sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A história se repete...




Quem conhece o gramscismo enxerga de pronto a floresta que se oculta atrás da árvore representada pelo singelo cartaz. Bem bolado, por sinal, porém malicioso, bastando ver a trupe apresentada como palestrante, formada por reconhecidos esquerdistas que atuam em diversos campos de atividade, inclusive em algumas que ultrapassam os limites da ideia e se assumem em suas controvertidas práticas. Tudo bem, que assim seja desde que haja espaço para contestações, respeitando, claro, o seleto grupo que reúne desembargadores, juízes, professores, chargistas, delegados de polícia, antropólogos e jornalistas, alguns dos quais assumidos militantes de partidos de esquerda.

Ocorre, porém, que lá está o PM encarnando a figura despótica do Estado, a “Geni” de sempre, pior é que por conta exatamente do que ela faz na prática, ou seja, distribui pancadas em trabalhadores que se manifestam e até em seus próprios colegas de farda e coíbem pessoas em blitze muitas vezes desnecessárias, mas que incomodam mais que contribuem para conter a criminalidade. Pois o pressuposto da PM daqui e d'algures é o de que entre dezenas cidadãos honrados e devidamente “peneirados” possa haver um bandido, o que justificaria o seu papel opressor de quem não merece opressão.

Deste modo fica fácil associar a imagem do PM, e da PM, com um Estado literalmente falido no seu papel de promotor do desenvolvimento por meio de uma segurança individual e comunitária realmente cidadã. Ah, mas diriam muitos que no Brasil não há espaço para “bobby londrino” porque a sociedade merece a desconfiança do Estado opressor, e talvez mereça, ou não mereça, não sei. Só sei que o sistema situacional estatal, com suas medidas de controle da população baseadas na vigilância e na punição (radares, Lei Seca, blitze etc.), - sem preocupação em se utilizar de um sistema focado na exceção, mas voltado para a regra geral de que o cidadão brasileiro é fundamentalmente mau em vez de basicamente bom, - um sistema coercitivo assim não sugere nenhuma justiça. Muito em contrário, aponta para uma coercibilidade a funcionar como barata tonta, campo fértil ao avanço das críticas, eis que ignora o Estado Democrático de Direito. Ora bem, na verdade ele inexiste ou jamais houve na convivência social pátria. Daí se entender as reações contra o status quo do modo como sugere o cartaz, que, por sinal, destaca as pessoas certas.

Claro que o evento será um sucesso, e por mais que me doa ver um PM fardado representando o que poderíamos tachar como a figura do mal maior diante de Cristo, por mais que me doa devo crer que faz sentido criticar o Estado expondo-o ao extremo ridículo por meio da figura fardada do PM. Enfim, não creio que o PM se amofine com isto porque a crítica que virá cairá na vala comum de quem está perdendo o jogo político, pois é certo que as esquerdas politicamente representadas pelo PT e seus penduricalhos amargam fragorosa derrota por conta da “Operação Lava a Jato”, de modo que, lembrando o mestre Bezerra da Silva, “se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”.

De modo que a propaganda gramscista, que não pode parar, tenta se safar se utilizando de pessoas notórias e até então imaculadas, não digo que como o Cristo Redentor, que não merecia mais esta ofensa sob a forma de “sofisma repintado” pelo excelente cartunista ora renomeado, fato nem tão inédito para quem tem boa memória e lembra onde penduraram seu outro quadro com a imagem do Cristo sendo metralhado por um PM. Enfim, uma provocação a mais que a PMERJ faz por merecer em virtude de sua submissão a um poder político-burocrático-midiático efetivamente podre dos pés à cabeça.


Ora, para começo e fim de papo, ninguém gosta mesmo de PMs, só seus pares, amigos e familiares; nem mesmo seus superiores demonstram gostar dos que moram no andar de baixo. E assim eles, os PMs, seguem a sua sina, que é a de bater e apanhar sem muita noção de legitimidade ou legalidade, pois, como sugere a nova charge, o Estado é o “senhor” e o PM é seu “capitão do mato”, este que sempre será subserviente, odiado e temido... e jamais amado... E como ponto final desta alegoria gramscista, eu a rebato com um poema do magnífico poeta Salgado Maranhão, - mundialmente reconhecido, Prêmio Jabuti de Poesia, - poema que foi a mim gentilmente dedicado e com o qual encerro esta chiadeira de PM sentindo-se sacaneado:


Farda





(Salgado Maranhão)



Melhor se se chamasse fardo,

em vez de farda, – esse travel

cheque para o sacrifício –

a defender o indefensável.



Melhor se se chamasse alvo:

mural da ira acusadora

contra os próprios personagens

que lhe julgam protetora.



São, normalmente, pretos, pardos,

Pobres, sobras de etnias:

gente fabricada em série,

que ao perder, tira se outra via.



E prossegue o ritual

desse espetáculo de horrores,

de Caim matando Abel

numa guerra sem vencedores.



E prossegue essa torrente

do sangue que não socorre,

o drama de ser ver morrer,

do lado de onde sempre morre.

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