo assim dirimir a dúvida quanto à realidade do que houve no Chapadão. Em especial, esclarecendo a realidade do que havia antes e permaneceu até o desfecho trágico. Não defendo quem não tem razão, mas vejo esse episódio com muita estranheza, embora eu saiba que o atual comandante do 9º BPM é um oficial digno e justo.
Obrigado pela participação e aguardo maiores esclarecimentos. Não gosto de cometer injustiças contra ninguém e não compactuo com o crime. E não me envergonha reconhecer algum erro de avaliação e vir a público assumir, se for o caso. Dependo disso para ter credibilidade, bem inalienável, que me garante ser lido por muita gente.

Abraços.

Emir