segunda-feira, 10 de julho de 2017

RIO VIOLENTO - "Jovens negros e pardos, de quarta a sexta-feira: veja quem e como a polícia do Rio mata em confronto"



Matéria do Jornal EXTRA de 09 de julho de 2017




Quatro a cada cinco suspeitos mortos em confronto com a polícia no Rio são negros ou pardos. Além disso, dois terços das vítimas de autos de resistência no estado têm menos de 25 anos — dessas, uma a cada três é menor de idade. O levantamento foi feito pelo EXTRA com base em um conteúdo exclusivo obtido via Lei de Acesso à Informação junto ao Instituto de Segurança Pública (ISP) e abrange o período entre janeiro de 2007 e o dia 12 de junho deste ano (pouco mais de uma década, portanto).
Ao longo desses dez anos, cinco meses e 12 dias, aconteceram, ao todo, 7.939 homicídios decorrentes de intervenção policial em território fluminense, o equivalente, em média, a pouco mais de dois casos por dia. As vítimas são hegemonicamente homens, com somente 41 mulheres surgindo na análise.
Cerca de 27% das mortes, segundo o informado nos registros de ocorrência da Polícia Civil, se deram em “morros ou favelas”. O percentual de óbitos em comunidades, porém, pode ser ainda mais alto, já que a enorme maioria dos registros descreve o local do fato apenas como “via pública”.
Na lista dos bairros com mais autos de resistência no período, todos os dez primeiros colocados ficam nas zonas Norte e Oeste da capital. Despontam regiões com favelas que aparecem entre as mais conflagradas do Rio — Bangu, com a Vila Aliança e a Vila Kennedy; Santa Cruz, com a Favela do Rola; Bonsucesso, com o Complexo da Maré; Costa Barros e Pavuna, com o Chapadão, entre outras.
As mortes em confronto ocorrem 33% mais no primeiro semestre do ano do que no segundo. Do mesmo modo, o período da semana entre quarta e sexta-feira concentra o maior número de autos de resistência. A faixa horária é mais bem dividida: apenas a madrugada, entre 0h01 e 6h, quando há menos operações policiais, apresenta uma queda considerável — veja mais no infográfico abaixo.

‘Reflexo do despreparo’
Coronel da reserva da PM e ex-corregedor da corporação, o coronel Paulo Cesar Lopes vê o elevado número de autos de resistência no estado como “reflexo do despreparo policial nas abordagens”. Para o oficial, grande parte dos agentes não age de acordo com os protocolos.
— O policial só pode atirar numa única hipótese: repelir a injusta agressão contra si ou contra terceiros, de maneira proporcional e progressiva. A inobservância do que é ministrado nos cursos de formação é determinante para o alto número de mortes em confronto — analisa o coronel.
Já a cientista social Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, vinculado à Universidade Cândido Mendes, vê relação entre as estatísticas e indicadores socioeconômicos.
— A ação policial é orientada por mais tiros e menos zelo com a vida nas áreas mais pobres e negras, sobretudo as favelas — diz a professora.
Veja, abaixo, a íntegra da nota enviada pela Secretaria estadual de Segurança (Seseg)
“A Secretaria de Estado de Segurança tem como principais diretrizes a preservação da vida e dignidade humana, o controle dos índices de criminalidade e a atuação qualificada e integrada das polícias. Tais princípios deixam evidente que a orientação do secretário Roberto Sá não está voltada para uma política de confronto.
Para tanto, o secretário Roberto Sá mantém interlocução permanente com os comandos das polícias Militar e Civil, orientando-os na busca incessante de medidas que impactem na redução dos indicadores de violência, principalmente o de letalidade violenta, inclusive a decorrente de intervenção policial. A partir de 2011, a Seseg passou a inserir no Sistema de Metas a letalidade policial como um os indicadores que compõe a letalidade violenta, estabelecendo metas para a sua redução, com monitoramento mensal.
Mesmo em um cenário econômico antagônico, sem custos aos cofres públicos, a Seseg criou medidas estruturantes como o Grupo Integrado de Operações de Segurança Pública (GIOSP), no Centro Integrado de Segurança Pública (CICC), e a delegacia especializada para o combate ao tráfico de armas, a Desarme, para atacar as causas da letalidade violenta.”





MEU COMENTÁRIO

Eu me poderia iniciar por diversas vias para comentar sobre o grave tema abordado na matéria tal e qual nado em piscina. Prefiro, porém, dar o primeiro passo afirmando que as informações do ISP, numa relação de causa e efeito, não consideram vários outros indicadores que poderiam servir para reforçar seus diagnósticos, em vez de o órgão intelectual se prender apenas a um dos efeitos da criminalidade no RJ, esta que, em contrário, é multivariada e multifacetada, não se limitando a homicídios nem à cor da pele ou à idade das vítimas, algo a meu ver óbvio na proporção exata do aumento populacional entre os que vivem em condições subumanas de vida, fruto da desigualdade social que permeia a tessitura social desde a Casa-Grande e a Senzala

Mas ainda me prendendo ao aspecto ideológico da avaliação posta na matéria; lembro também que as altas taxas de mortalidade deveriam incluir a desatenção estatal com os pobres, indigentes e miseráveis, que, independentemente da existência da violenta criminalidade, morrem às pencas nos corredores de hospitais públicos carcomidos em razão sistemática roubalheira, ou morrem em casa e nas ruas por não terem acesso aos remédios que lhes poderiam minorar o sofrimento e estender o seu tempo de vida, embora com com qualidade mínima.

O assunto, em linhas gerais, é o aumento da morte por PAF (confrontos, autos de resistência, assassinatos etc.), sem, entretanto, fixar-se a informação nalgum dado comparativo mais concreto. Por exemplo, qual teria sido o crescimento populacional no período, levando-se em conta a cor da pele e a evolução da idade das vítimas em relação ao todo demográfico, ou ao sexo das vítimas em relação aos mesmos paradigmas? Todavia, em carecendo a matéria de tal detalhamento, obriga-me a afirmar que há nela forte dose de desinformação.

Assim afirmo porque a matéria se prende ao aspecto ideológico de um meio de comunicação que apenas marca posição como afinado com o pensamento dito “progressista” ou “de esquerda”, deste modo reforçando no imaginário da periferia e das favelas a falsa ideia de que a polícia é “braço armado da direita” destinado a eliminar a tiros os pobres, pardos e pretos.

Porque essa massa de manobra precisa ser convencida a votar contra o sistema situacional capitalista injusto para com essa imensa população de eleitores abaixo da linha de pobreza. E porque são eles, os pobres, pretos e pardos, que decidem eleições neste país desigual desde a sua origem, e que, governado pelas esquerdas há mais de duas décadas, o estado nada mais fez que aprofundar a desigualdade, hoje também assolada por um desemprego da ordem de 13 milhões de brasileiros, dentre outros fatores de falência estatal no âmbito da saúde, da educação etc. Pois, se a má gestão desse estado interventivo em demasia é inegável  no seu aspecto geral, não há de ser diferente na segurança pública, tão afetada por ideologias e preconceitos insanos.

Por derradeiro, sugiro a leitura do livro O CRIME, de Manuel López-Rey, juiz espanhol, criminalista, professor de criminologia e pesquisador da ONU sobre a evolução do crime no mundo. O texto está disponível na internet e é de domínio público, assim como é fácil adquirir exemplares por esta via.

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