Quem
conhece o gramscismo enxerga de pronto a floresta que se oculta atrás da árvore
representada pelo singelo cartaz. Bem bolado, por sinal, porém malicioso,
bastando ver a trupe apresentada como palestrante, formada por reconhecidos
esquerdistas que atuam em diversos campos de atividade, inclusive em algumas que ultrapassam os limites da ideia e se assumem em suas controvertidas práticas.
Tudo bem, que assim seja desde que haja espaço para contestações, respeitando,
claro, o seleto grupo que reúne desembargadores, juízes, professores, chargistas,
delegados de polícia, antropólogos e jornalistas, alguns dos quais assumidos militantes
de partidos de esquerda.
Ocorre,
porém, que lá está o PM encarnando a figura despótica do Estado, a “Geni” de
sempre, pior é que por conta exatamente do que ela faz na prática, ou seja,
distribui pancadas em trabalhadores que se manifestam e até em seus próprios
colegas de farda e coíbem pessoas em blitze muitas vezes desnecessárias, mas que
incomodam mais que contribuem para conter a criminalidade. Pois o pressuposto da
PM daqui e d'algures é o de que entre dezenas cidadãos honrados e devidamente “peneirados”
possa haver um bandido, o que justificaria o seu papel opressor de quem não
merece opressão.
Deste
modo fica fácil associar a imagem do PM, e da PM, com um Estado literalmente
falido no seu papel de promotor do desenvolvimento por meio de uma segurança
individual e comunitária realmente cidadã. Ah, mas diriam muitos que no Brasil
não há espaço para “bobby londrino” porque a sociedade merece a desconfiança do
Estado opressor, e talvez mereça, ou não mereça, não sei. Só sei que o sistema
situacional estatal, com suas medidas de controle da população baseadas na vigilância e na punição (radares, Lei Seca, blitze etc.), - sem
preocupação em se utilizar de um sistema focado na exceção, mas voltado para a
regra geral de que o cidadão brasileiro é fundamentalmente mau em vez de
basicamente bom, - um sistema coercitivo assim não sugere nenhuma justiça. Muito em contrário, aponta para uma coercibilidade a funcionar
como barata tonta, campo fértil ao avanço das críticas, eis que ignora o
Estado Democrático de Direito. Ora bem, na verdade ele inexiste ou jamais houve
na convivência social pátria. Daí se entender as reações contra o status quo do modo como sugere o cartaz,
que, por sinal, destaca as pessoas certas.
Claro
que o evento será um sucesso, e por mais que me doa ver um PM fardado
representando o que poderíamos tachar como a figura do mal maior diante de
Cristo, por mais que me doa devo crer que faz sentido criticar o Estado
expondo-o ao extremo ridículo por meio da figura fardada do PM. Enfim, não
creio que o PM se amofine com isto porque a crítica que virá cairá na
vala comum de quem está perdendo o jogo político, pois é certo que as esquerdas
politicamente representadas pelo PT e seus penduricalhos amargam fragorosa
derrota por conta da “Operação Lava a Jato”, de modo que, lembrando o mestre
Bezerra da Silva, “se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão”.
De
modo que a propaganda gramscista, que não pode parar, tenta se safar se
utilizando de pessoas notórias e até então imaculadas, não digo que como o
Cristo Redentor, que não merecia mais esta ofensa sob a forma de “sofisma
repintado” pelo excelente cartunista ora renomeado, fato nem tão inédito para
quem tem boa memória e lembra onde penduraram seu outro quadro com a imagem do
Cristo sendo metralhado por um PM. Enfim, uma provocação a mais que a PMERJ faz
por merecer em virtude de sua submissão a um poder político-burocrático-midiático efetivamente podre
dos pés à cabeça.
Ora,
para começo e fim de papo, ninguém gosta mesmo de PMs, só seus pares, amigos e
familiares; nem mesmo seus superiores demonstram gostar dos que moram no
andar de baixo. E assim eles, os PMs, seguem a sua sina, que é a de bater e
apanhar sem muita noção de legitimidade ou legalidade, pois, como sugere a nova
charge, o Estado é o “senhor” e o PM é seu “capitão do mato”, este que sempre
será subserviente, odiado e temido... e jamais amado... E como ponto final desta alegoria
gramscista, eu a rebato com um poema do magnífico poeta Salgado
Maranhão, - mundialmente reconhecido, Prêmio Jabuti de Poesia, - poema que foi a mim
gentilmente dedicado e com o qual encerro esta chiadeira de PM sentindo-se sacaneado:
Farda
(Salgado
Maranhão)
Melhor se se chamasse fardo,
em vez de farda, – esse travel
cheque para o sacrifício –
a defender o indefensável.
Melhor se se chamasse alvo:
mural da ira acusadora
contra os próprios personagens
que lhe julgam protetora.
São, normalmente, pretos, pardos,
Pobres, sobras de etnias:
gente fabricada em série,
que ao perder, tira se outra via.
E prossegue o ritual
desse espetáculo de horrores,
de Caim matando Abel
numa guerra sem vencedores.
E prossegue essa torrente
do sangue que não socorre,
o drama de ser ver morrer,
do lado de onde sempre
morre.
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