J.R. GUZZO*
EM DESMANCHE
Circulou no noticiário um pensamento muito
interessante que o novo presidente, Jair Bolsonaro, expressou durante uma
conversa com a também nova deputada Janaina Paschoal. "O importante não é
o que vamos fazer", disse ele, "mas o que vamos desfazer." O
Brasil será um país a caminho da felicidade se Bolsonaro estiver mesmo pensando
assim — e, principalmente, se conseguir até o fim do seu mandato desmanchar
metade do que imagina que precisa ser desmanchado. O país, caso essa visão se
transforme em realidade, fará mais progresso em seu governo do que fez nos
últimos cinquenta anos. Já aconteceu com o Mais Médicos, que sumiu antes mesmo
de o novo governo começar. Continuará a acontecer? É claro que muita gente pode
perguntar: como assim, se há tanta coisa que precisa ser feita, e com tanta
urgência? Simples: isso tudo deverá vir naturalmente, no espaço deixado pela
monstruosa montanha de entulho que foi jogada em cima da sociedade brasileira
nos últimos quinze anos. Pense um minuto, por exemplo, no "trem-bala"
dos presidentes Lula e Dilma. Não existe trem-bala nenhum. Nunca existiu. Nunca
vai existir. A única coisa que existiu, aí, foi a transferência de dinheiro do
seu bolso para o bolso dos empresários do "campo progressista". Mas
até hoje continua existindo a empresa estatal legalmente constituída para
cuidar do "projeto". Chama-se EPL, tem diretoria, 140 funcionários,
orçamento de 70 milhões de reais e por aí afora. Nenhum país no sistema solar
pode dar certo desse jeito.
A escolha é clara: ou o Brasil progride, cria
riquezas, cria empregos, gera e distribui renda com o desenvolvimento da
atividade econômica produtiva, ou tem o trem-bala de Lula e Dilma. É uma coisa
ou a outra: não dá para ter as duas ao mesmo tempo. Também não dá para melhorar
a vida de um único pobre, um só que seja, doando 1,3 milhão de reais de
dinheiro público à cantora Maria Bethânia, para que ela declame poemas num blog
pessoal, em clipes produzidos pelo diretor Andrucha Waddington. Não será possível
ir a nenhum lugar enquanto continuar existindo a TV Brasil, invenção de Lula
que custa I bilhão de reais por ano, emprega mais de 2000 amigos do PT e tem
zero de audiência. Que mais? Mais de mil coisas, ou sejam lá quantas forem, que
a segunda parte do governo Dilma — este que está aí, com o nome de
"governo golpista" de Michel Temer — deixou intactas para você pagar.
Tirem esse lixo todo daí e o Brasil dará um salto. Ou o Brasil progride, cria
riquezas, ou tem o trem-bala de Lula e Dilma.
A verdade, para simplificar a história, é que
o país se prejudica muito mais com as coisas que o governo faz do que com as
coisas que não faz. Eis aí: o ideal, mesmo, seria um governo que não fizesse
nada do que não precisa ser feito. O Brasil não precisa de Plano Quinquenal.
Não precisa de "obras estruturantes" nem de "políticas públicas".
Não precisa da Refinaria Abreu e Lima, pela qual você está pagando 20 bilhões
de dólares desde o início do governo Lula — dez vezes mais do que estava orçado
— e que até agora não ficou pronta. (Essa era a tal em que fizeram a Petrobras
ficar sócia da Venezuela de Hugo Chávez, que nunca colocou um único tostão na
obra.) Não precisa de PAC — um monumento mundial à roubalheira, à incompetência
e à mentira. Não precisa de pirâmides como a Copa do Mundo, ou a Olimpíada, com
estádios e uma Vila Olímpica inteira hoje afundando no chão, porque roubaram no
material, no projeto e em tudo o que foi humanamente possível roubar — sem que
nenhuma alma em todo o majestoso Estado brasileiro ficasse sabendo de nada. O
teste mesmo é o seguinte: o Brasil estaria melhor ou pior se não tivesse feito
nada disso?
Num pais em que uma empresa pode gastar 2000
horas por ano só lidando com as exigências que o governo inventa para arrecadar
impostos — e quando se vê que essas 2 000 horas significam 83 dias de 24 horas,
inteiramente perdidos, sem que se produza um único alfinete dá para se ter uma ideia da ruína em que
colocaram o Brasil. Se o governo desfizer isso, simplesmente desfizer, será
melhor ou pior? Fala-se aqui, singelamente, das aberrações mais estúpidas.
Espere até chegarem os problemas realmente elasse AAA, goldplatinum-plus — como
a constatação de que 50% de todos os gastos federais vão unicamente para a
Previdência Social, e que o grosso disso é engolido o pagamento das
aposentadorias dos funcionários públicos — sobretudo da elite de gatos gordos.
(Esses são os "direitos" que não podem ser tocados.) Será inútil,
simplesmente, querer montar alguma coisa de útil no Brasil enquanto não se
desmontar esse ambiente de demência.
*José Roberto Guzzo é do Conselho Editoral da Abril e colunista das revistas "Exame" e "Veja".
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